Sempre que alguém resolve adaptar uma série televisiva para o cinema eu - e a torcida do Flamengo - fico com o pé atrás. Afinal, o histórico de adaptações não deixa dúvidas: geralmente o resultado na telona se mostra inferior ao que estávamos acostumados a ver na televisão.
Sex and the City, uma das séries de maior êxito da HBO, marcou uma era na televisão e, ainda que eu não fosse uma adepta de todos os seus capÃtulos, devo dizer que o que eu assisti, aqui e ali, fez com que eu comprovasse que os idealizadores da trama realmente tinham talento. Afinal, pela primeira vez alguém tinha coragem de colocar a sexualidade feminina - em algumas de suas diferentes formas - como tema principal de uma série. Além disso, a moda e uma série de outros fatores importantes do final dos anos 90 estavam presentes na trama como temas importantes e não apenas secundários - que era o mais comum na época. O problema é que tentaram transportar a mesma originalidade da série 10 anos depois de sua estréia na tevê para os cinemas e o que descobrimos é que o quarteto de amigas perdeu um bocado de seu charme e de sua originalidade. No final do filme (que também tem um blog) a impressão que ficou para mim é que a piada perdeu o seu momento de ser contada.
Não quis contar mais sobre o filme na sinopse pelos motivos óbvios: todos querem saber se afinal a bendita Carrie casa com o bendito Mr. Big - a grande pergunta que não quis calar por boa parte da série e que ficou “sem resposta†(como se isso realmente importasse) quando ela terminou. Pois bem, no fundo o filme realmente gira em torno disso. Na verdade, inicialmente, você até pensa que esta história se resolverá logo, afinal, não demora muito para que o Mr. Big peça Carrie em casamento e para que comecem todos os mil preparativos para o tal grande dia.
O problema é justamente que o que parece acaba não sendo. (NÃO LEIA SE NÃO ASSISTIU AO FILME). Para ser franca, achei até que o filme vai razoavelmente bem até o tal dia do casório… depois, quando o Mr. Big resolve ter uma “crise†na hora H, o caldo realmente entorna. Para mim, a partir daÃ, tudo o que de melhor a série tinha vai para o ralo. Afinal, termina o humor e o sarcasmo da narradora, que cai em “depressãoâ€, e nem as férias com as amigas rendem boas piadas. Vamos convir que a história de “cagar nas calças†foi bem ridÃcula, vai. Mas enfim…
No fundo o filme abre mão do que a série tinha de melhor: o sarcasmo e a vontade de falar abertamente de sexo, amor, consumismo e tudo o mais que fazia o grupo destas mulheres tão diferentes se darem tão bem. Ok, o filme resolve ressaltar justamente a amizade entre elas. Até aà tudo bem, achei bacana. Mas daà a querer fazer a gente acreditar que a Samantha realmente agiria da forma que agiu… ou seja: insatisfeita com o namorado, com um baita vizinho dando sopa e ela fiel?? Huuuuummmmm, o filme acabou tornando as personagens caretas demais. Alguém pode dizer que as mulheres depois dos 40 ficam mais conservadoras e quadradas… mas será mesmo que cinco anos de diferença na vida das quatro mulheres as tornariam realmente tão diferentes do que eram antes? Admito que as pessoas se acomodam, que acabam “sossegando mais o facho†quando o tempo passa, mas a própria Samantha prova, no final, que ela não mudou. Então parece mais lógico ela dar o pé na bunda do namorado e não pular a cerca, como sempre fazia? Huuuummm, realmente acho que o que mudou foi a preocupação do produtor executivo da série e agora diretor do filme, Michael Patrick King, em agradar a gregos e troianos - o que não parecia ser exatamente a sua preocupação antes.
