Crítica sobre o filme "Múmia, A: Tumba do Imperador Dragão":

Rubens Ewald Filho
Múmia, A: Tumba do Imperador Dragão Por Rubens Ewald Filho
| Data: 20/11/2008
Sete anos após sua seqüência guilty pleasure nas mãos de Stephen Sommers, "A Múmia", que rendeu dois primeiros filmes divertidos, resurge novamente, mas dessa vez com $175 milhões no bolso, um diretor conhecido por altas bobagens e trazendo ainda na bagagem Jet Li, que já teve dias melhores. Na nova empreitada, o clima de filme B dos filmes anteriores (que ainda se perdeu bastante no segundo) desaparece, dando lugar a um espetáculo em larga escala de efeitos especiais explosivos. O filme, em outras palavras, faz muito barulho. Se o espírito cinemático glorioso de Indiana Jones resistiu à inserção de atributos visuais mais tecnologicamente carregados, o mesmo não pode ser dito quanto ao novo "A Múmia" que, apesar de entregar um pomposo visual e entretenimento grandioso, não consegue se esquivar da mortificante artificialidade, que deixa sua marca ingrata no trabalho, pertubando o espectador até o último segundo.

Para quem é fã dos dois primeiros, é perigoso apostar demais nessa nova continuação, que deixa devendo em conteúdo e plausibilidade. Os personagens do original todos voltaram, mas nem por isso todos os atores. Os permanentes foram Brendan Fraser, típico na sua composição de herói, e o cômico (ou ao menos ele gosta de pensar que seja) John Hannah. O filho do herói, interpretado por Luke Ford. voou pela puberdade e já se encontra na fase adulta (enquanto o próprio Fraser não mudou nada) e Rachel Weisz se transformou ao longo dos anos em...Maria Bello! (ou ao menos os produtores querem que acreditemos nisso). Eu não poderia ficar mais feliz por Weisz que, sábia, recusou participar do projeto e continuou na sua boa onda de ótimos projetos e excelentes atuações. Ainda assim, não tem como lamentar a saída dela, visto que, apesar do talento de Bello (aqui disfarçado sobre quilos de superficialismo da personagem), o estranhamento quanto à nova cara (e personalidade) da personagem deixa o projeto ainda mais artificial. E, perigosamente, resulta numa completa falta de química entre ela e Frase, que simplesmente não aparentam ser um casal.

O pior elemento do elenco, porém, tem espaço reservado para Jet Li (que faz o imperador do título que se transforma em múmia), entregando uma atuação ridiculamente rasa e óbvia. Se não fossem pelos efeitos especiais que montem e desmontam sua cara, todas as suas ótimas cenas de luta não conseguiriam compensar sua simples mediocridade como ator. Alias, se o filme acerta em cheio ao resgatar a história da China para moldar seu enredo (como nos filmes anteriores com o Egito), falha estrondosamente ao mostrar o tal imperador sem a mínima presença. Tudo bem que no meio da jornada o sujeito se transforma até em bichos voadores de três cabeças (nem vou comentar o exagero), mas fora as peripécias técnicas, não existe nada no roteiro que deixa o vilão interessante. Ao contrário: o mantém sempre com uma faceta um tanto frívola. O vilão dos filmes anteriores ao menos tinha um lado movido pelo amor (por mais raso que seja). E, falando em raso, o filme estica desnecessariamente sua duração apenas para inserir momento dramáticos risíveis no caminho. As relações entre os personagens beiram sempre o óbvio e enfrentam certos clichês cara a cara.

No mais, "A Múmia - Tumba do Imperador Dragão" tem ao menos três grandes cenas de aventura. E não só de escala. Muita energia foi depositada em todas e os efeitos especiais impecáveis apenas deixam tudo muito mais prazeroso. Visto isso, é lamentável que o diretor Rob Cohen não tenha inserido mais desses momento no filme e tirado os excessos dramáticos que em nada adicionam. Já o roteiro deveria ter sido muito mais bem polido. Certos aspectos são implausíveis demais e as resoluções para alguns conflitos são decepcionantes. Como o próprio clímax, frouxo ao extremo. O filme é recomendável, portanto, apenas até certo ponto. Tem aventura, efeitos abundantes e oferece sim um senso de diversão apropriado. É uma pena, por isso, que sofra de tantas síndromes, dentre as quais encontramos a previsibilidade nauseante, que por sua vez provem daqueles clichês execráveis encontrados nas várias situações bobas do filme. "A Múmia - Tumba do Imperador Dragão" não é a bomba que eu estava esperando, mas ainda assim um exercício de cinema lastimável em suas arestas. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)

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Leia também a opinião de Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos