Crítica sobre o filme "Crônicas de Nárnia, As: Príncipe Caspian":

Rubens Ewald Filho
Crônicas de Nárnia, As: Príncipe Caspian Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/11/2008
Três anos após o fiel, redondo, infantil e até divertido primeiro filme sobre o mundo mágico de Nárnia conquistar gerações, surge sua continuação que, seguindo na onda da série Harry Potter, adentra um clima seguramente menos infantil e mais sombrio que da primeira aventura. Se o primeiro filme continha defeitos, ao menos possuía um senso de magia recompensador, unido ao belo visual (ainda que apresentasse efeitos ora defeituosos). Para quem se irritou com o tom demasiadamente leve do filme original, Príncipe Caspian oferece uma carregada. Começa já em um reino monárquico cercado de traições e possui uma metade final com muito mais ação que a do primeiro filme. Mas se a aventura aqui aumentou consideravelmente, o senso de magia que fez do primeiro filme o que foi caiu drasticamente, decepcionando os mais ávidos, dos quais talvez esperassem de Príncipe Cáspian um filme ainda melhor que o primeiro. Não é. Ainda assim, permanece de alguma forma no mesmo nível, equilibrando seus acertos e erros o suficiente para entregar uma sessão divertida como foi da primeira vez.

As simbologias religiosas, porém, ainda estão todas lá, ainda que em menor grau. O que já nos da uma idéia de que foi mantida certa fidelidade ao texto original de C.S. Lewis, cujos sete livros sobre o mundo de Narnia abordam mitologias diversas dialogando diretamente com fatos bíblicos. Curiosamente, um dos melhores momentos do filme (se não o melhor) reside justamente na cena mais, digamos, simbólica de todas, onde a feiticeira branca do primeiro filme surge encarnando novamente o demônio, seduzindo dois dos personagens principais a realizar um pacto com ela. O primor técnico da seqüência é admirável e, ainda em maior grau, a delícia de atuação de Tilda Swinton que, ótima na pele do mal, ofusca completamente todo o resto do elenco mirim extremamente fraco. Se o elenco juvenil da série do Harry Potter começou razoável, ao menos foram oferecendo melhorias ao longo dos capítulos seguintes. Já o elenco mirim de As Crônicas de Narnia não empolgou no primeiro e, agora, decepciona quem esperava um avanço. Estão ainda piores. As caras e bocas, a dramatização frívola e as tentativas de humor forçadas doem no espectador, que ainda precisa aturar um outro falho protagonista. Desta vez, Ben Barnes, numa atuação extremamente caricata do tal príncipe do título.

O que surge no novo capítulo com uma evolução simplesmente fantástica é a parte técnica. Desde o primeiro fomos encantados pela maquiagem meticulosa, além de uma direção de arte primorosamente deslumbrante, mas os efeitos especiais falhos e ainda superestimados pela crítica (e pela Academia) foram aperfeiçoados em Príncipe Cáspian, que possui uns dos melhores utilizo de efeitos especiais no ano. No filme relativamente grande demais, a primeira metade chega a se arrastar, com cenas desnecessárias cujo roteiro nunca consegue empolgar, mas a segunda metade já oferece maior apelo ao entretenimento, onde entram os efeitos estrondosamente especiais e cenas de ação bem construídas. No meio de tudo, porém, é inevitável não reconhecer inspirações vindas direto da série de O Senhor dos Anéis, sejam as lutas ou o aparecimento de árvores no combate nos últimos minutos da batalha.

A novo capítulo da saga em Narnia, no fim das contas, pode funcionar sob diversas maneiras. Para quem adorou o primeiro, pode acabar decepcionando e, para quem apenas gostou do original, deverá ficar no mesmo nível. Agora, pode ser que para quem não curtiu o primeiro filme (provavelmente pela alta ingenuidade e senso infantil carregado) talvez acabe por oferecer certa surpresa e algumas melhorias. Caí na primeira opção. Gostei dos dois filmes e por motivos diferentes. Príncipe Cáspian é longo demais, possui uma primeira metade bem falha e arrastada e pretensões óbvias de ser mais sombrio, ainda que caia continuamente no tom de ingenuidade. Ainda assim, é uma aventura mágica que diverte, empolga em seu último ato onde podemos nos deixar levar pelos efeitos e pelo barulho, e possui ainda alguns retoques dramáticos em vezes cativantes. O elenco ainda é um ócio, mas se não existe vida nas interpretações deles, podemos encontrar reminiscências de vida mágica nas arestas do trabalho em si, que esconde virtudes além de suas óbvias e mortificantes falhas (primordialmente, no roteiro simplista). (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)

