Crítica sobre o filme "Sem Medo de Morrer":

Edinho Pasquale
Sem Medo de Morrer Por Edinho Pasquale
| Data: 08/10/2008
Os Estados Unidos sofre com algumas chagas. Se a Alemanha insiste em lembrar os crimes nazistas, os Estados Unidos parece sempre querer relembrar os seus assassinos em série e/ou demais loucos que acabam matando gente inocente. Dentro deste “universoâ€, acho incrível como rendem novos casos e histórias os assassinatos em colégios, escolas ou universidades daquele país - como o de Columbine, talvez o mais conhecido caso ocorrido nos últimos anos. Pois é sobre um caso destes que gira a história de Sem Medo de Morrer. Até assistir ao filme eu não tinha me dado conta que ele é o novo trabalho do diretor ucraniano Vadim Perelman, responsável anteriormente pelo interessante Casa de Areia e Névoa. Neste seu segundo filme ele volta a tratar da perda e da violência de uma maneira um bocado fora dos padrões - ainda que, para mim, desta vez ele não tenha conseguido um efeito tão interessante.

Tiros em Columbine, documentário-panfleto do diretor Michael Moore, talvez seja o filme mais conhecido sobre um massacre em uma escola dos Estados Unidos. Mas além dele existem outras produções que tratam do tema, como Elefante, filme de Gus Van Sant que ganhou a Palma de Ouro em Cannes em 2003. O único fio que une estes filmes com Sem Medo de Morrer é que todos tratam de massacres em escolas. Mas as semelhanças terminam aí.

O novo filme estrelado por Uma Thurman pretende ir além do massacre propriamente dito e busca explorar o que seria a vida de uma sobrevivente de um acontecimento trágico como este. Algo interessante é que desde os primeiros segundos, com o bonito jogo de cores e flores da parte dos créditos iniciais, o filme se apresenta como uma narrativa um tanto irreal, de sonho.

E depois esse sentido de irrealidade vai se ampliando até que descobrimos, quase no final, que o que parece ser a realidade de Diana não é nada mais nada menos que o seu “purgatórioâ€, a idéia que ela teve de um futuro que poderia ter acontecido e que nunca poderá se concretizar. Existem, claro, várias interpretações para o filme, mas não vou comentá-las aquí para não estragar surpresas (se quiser saber mais, o texto no meu blog vai mais “fundo†nas interpretações).

Na verdade, ele é um filme bem interessante. Mas tem várias coisas nele que me incomodaram um pouco. Primeiro, achei um pouco cansativo aquele frequente vai-e-vem da história para a cena do banheiro com as duas amigas e o assassino. Ok que isso se justifica pela “tomada de consciência†da personagem, mas ainda assim cansou um pouco. Depois achei um tanto desnecessária para a história uma “sutil†porém constante sugestão de um interesse sexual entre Diana e Maureen. Não sei se apenas eu percebi isso e, na verdade, a idéia de “atração†entre as personagens não ser algo planejado pelo roteirista, Emil Stern - baseado no livro de Laura Kasischke -, mas se foi planejado, sinceramente, achei desnecessário.

No fundo é um filme interessante, mas que termina sem, na verdade, ter convencido de todo. Achei que mais para a parte final do filme o roteirista e o diretor “correram†para tornar a história mais acelerada e contar rapidamente tudo o que queriam - do aborto até o desvelo do que realmente ocorreu naquele banheiro do colégio. Assim, o filme não mantêm um ritmo constante e acaba sofrendo por um pouco de atropelo. Os atores em geral estão bem nos seus papéis, com destaque para as jovens Diana e Maureen - especialmente para Eva Amurri, que me surpreendeu por seu carisma. Evan Rachel Wood acaba “levando†o filme, já que a maior parte da interpretação fica com ela - pelo menos a maior parte da “complexidade†da personagem principal acaba caindo no seu colo. Uma Thurman está bem até a parte final, quando a tal “correria†no roteiro acaba prejudicando um pouco a sua interpretação. Os demais atores realmente são secundários, inclusive a simpática garotinha Gabrielle Brennan, que interpreta Emma McFee, filha de Diana e Paul.

O filme não custou muito para os padrões de Hollywood: US$ 8 milhões. Ainda assim, até agora, teve um desempenho pífio nas bilheterias dos Estados Unidos: de abril até junho ele arrecadou pouco mais de US$ 303 mil. Um dos motivos é que o filme nunca passou de 48 salas de exibição - na maior parte das semanas ele não chegou a ser exibido nem em 10 cinemas. Pelo visto a distribuidora não apostou nele, seja pelo número de cópias (baixa) ou pela campanha publicitária. Em teoria o filme tem um tema para ser bem procurado nos Estados Unidos - ainda que a narrativa possa desagradar a muita gente. Afinal, é um filme mais focado na existência de uma pessoa do que no massacre puramente dito.

Ainda que o filme acabou não conseguindo o efeito que eu acho que ele poderia ter conseguido, o que acho interessante é que o diretor continua trabalhando em um crítica ao “american way of lifeâ€, ou seja, ao estilo de vida dos Estados Unidos. Acho importante que alguns cérebros pensantes continuem fazendo isso.

Além do diretor e do roteirista, já citados, acho importante comentar o trabalho competente do diretor de fotografia polonês Pawel Edelman e da trilha sonora do veterano James Horner. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)