Crítica sobre o filme "Incrível Hulk, O":

Wally Soares
Incrível Hulk, O Por Wally Soares
| Data: 10/10/2008
O indevidamente massacrado filme sobre a figura monstruosa do Hulk, dirigido pelo visionário Ang Lee há cinco anos, abordou o quadrinho com uma perspectiva até então inédita. O filme de Lee era um sobre os conflitos internos do monstro e o médico que residia dentre dele, deixando de lado o foco habitual de blockbusters neste estilo: a ação. O novo filme do herói eqüilibra a situação. O filme, agora conduzido por Louis Leterrier, conhecido pelo exageradíssimo filme de ação Carga Explosiva e por Cão de Briga, deixa de lado introduções e a habitual preparação e já começa com um Bruce Banner prestes a iniciar uma caçada adralinesca pelas favelas do Rio. A intenção do filme de início não soou muito clara para mim. Eu não sabia se iria começar do zero ou se continuaria na situação que o primeiro terminou. O roteirista preferiu a segunda opção, me decepcionando um pouco, visto que começamos a assitir ao novo filme sem ter muita certeza onde deveriamos nos situar, principalmente com tudo renovado: atores, visual e elementos narrativos.

Em outras palavras, o filme é uma sequência não oficial do longa mais cerebral de Lee, colocando o personagem em um filme mais cheio de ação e perigo. De certa forma, eu prefiro o filme de Leterrier, que não abandona completamente os conflitos internos do doutor/monstro, mas prefere mesmo abordar seus conflitos externos, seja a ameaça militar, ou o perigoso ato de fazer amor. Em contraponto, acho que as duas obras são complementares uma a outra, mesmo que ambos não demonstrem, ao final, serem grandes obras. Lee teve um filme mais introspectivo e sua estrutura foi genial, capturando o espírito dos quadrinhos muito bem. A versão de Leterrier é mais ágil, suja e realista, mesmo introduzindo elementos monstruosos e referências aos quadrinhos bem legais, incluindo uma última cena que faz uma ponte genial com o superior Homem de Ferro. O Incrível Hulk possui algumas valiosas cenas. Seja as de ação (tirando a de seu clímax, que deixou a desejar) e algumas dramáticas, que são movidas, em especial, pelo talento de Edward Norton.

Norton lidera o elenco muito bem. Seu Bruce Banner é um melhor que o de Eric Bana talvez por soar mais natural. Por outro lado, sua naturalidade e esperteza em cena não é correspondida por Liv Tyler, que está bem deslocada no papel. Apesar de seus momentos, ela por sua vez não possui a intensidade que Jennifer Connely trouxe anteriormente. Gostei bastante, porém, de Tim Roth, como um vilão bem eficiente e William Hurt, como o general. Foi um casting competente. Eles entregam mais vida aos personagens quando o roteiro costuma falhar. Mas Zak Penn fez um trabalho admirável, ao menos em criar uma trama com a qual podemos facilmente nos identificar e abordar elementos da vida dura de Banner que funcionam. Leterrier já é um cineasta de cenas únicas. Uma das minhas ressalvas com o filme é que a estrutura em sí do filme não me empolgou muito. A empolgação de momentos era substituída pela irregularidade de outros, e por assim vai.

De qualquer forma, O Incrível Hulk é um ótimo filme de ação, um admirável filme de super-herói e bom cinema, acima de tudo. Ele tem suas falhas e confesso que muitas não me permitiram aproveitar a fita por completo. O clímax, por exemplo, é um que não me empolgou. A ação exagerada não me conquistou como as outras duas espetáculares do longa. Mas também o longa não é um tecnicamente impecável. Os efeitos especiais são bons mas nunca perfeitos. O tom rebuscado e sujo serve para deixá-lo mais realista, mas ainda assim não entrega aquele tom estilizado do primeiro Hulk. O filme entretem, e isso é bem importante. Divertido, com pitadas de humor, ação gratificante e atuações valiosas do elenco. Um exemplar recomendado, sem dúvida. Mas numa briga com os mais novos filmes de super-heróis do pedaço, ele perde. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)