Crítica sobre o filme "Acompanhante, O":

Edinho Pasquale
Acompanhante, O Por Edinho Pasquale
| Data: 02/10/2008
O Acompanhante é um destes filmes surpreendentes. Eu não tinha ouvido falar nada dele, mas ouvi recomendações em um site que costumo frequentar. Pois isso foi o suficiente para ir atrás dele e, quando vi o elenco com Woody Harrelson (que adoro!), Kristin Scott Thomas, Lauren Bacall (estupenda com seus 83 anos!), entre outros, pensei: “Uau, tenho que assistí-lo logo!â€. Depois é que fui ver o diretor - Paul Schrader - e fui saber da história. Fascinante. Um roteiro de primeira de Schrader (que escreveu antes clássicos como The Yakuza, Taxi Driver, Gigolô Americano, entre outros) e umas interpretações que valem o tempo dedicado ao filme.

Talvez seja um exagero dizer que Paul Schrader conseguiu, com seu roteiro, fazer aqui um filme ao estilo de Oscar Wilde, mas quase. Da produção do cinema mais comercial recente, eu diria que esse é um dos poucos filmes que critica tão cinicamente os “bastidores†do poder político e de dinheiro, especialmente de Washington, a capital do todo-poderoso Estados Unidos.

É muito interessante o jogo de sigilo, confiança e traição que os personagens principal jogam. Para começar, gostei da ironia de focalizar a história em um “acompanhante†de mulheres ricas e poderosas, mas sempre à sombra de seus maridos que, eles sim, aparecem na mídia como políticos influentes ou empresários poderosos. Afinal, essas mulheres são da espécie que pode definir o futuro de um país ao esconder segredos de alcova e segredos de poder que ninguém mais possui. E nosso “herói†é uma espécie de “acompanhante†destas mulheres, o homem que tem tempo de falar e jogar cartas com elas - já que seus maridos não tem esse tempo.

Fascinante o personagem de Woody Harrelson. Ele, aliás, no melhor desempenho de sua carreira. Está perfeito! Mas voltando a seu personagem: um homem que vive assombrado por seus antepassados e que, graças a sua vida atual e sempre comparado com seu pai e avô, vira chacota de parte da sociedade. Ao mesmo tempo, é “aceito†pelas rodas sociais porque tem a “linhagem†que tem (usando uma frase dita por Lauren Bacall) e porque é um homem discreto, destes que aceita levar a culpa para defender a discrição, os segredos de suas “amiguinhasâ€.

Mas ele vive uma vida dupla. Primeiro, desempenha o seu papel como “acompanhante†das mulheres ricas (o que seria uma possível tradução para “the walkerâ€), um “bon vivant†que vem de uma “linhagem†de homens admirados e respeitáveis. Depois, vive um pouco escondido a sua vida de homossexual, em uma relação um pouco complicada com o artista Emek Yoglu (o ator alemão Moritz Bleibtreu, ótimo em seu papel também). Quando ele é confrontado com a morte do amante de uma de suas amigas, passa a ter seus fantasmas expostos, seu estilo de vida dissecado e usado como madeira para a fogueira.

Interessante como os maridos destas mulheres que são o “círculo social†de Carter Page III agem na história. Estão sempre distantes, sempre ocupados com outras realidades do que aquela “vidinha mundana e superficial†que eles acreditam que seja a de suas mulheres. Interessante também ver que se confirma a teoria de que atrás de quase todos os crimes está o sexo ou o dinheiro. No caso do crime deste filme a regra se mantêm.

Mas o mais curioso de O Acompanhante é que o mistério da morte de Robbie Kononsberg é uma questão fundamental a ser resolvida mas, ainda assim, não é o principal da história. Para mim, o principal do filme é justamente a crítica que ele faz, um pouco irônica, um pouco mordaz, desses circuitos políticos e de poder de Washington, de tudo que se joga, podendo ganhar ou perder, nestes meios. Histórias que poucos ficarão sabendo mas que, na verdade, definem muitas coisas, algumas vezes influem em mais decisões do que gostaríamos de imaginar. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)