Crítica sobre o filme "Mãe Para o Meu Bebê, Uma":

Wally Soares
Mãe Para o Meu Bebê, Uma Por Wally Soares
| Data: 01/11/2008
Não gosto de criar muitas expectativas em cima de certos filmes por causa de experiências passadas inconvenientes. Porém, quando li sobre o projeto que reunia o talento da genial Tina Fey com a sagacidade de Amy Poehler, fiquei automaticamente vidrado. Fey saiu diretamente do “Saturday Night Live†(onde encontrou com Poehler anos depois) para escrever o roteiro delicioso de “Meninas Malvadasâ€, ainda atuando. Recentemente, empolgou com sua nova e aclamada série cômica, onde também estrela e escreve: “30 Rockâ€. Mas, infelizmente, não notei o detalhe mais importante: “Uma Mãe para Meu Bebê†não se tratava de uma colaboração de Tina Fey, mas apenas continha seu talento à frente das câmeras. Obviamente, fiquei decepcionado e, ao fim do filme, aquela pequena insatisfação sobrevoou e me indignou. Até esse sentimento chegar, porém, é um projeto que diverte e já merece uma recomendação seja mesmo apenas pelas duas atrizes principais, muito divertidas. Ainda assim, o filme, apesar de destrambelhar continuamente, sendo atingido por raios hollywoodianos incansavelmente, esconde alguns elementos que valem uma olhada.

A automática presença das duas atrizes conhecidas pelo talento de improvisação inevitavelmente ofereceu uma virtude a mais ao filme, ou várias, por esse motivo. A química entre ambas se garante e, sempre, podemos notar que certos diálogos (muito bons) pertencem exclusivamente a elas. Portanto, se o filme tivesse focado mais a relação entre ambas e não se comprometido a entrar em outras tramas descartáveis ao longo da sessão, poderia ter rendido muito mais. O problema é quando estamos nos divertindo e somos interrompidos pela convenção batendo à porta. O pior é que quando o usual começa, ele não tem fim enquanto o filme em si não conhece o seu. E, a partir disso, é toda uma descida ladeira abaixo. O fim previsível, as emoções manipuladas e a comédia que logo se transforma em melodrama, com direito a respostas simplistas a todas as situações problemáticas surgidas ao longo da duração.

Então a resposta para se apreciar ao filme é simplesmente estar leve e não levá-lo a serio, até mesmo quando ele se esta lisonjeando. E, com as ilustres Fey e Poehler como companhia, não é tão difícil. É só se segurar ao que eles têm para entregar e esquecer dos excessos. E, quando digo excessos, falo especialmente da criatura personificada por Steve Martin, que tenta demais ser cômico e nunca consegue. Mas Greg Kinnear, por exemplo, compensa, em mais uma daqueles suas atuações leves, soltas e simplesmente boas. Claro, seu personagem representa certo clichê disfarçado, mas ao menos ele garante reação às suas ações, ao contrário de Martin. Também vale elogiar uma elegante e bem cômica Sigourney Weaver, que compõe uma personagem que sempre quando aparece garante sorrisos ou risos e, sob menor grau, Dax Shepard, um ator cômico que vem se segurando admiravelmente.

Estruturado sob um elenco competente e com timing cômico esperto, “Uma Mãe para Meu Bebê†se sai vitorioso por eles, pelos diálogos ocasionalmente ótimos e pelo clima divertido e pop, cheio de referências e uma trilha sonora excelente, revivendo diversos estilos musicais. Como mencionei, sofre do usual deboche da Hollywood convencional do gênero e, sinceramente, é o que eu menos esperava ver em um filme com as politicamente incorretas e sempre originais Fey e Poehler. Mas, mais uma vez preciso aceitar que Fey apenas atuava. Espero poder ver logo mais um trabalho seu como roteirista nas telas ou, quem sabe, como diretora. “Uma Mãe para Meu Bebê†termina como esperaríamos, cai no simplista e não garante gargalhada. Mas, ao menos cria uma boa distância entre si mesma e o lixo gradativamente mais poluente, fabricado cada vez mais excessivamente pela cidade dos sonhos. Não podemos nos dar ao luxo de sonhar quando o assunto é uma comédia leve e boba como esta, mas podemos sim nos confortar nas virtudes que possui e, se não oferece motivos para gargalhadas, ao menos entretém com risos e sorrisos. E, na verdade, já basta. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)