Crítica sobre o filme "Ilha da Imaginação, A":

Wally Soares
Ilha da Imaginação, A Por Wally Soares
| Data: 10/11/2008
Ao contrário do que sugere seu estúpido título nacional, A Ilha da Imaginação não tem nada de fantasioso, se limitando apenas a implicações sutis relacionadas, em grande parte, a animais. Esclarecido isso, é uma divertida aventura familiar, cujas virtudes entram em equilíbrio com os ocasionais defeitos de gênero. Segue à risco velhas fórmulas, mas ainda arruma lugar para algumas liberdades, exemplo da participação literal do alter-ego da personagem interpretada com leveza admirável por Jodie Foster (Valente). Cheia de entusiasmo, interpreta uma escritora insegura e sofrendo de síndromes não refletidas no herói de suas histórias. Essa relação entre criador e criação gera alguns alívios cômicos divertidos e, uma vez ou outra, até nos deixa pensativos sobre o próprio conceito que estabelece ao longo da jornada, sobre as relações contrastantes entre seu autor e sua criação. Nenhuma densidade, mas o bastante para oferecer ao filme um diferencial apropriado.

Para a criançada, será fácil se identificar com a adorável Abigail Breslin (Três Vezes Amor), sempre talentosa. Protagonizando todo o escapismo do filme, ela esbanja carisma e nos faz acreditar piamente na sua personagem, até mesmo quando esta cai nas garras de estereótipos incômodos. Interpretando a jovem aventureira Nim (que nomeia, adequadamente, o nome original), suas arriscadas tentativas em proteger sua ilha oferecem a diversão certa, principalmente para o público mirim, que ainda pode se deliciar com aqueles habituais animais companheiros típicos do gênero (felizmente, porém, nenhum deles fala). Gerard Butler (Encurralados), carismático, completa o elenco adequadamente. Os três bons atores elevam o nível do filme quando este parece cair demais no lugar comum e nos diálogos óbvios. Ou, até mesmo, nos momentos onde simplesmente perde o fôlego. Ainda assim, o filme se revela suficientemente agradável para manter nossa atenção, principalmente ao entregar uma parte estética bastante conquistadora. As paisagens são colírios para os olhos, e a fotografia realça muito bem a iluminação contagiante da ilha paradisíaca. O visual em si da a entender, sempre, um tom mágico ao local, ainda que não exista nada disso. E isso é sempre bom, principalmente quanto se tem um bom compositor, mesmo que a trilha não consiga sair do regular. Deparamos com certas mediocridades do roteiro e da própria direção sem ousadias (exceção de uma cena bem bolada que, realçando a imaginação da protagonista ao ler um livro, traz a ação até ela), mas o filme em si nunca perde o ar de contentamento, de leveza agradável e de diversão confortável. Por isso se torna, apesar dos momentos bobinhos e entretenimento esquecível, uma sessão recomendável.

Para ser digerido como fast food e apreciado com certa falta de comprometimento, “A Ilha da Imaginação†é um filme essencialmente família. A vivacidade une-se ao ingênuo, que se une às virtudes interessantes cercando a personagem da escritora, que torna de uma forma equilibradamente prazerosa a sessão mais dinâmica e menos típica, mesmo que todos os tiques estejam lá para irritar. Não tem como fazer grandes obrigações. O fim chega e, ainda que saibamos que seja inevitável o final feliz (e necessário, claro), o filme “ousa†jogar ainda mais na cara do espectador ao transformar o feliz em fábula. Cai, portanto, naquele velho clichê do gênero que acha necessário aparar todas as pontas e transformar até o que não precisava em felicidade. Talvez seja o cínico em mim falando, mas existem limites. Felizmente, porém, A Ilha da Imaginação também tem seus méritos e merece uma espiada descompromissada, principalmente como uma simples sessão matiné no próprio conforto de casa. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)