Crítica sobre o filme "Procurado, O":

Eron Duarte Fagundes
Procurado, O Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 04/12/2008

O procurado (Wanted; 2008), filme norte-americano dirigido pelo russo Timur Bekmambetov, é um grande jogo eletrônico em que a indústria do cinema aposta numa linguagem de associações e dissociações visuais que procura comunicar-se com o mesmo tipo de público  destes joguinhos, mais afeito à velocidade turbulenta das imagens do que à possível expressividade que o interior e o exterior da imagem possam exibir; é o vazio brilhoso da era da imagem, no pior sentido a  que possamos referir desta era de autômatos diante da tela. Talvez o exemplar recente mais bem acabado deste tipo de filme seja Jumper (2008), do norte-americano Doug Liman, mas Liman dirige melhor suas aparatosas cenas do que Bekmambetov em O procurado, que, à medida do andamento da projeção, se vai tornando cada vez mais rasteiro e desnecessário.

Bekmambetov é russo e sua gênese soviética pode ser observada numa certa demência das cenas de ação. Mas ao cabo a natureza nacional do realizador vai mesmo perder-se nas teias de um cinema vigiado para satisfazer os sentidos do grande público. Estas possibilidades não sei se O procurado atinge, mas suas insistências são óbvias: muito ruído e fúria para um resultado que certamente elimina qualquer avanço do cérebro cinematográfico, estagnado aqui no nível zero.

O resultado é definitivamente torturante, mas o que importa mesmo é saber como as bilheterias se comportarão diante deste filme.

James McAvoy, um jovem ator à espera do estrelato, interpreta o burocrata subitamente convertido, por evocações genéticas (seu pai pertenceu a uma seita de impiedosos assassinos), num aventureiro do sangue e do ego. Mas, para possibilitar de fato a saída comercial para o filme, duas estrelas de Hollywood estão no projeto: Angelina Jolie, vista este ano em O preço da coragem (2007), do inglês Michael Winterbottom, além de seus trejeitos de heroína de ação de Sr. e srª. Smith (2005), de Doug LIman, vai proporcionar à platéia um rápido e  fugidio plano em que sua personagem, de costas, nua e tatuada, parece esforçar-se por acrescer um item comercial forte à produção; e Morgan Freeman, que apareceu num dos bons filmes deste ano, Batman, o cavaleiro das trevas (2008), de Christopher Nolan, vai desfiando uma espécie de chatice pastoral em que ele se tem esmerado ultimamente. (Eron Fagundes)