Resumo da ópera: o que as antes “liberadas†e independentes amigas de Nova York nos ensinavam sobre ter a rédea de suas vidas nas mãos agora ficou ofuscado pela idéia de que as mulheres realmente tem que perdoar os homens para possibilitar que o amor dê certo. Uma idéia um tanto antiga, não parece? Pois sim… fora Charlotte, que realmente vive (aparentemente) uma relação segura e feliz no casamento; e Samantha, que acaba descobrindo que realmente ser fiel não é sua praia; as outras duas amigas do quarteto acabam tendo que perdoar traições das gordas. E dizendo isso eu não quero argumentar que o perdão não é recomendado e necessário, mas que achei um pouco demais a forma com que ele surgiu de parte das duas - especialmente por parte de Carrie. Enfim, aquela cena final, com todos felizes, me lembrou demais um novelão. Algo que a série, pelo menos os episódios que eu assisti, não me fazia lembrar.
Fora o fato de que as personagens viraram “quadradas†e que perderam boa parte da graça e da originalidade, o filme peca também por personagens masculinos bastante apagados. Ok que isso já acontecia um pouco na série, mas acho que no filme esse carácter se ampliou. Não gostei do roteiro do diretor que, na minha opinião, sempre preferiu a saÃda mais fácil para os problemas das quatro amigas. Sei lá, mas acho que a vida é um pouco mais complicada e interessante do que o que ele tenta mostrar - e imagino que ainda mais em Nova York. Mas para não dizer que tudo é horrÃvel, gostei da trilha sonora e de boa parte do figurino - caracterÃsticas que também marcavam a série.
Além dos atores já citados, vale comentar a participação de Jennifer Hudson como Louise, a assistente vinda de St. Louis que acaba colocando a vida de Carrie nos eixos - ainda que, até agora, eu não entendi realmente porque ela precisava de uma assistente; David Eigenberg como Steve Brady, o marido de Miranda; Evan Handler como Harry Goldenblatt, o marido de Charlotte; Jason Lewis como Jerry Jerrod, mais conhecido como Smith, o ator e namorado aparentemente fiel de Samantha; e Gilles Marini como Dante, o vizinho “boazudo†de Samantha.
Segundo as informações do estúdio,
Sex and the City, o filme, teria custado aproximadamente US$ 65 milhões. Apenas na semana de estréia nos Estados Unidos a produção já tinha faturado US$ 56,8 milhões. Nada que uma boa propaganda não ajude a vender, não é mesmo? Até o dia 17 de agosto o filme tinha arrecadado pouco mais de US$ 152 milhões somente nos Estados Unidos. Resultado: os produtores já divulgaram que o filme terá uma continuação. Ai que medo!
Para quem não se lembra ou caiu meio que de “páraquedas†no que é
Sex and the City, relembro que tudo surgiu em 1998 pelas mãos de Darren Star. No inÃcio, a série reunia quatro amigas muito diferentes que se encontravam para compartilhar de suas histórias mais Ãntimas - especialmente em suas buscas pelo amor e todos os problemas que advém deste tipo de procura. Declaradamente consumistas dentro de realidades bem diferentes, estas mulheres passaram por histórias das mais engraçadas. A série durou de 1998 até 2004 e, neste tempo, ganhou um total de 44 prêmios - incluindo oito cobiçados Globos de Ouro e sete Emmy. Ela foi indicada ainda a outros 125 prêmios - algo impressionante. A série foi um marco na questão da moda e na reflexão sobre a liberdade sexual feminina - em uma época em que poucos tratavam o tema de forma tão aberta. A atriz Sarah Jessica Parker se consagrou através da série, assumindo a postura de Ãcone de moda e estilo no final dos anos 90 e inÃcio dos anos 2000. As outras atrizes também ganharam fama com
Sex and the City, assim como Chris Noth e Willie Garson, os únicos atores que participaram da série desde a primeira temporada - ainda que eles tenham conseguido uma projeção muito menor que elas, afinal, essa é uma série de “meninasâ€.
(Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog CrÃtica (non)sense da 7Arte)