Crítica sobre o filme "Signo da Cidade, O":

Eron Duarte Fagundes
Signo da Cidade, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 21/11/2008

Num momento em que o assassinato duma garota paulista de cinco anos de idade, provavelmente por seu próprio pai e pela madrasta, dois bem-apessoados indivíduos da classe média alta, o aparecimento entre nós de O signo da cidade (2007), dirigido pelo brasileiro auto-exilado em Los Angeles Carlos Alberto Riccelli, reforça as possibilidades melodramáticas do olhar mórbido nacional para as tragédias do cotidiano. As criaturas que cruzam as imagens dispersas de O signo da cidade estão sempre para baixo, são inevitavelmente atraídas pela depressão e o suicídio é sempre um caminho possível. De uma certa maneira, o roteiro, escrito pela intérprete central do filme, Bruna Lombardi, se parece com as intenções de Magnólia (1999), do norte-americano Paul Thomas Anderson: mostrar um grupo de indivíduos para quem as coisas parecem dar sempre errado. Bruna interpreta uma astróloga e é esta personagem, com seu programa de rádio e alguns lances de sua vida, quem pretende dar um certo sentido ao descosido do filme; apesar dos esforços de Ricelli e de Bruna, o descosido permanece, a tensão fílmica se dispersa e dilui.

A estrela do filme, Bruna Lombardi, que no passado foi considerada por aqui uma espécie de amante espiritual do poeta gaúcho Mário Quintana, a quem ela admirava, não chega a ter o estofo de intérprete para carregar a responsabilidade narrativa que o roteiro lhe deu. Riccelli, cuja vida de ator passou pelo boto de Walter Lima Jr. em Ele, o boto (1986) e pelo oculto revolucionário de Carlos Reichenbach em Dois córregos (1999), revela em O signo da cidade mão frouxa para a direção cinematográfica. Não se pode negar que o filme tem um certo charme desglamurizado para captar as pobres vidas retratadas; mas este lado aparentemente mais autêntico do filme se dissolve em artifícios e ingenuidades que Riccelli não soube como resolver. (Eron Fagundes)