Crítica sobre o filme "Quebrando a Banca":

Wally Soares
Quebrando a Banca Por Wally Soares
| Data: 30/09/2008

Nerds e gente fina de uma faculdade prestígiada de Boston quebram todas as regras e dominam os cassinos de Las Vegas. Nada mais cool não? E é exatamente essa palavra que posso utilizar para descrever este divertido e descompromissado 21 que, apesar de muito falho, consegue cativar a audiência, mantê-la atenciosa por mais ou menos duas horas e ainda manipular com revira-voltas ao final típicas do gênero, mas simplesmente irresistíveis. Esse é daquele filme onde as falhas são mais visíveis que buracos em queijo suiço, mas é prazeroso demais de se assitir e, portanto, jogamos a lógica pela janela na maioria dos momentos, ao lado do senso crítico, claro. Mas como não gosto (e não posso) desligar o cerébro, gostei do filme por causa do divertimento e alguns outros aspectos claramente louváveis ao longo da narrativa. O filme é um exercício competente em diversão e estilo, mas falha modestamento como exercício de cinema. Ainda assim, o filme é legal demais para ser descartado.

O roteiro linear e nada ousado apresenta ao longo da sessão típos, clichês, um romance obrigatório e claro, aqueles revira-voltas doidos ao final que, se forem bem analisados, se revelam extremamente podres. Superficialmente, porém, são tão divertidos como foram criados para ser. Ou seja, Quebrando a Banca cumpre o que promete, ele só não supera nenhuma expectátiva. O visual é charmoso demais, com cenários bem planejados, uma fotografia cativante e uma edição divertida que molda a estilizada estética para trabalhar a favor da história, nunca se extravagando. Ajuda a conquistar a audiência, ao lado da trilha sonora genuína, a energia sempre admirável e empolgante e, claro, um elenco em total sincronia. Pode ser que ninguém do elenco - com exceção de Jim Sturgess - esteja ótimo, mas todos funcionam bem, divertindo e cativando, fazendo o possível dentro dos limites de seus personagens manjados. Kevin Spacey surge podendo cair completamente na caricatura e odeio dizer que ele chega terrívelmente perto, mas eu consegui me diverti com ele, que faz um típo de personagem gostoso de ver personificado por um ator como Spacey, que já impressionou tanto durante sua carreira.

Mas uma das grandes virtudes do filme é Sturgess, ator nato revelado em Across the Universe, ele mostra aqui que sua habilidade excepcional de cantar não era usada como artifício para melhorar sua atuação. Ele não só sabe atuar, mas tem carisma, charme e conquista a audiência, mesmo que seu personagem (obviamente) caia em armadilhas do roteiro a todo momento, o que acaba irritando um pouco os mais exigentes. Um garoto estudioso e humilde tentando conquistar seu espaço se compromete no jogo de trapaças em Las Vegas para estudar e acaba extrapolando os seus limites. Foi apenas polido, mas é o mesmo personagem de muitos filmes por aí. Ele vence, ele desfruta, ele extrapola, ele sofre e no final, ele dá a virada. No meio de tudo isso, diversão, estilo, romance, um humor bem charmoso e no fim de tudo, satisfação. Afinal de contas, não iriamos querer um final infeliz não é mesmo? Mesmo que fosse atípico, o que seria um alívio depois da sessão bem típica, não teria feito sentido algum. O prazer é seguir a jornada de Ben Campbell, mesmo esta sendo conduzida sem novidades pelo diretor, o mesmo do fraco e igüalmente manjado A Sogra.

Resumindo, a melhor maneira de se assistir ao filme é descompromissadamente. O efeito é completamente passageiro e ele é bom enquanto dura. Você sai da sessão e ele evapora de sua mente. Apesar de seguir o poltiicamente correto ao final, o roteiro se restringe ao não forçar lições de moralidade e o filme fica conseqüentemente mais leve (e melhor). As duas horas são deliciosas. Você tem aquele sentimento de que tudo poderia ter sido mas enxuto, não precisando ter muitas cenas, mas eu achei impossível resistir. É aquela história contada com estilo e charme que não só convence mas entretem. Sturgess adiciona tanta autênticidade no personagem que ele funciona, e ainda consegue bolar plausível química com Spacey e Bosworth. Sem ele, talvez o filme não teria sido tão legal. Luketic precisa aprender que polimento não desmancha estragos profundos e os roteiristas precisam cair na real e esquecer de marcar suas cartas. O jogo aqui é um que empolga, mas com todos os jogadores de cartas marcadas e as apostas muito baixas, a qualidade simplesmente cai.