Crítica sobre o filme "30 Dias de Noite":

Jorge Saldanha
30 Dias de Noite Por Jorge Saldanha
| Data: 16/11/2008

Em meio às convenções e clichês das centenas (ou talvez) milhares de obras que trazem a mítica figura do vampiro como protagonista, algumas conseguem se diferenciar por serem de realização superior, ou pelo menos por trazerem um pouco de originalidade ao gênero. Este 30 DIAS DE NOITE, produzido por Sam Raimi e Robert Tapert, se destaca da média um pouco nos dois quesitos. Mais uma produção baseada em quadrinhos (que desconhecia), o longa do diretor David Slade consegue atingir um bom equilíbrio entre manter algumas das características inerentes às criaturas, ao mesmo tempo em que as mostra de uma maneira diferente. Na verdade aqui ele busca fazer o que Zack Snyder realizou com os zumbis de MADRUGADA DOS MORTOS: seus monstros são mais brutais, incansáveis e selvagens que os vistos anteriormente, com traços faciais estranhos e ameaçadores - cortesia da WETA do diretor Peter Jackson.

O conceito da graphic novel e, portanto, do filme, é interessantíssimo – o que aconteceria se uma cidade do Alaska, que uma vez por ano fica isolada pela neve e tem uma noite que dura um mês inteiro, fosse atacada por esses demônios carnívoros e sugadores de sangue? Pois é isto que vemos no filme, que possui uma realização muito bem cuidada e uma direção segura de Slade. Basicamente é uma história de sobrevivência, que acompanha os esforços de um pequeno grupo de moradores do local, liderado pelo xerife Eben Oleson (Hartnett) e sua ex-esposa, Stella (Melissa George, de TURISTAS), para escapar das criaturas da noite.

Com um tempo relativamente curto apresentando personagens e estabelecendo sua premissa, o filme logo passa a mostrar os vampiros, todos de negro e liderados pelo sanguinário Marlow (o convincente Danny Huston, sempre falando uma lingual estranha), perseguindo e devorando os habitantes indefesos. O feroz cerco aos sobreviventes acaba tornando-se aterrador, muitas vezes criando uma sensação de isolamento e desespero tão bem levada à tela por John Carpenter em O ENIGMA DO OUTRO MUNDO. E como no clássico de Carpenter, a violência é gráfica (não poupa até mesmo crianças), o que pode chocar aos mais desavisados, Eu, particularmente, elogio a decisão de Slade em realizar um filme que, sem ser de exploração, não hesita em mostrar sangue e decapitações de forma detalhada. O que estamos vendo aqui é uma brutal luta pela sobrevivência, o predador contra sua presa, que tenta sobreviver a qualquer custo, e a violência tem que ser condizente com isto. O filme possui uma beleza visual incontestável, na maior parte do tempo com cores não saturadas, mas em determinados momentos a tela é inundada pelo vermelho vivo do sangue. Em uma imagem memorável, vemos uma tomada aérea da cidade sendo atacada pelas criaturas, com o vermelho do sangue de suas vítimas contrastando com o branco da neve.

Por não conhecer os quadrinhos, não posso opinar muito sobre a fidelidade à fonte original, mas como filme de terror 30 DIAS DE NOITE é uma atraente recomendação para quem gosta do gênero. Dificilmente se tornará clássico ou cult, mas é daqueles longas que prendem a atenção do início ao fim, ajudado por um visual refinado e um roteiro que não segue caminhos desnecessários para estabelecer o clima de ameaça necessário, ao mesmo tempo em que tenta injetar uma boa dose de sangue fresco no mito dos vampiros.