Crítica sobre o filme "Transformers - O Filme":

Jorge Saldanha
Transformers - O Filme Por Jorge Saldanha
| Data: 06/12/2008

Há quem atribua a crescente onda de adaptações cinematográficas de quadrinhos, séries/desenhos de TV e videogames a uma absoluta falta de criatividade de Hollywood. Até pode ser, mas é bom lembrar que desde o início do cinema a literatura serviu como base para muitos filmes, e seria de se esperar que, ao longo dos anos, outras expressões da cultura, mais populares, acabassem chegando às salas de exibição. Personagens de gibis foram adaptados já nos antigos seriados em preto e branco, filmes baseados em games chegaram no final do século passado e mais recentemente vimos na telona até filmes inspirados em parques temáticos (PIRATAS DO CARIBE). Com este TRANSFORMERS, a bola da vez são os brinquedos - os robôs que podem se transformar em veículos diversos (e vice-versa) surgiram no Japão, porém foi a partir do licenciamento para a HASBRO dos EUA nos anos 1980 que surgiu uma franquia que se espalhou por desenhos animados, gibis e filmes. Em 1986 foi lançado o longa de animação TRANSFORMERS – O FILME, e em 2007 Autobots e Decepticons chegaram em live action aos cinemas. Com roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman (colaboradores habituais de J.J. Abrams, que também escreveram o script do novo STAR TREK), produção de Steven Spielberg e direção de Michael Bay (ARMAGEDDON, PEARL HARBOR), este TRANSFORMERS foi um dos sucessos de bilheteria do ano e o melhor blockbuster do verão de 2007.

A presença de Bay atrás das câmeras já de início gerou críticas, uma vez que o diretor virou sinônimo de superproduções descerebradas e muitas vezes ufanistas. Nunca tive ojeriza a Bay, até porque seus filmes são eficazes pelo que são – diversão descompromissada, dinâmica, com sons e imagens unidos em uma edição vertiginosa. Dito isso, e sem que nunca tenha sido fã dos brinquedos e desenhos (quando eles surgiram, já era meio velhinho para isso), afirmo que gostei de TRANSFORMERS. Obviamente, quem assistir ao filme com a idéia de que ele seja uma ficção científica “cabeça†irá se decepcionar. Na verdade, ele é um descendente direto daqueles filmes sci fi que fizeram a alegria da garotada a partir dos anos 1980, como DE VOLTA PARA O FUTURO, VIAGEM INSÓLITA e HOMENS DE PRETO, que não raro traziam a assinatura de Steven Spielberg na produção. Visto sob este aspecto TRANSFORMERS é uma ótima diversão, repleto de referências à cultura pop, ação intensa e um visual simplesmente espetacular. Os robôs, materializados por efeitos da ILM e da Digital Domain simplesmente fantásticos, são de um foto-realismo que até então nunca fora visto. E no quesito visual, outro grande trunfo da produção (pelo menos para a rapaziada) é a deslumbrante Megan Fox, a prova viva de que a natureza nunca será superada pela tecnologia...

É indiscutível que o filme é dirigido ao público jovem, por isso os diálogos são leves, há várias piadas e a violência excessiva é evitada - porém ele não insulta a inteligência dos mais velhos, que também poderão curtir mais este embate do Bem contra o Mal tendo como campo de batalha a Terra: de um lado Autobots, do outro Decepticons, e no meio do fogo cruzado Sam e seu Camaro amarelo (que na verdade é o Autobot Bumblebee), Mikaela e o governo americano, que há décadas mantinha em animação suspensa o maligno Megatron, que viera ao nosso planeta em busca da All Spark, a fonte de energia que dera origem à raça cibernética. A trama simples é plenamente compensada por uma realização exuberante - as transformações são perfeitas, os combates dos robôs gigantes contra o exército e entre eles mesmos são épicos, e no final o filme deixa uma bela mensagem de otimismo típica de Spielberg, cujo dedo é claramente notado na produção, seja na caracterização dos personagens, seja nas cenas de Sam com sua família. Aliás, foi graças à sua atuação como Sam em TRANSFORMERS que o ótimo Shia LaBeouf ganhou o papel de Indiana Jones no novo (e dececionante) filme do arqueólogo aventureiro. Além de Shia e Megan, outros destaques do elenco são o veterano John Voight, como o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, e o sempre ótimo John Turturro, no papel de um agente de uma organização parecida com a dos Homens de Preto. Também não podem ser esquecidos Peter Cullen, egresso da série animada, fazendo a voz de Optimus Prime, e Hugo Weaving (o agente Smith da trilogia MATRIX) dublando Megatron. No mais, só resta dizer que TRANSFORMERS em alta definição é um espetáculo a ser conferido, e que de lambuja ainda é embalado por uma das melhores trilhas sonoras da geração Media Ventures, composta por Steve Jablonsky.