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Achei muito esquisito que o diretor se identifique nos letreiros como ‘Um filme de Andrew Adamson’. Quem diabos é ele para merecer esse crédito tão possessivo, quando cinema é uma arte tão colaborativa? Pois foi supervisor de efeitos especiais de algumas bombas (“Batman Forever”, “Batman & Robin”, “A Time to Kill”), e ficou famoso - em termos - como produtor, roteirista e diretor dos dois primeiros “Shreks”, assim como foi o realizador do episódio anterior, de 2005.

Como se sabe, o filme é o segundo capitulo de uma série, que pretende ser de quatro filmes, embora fossem originalmente sete, todos inspirados na obra de C. L. Lewis (1898-1963), redescoberta pela Disney e pela Walden Media, após o êxito de “O Senhor dos Anéis”.

O primeiro episódio foi bastante bem de bilheteria, em parte por causa de seu apelo religioso - melhor dizendo, seus simbolismos cristãos que, segundo os entendidos, vai se cristalizando ainda mais nos capítulos subseqüentes. Mas o prospecto não parece promissor, já que este foi relativamente mal nas bilheterias, indicando que seu público não ficou satisfeito, nem estava interessado em seguir as aventuras dos quatro irmãos nas terras de Nárnia. Ultimamente tenho ido contra a maré, mas o filme me pareceu melhor que o primeiro. Ao menos, tem bem mais ação, é mais focado, mais intenso, sem perder o tom infanto-juvenil. Agora com um não-muito-intenso tom romântico (que deveria interessar às meninas) e, segundo muitos notaram, também mais dark.

Todo o elenco central está de volta e, sob pena de estragar o prazer, até mesmo Liam Neeson fazendo a voz do leão Aslan, e Tilda Swinton como a Bruxa (não creditada). Só que os garotos cresceram e estão naquela fase desajeitada da adolescência (alguns gordinhos, outro encovado), que não os deixa especialmente carismáticos.

A história começa no metrô de Londres, durante a Segunda Guerra, quando a família é magicamente levada novamente ao “Reino de Nárnia“ que sofreu, em sua ausência, grandes transformações. Tudo foi destruído, e quem domina agora é um grupo chamado Telmarines, que são conduzidos por um tirano (feito pelo astro italiano Sergio Castelitto, que tem um bom tipo e é praticamente desconhecido nos EUA. O filme foi rodado na Slovenia, Praga, Nova Zelândia e Polônia). É basicamente ele que, além das intrigas palacianas de sempre, controla os outros habitantes, que são basicamente anões (entre eles, o excelente ator Peter Dinklage), texugos, centauros, minotauros e ratos corajosos; todos guerreiros intrépidos.

A principal trama é que este vilão persegue o herdeiro do trono, que é justamente o príncipe Caspian (interpretado pelo inexpressivo ator britânico Ben Barnes, que esteve em “Stardust”; aliás, todas as crianças são inglesas). Obviamente deseja matá-lo, e foi o príncipe quem soprou o chifre (Horn) para chamar os heróis, e por isso que eles estão ali, agora liderando a luta contra os bandidos. Naturalmente há uma rivalidade entre Caspian e Edmund (Skandar Keynes), o mais velho dos irmãos mas, como disse, é basicamente um filme de ação de muitas batalhas, de longa metragem, onde apenas a excelência da produção compensa suas lacunas dramáticas. Só agora percebo que prefiro esta continuação simplesmente porque não tinha gostado especialmente do primeiro capitulo (com exceção da presença de James MacAvoy, que não retorna aqui).

Acho mais bem realizado, mais cinemático, mais aventura. Mas nem por isso memorável. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 06 de junho de 2008)