Crítica sobre o filme "Viagem ao Centro da Terra":

Wally Soares
Viagem ao Centro da Terra Por Wally Soares
| Data: 12/11/2008
A recepção da crítica quanto à Viagem ao Centro da Terra nos Estados Unidos foi surpreendentemente positiva, levando em conta que normalmente filmes do gênero costumam ser massacrados. Ao assistir ao filme, não entendi a recepção positiva. Fraquíssimo, o filme de estréia de Eric Brevig não empolga. Brevig, por sua vez, já foi indicado duas vezes ao Oscar por suas colaborações técnicas nas áreas de efeitos especiais, o que instantaneamente explica sua presença por trás das câmeras nesta adaptação demasiadamente ingênua do livro de um visionário Julio Verne. Viagem ao Centro da Terra foi, na verdade, concebido para ser uma atração, e não exatamente para ser cinema. O filme foi lançado na terra dos gringos em formato tridimensional, para ser rodado em cinemas que possuíam o artifício de apóio aos “revolucionários†filmes em três dimensões. Em 3-D, o filme deve ser uma atração bastante divertida, e nota-se durante a sessão como alguns objetos são inclinados a serem “jogados†na tela do espectador. Mas ao contrário de outro filme lançado no formato 3-D nos Estados Unidos, o ótimo A Lenda de Beowulf, o filme de Brevig falta um roteiro que empolgue, confiando demais nos atributos de “atraçãoâ€, e confiando pouco demais nos elementos básicos que compõem cinema de verdade.

No formato definitivo em 3-D, o filme chegou a pouquíssimos lugares no Brasil e, obviamente, em DVD ninguém terá a oportunidade de conferir a experiência verdadeira da “atraçãoâ€. Por isso, não o recomendo, tendo o conferido no formato caseiro e terminado a sessão bastante insatisfeito. O filme não é de todo um fracasso. Possui um senso de aventura (ainda que falte um de magia), e algumas cenas divertidas, sem compromissos. É, no entanto, muito pouco para um filme que falhe em tantos outros aspectos. Temos os habituais estereótipos acompanhando o roteiro, seja o adolescente revoltado que logo começa a se divertir, ou o protagonista desajustado que vai se revelando mais competente ao longo da jornada. E ainda temos claro, os clichês românticos (tinham que beijar no final!) e aquele humor incrivelmente forçado.

No elenco, encontramos pouca colaboração. Quem protagoniza é Brendan Fraser, que já oficializou sua pinta de herói brutamonte depois de três aventuras de A Múmia e a mantém nesta nova aventura, ainda que esteja nada expressivo e caindo nos exageros. Já o ótimo Josh Hutcherson, que se revelou como um talento a ser confiado depois de ABC do Amor e Ponte para Terabitia, pouco envolve com seu personagem típico. Mas ainda revela ter um carisma incontestável de bom ator, a ser compensado futuramente, pelo bem do nome dos atores adolescentes, que caem em desgraça depois de projetos talentosos (vide Haley Joel Osment). Anita Briem, a personagem feminina, tem pouco a oferecer.

O filme vai funcionar para os menos exigentes ou então, para quem tiver a oportunidade para conferi-lo em seu formato tridimensional (o que, a esse ponto, é bem improvável). E de pensar que, há alguns anos, um cineasta independente, Paul Chart, apaixonado pela obra de Julio Verne, escreveu um roteiro e ficou cotado à cadeira do diretor. Mas a maldição bateu à porta, ou seria... Hollywood bateu à porta. O desejo por um filme em 3-D afastou Chart do projeto, que temia que o artifício condensasse a obra de Verne. E, com o roteiro de Chart em mãos, o reescreveram dando ênfase nos atributos que funcionariam na experiência tridimensional. E temos, portanto, o filme hollywoodiano, falho, bobo e descartável de agora. E de pensar em como poderia ter sido uma adaptação fiel e empolgante das idéias de Verne. Impossibilitado, claro, pela habilidade execrável de Hollywood em destruir conceitos à invenção de outros. Invenções essas cujos intuitos se revelam meramente comerciais. Então, ainda que “Viagem ao Centro da Terra†tenha algumas virtudes na parte técnica e momentos divertidos isolados, falha como cinema, oferecendo um exercício em tolice para quem entra numa sala de cinema não para conferir a última atração, mas o último filme. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)