Há quem atribua a crescente onda de adaptações cinematográficas de quadrinhos, séries/desenhos de TV e videogames a uma absoluta falta de criatividade de Hollywood. Até pode ser, mas é bom lembrar que desde o inÃcio do cinema a literatura serviu como base para muitos filmes, e seria de se esperar que, ao longo dos anos, outras expressões da cultura, mais populares, acabassem chegando à s salas de exibição. Personagens de gibis foram adaptados já nos antigos seriados em preto e branco, filmes baseados em games chegaram no final do século passado e mais recentemente vimos na telona até filmes inspirados em parques temáticos (PIRATAS DO CARIBE). Com este TRANSFORMERS, a bola da vez são os brinquedos - os robôs que podem se transformar em veÃculos diversos (e vice-versa) surgiram no Japão, porém foi a partir do licenciamento para a HASBRO dos EUA nos anos 1980 que surgiu uma franquia que se espalhou por desenhos animados, gibis e filmes. Em 1986 foi lançado o longa de animação TRANSFORMERS – O FILME, e em 2007 Autobots e Decepticons chegaram em live action aos cinemas. Com roteiro de Roberto Orci e Alex Kurtzman (colaboradores habituais de J.J. Abrams, que também escreveram o script do novo STAR TREK), produção de Steven Spielberg e direção de Michael Bay (ARMAGEDDON, PEARL HARBOR), este TRANSFORMERS foi um dos sucessos de bilheteria do ano e o melhor blockbuster do verão de 2007.
A presença de Bay atrás das câmeras já de inÃcio gerou crÃticas, uma vez que o diretor virou sinônimo de superproduções descerebradas e muitas vezes ufanistas. Nunca tive ojeriza a Bay, até porque seus filmes são eficazes pelo que são – diversão descompromissada, dinâmica, com sons e imagens unidos em uma edição vertiginosa. Dito isso, e sem que nunca tenha sido fã dos brinquedos e desenhos (quando eles surgiram, já era meio velhinho para isso), afirmo que gostei de TRANSFORMERS. Obviamente, quem assistir ao filme com a idéia de que ele seja uma ficção cientÃfica “cabeça†irá se decepcionar. Na verdade, ele é um descendente direto daqueles filmes sci fi que fizeram a alegria da garotada a partir dos anos 1980, como DE VOLTA PARA O FUTURO, VIAGEM INSÓLITA e HOMENS DE PRETO, que não raro traziam a assinatura de Steven Spielberg na produção. Visto sob este aspecto TRANSFORMERS é uma ótima diversão, repleto de referências à cultura pop, ação intensa e um visual simplesmente espetacular. Os robôs, materializados por efeitos da ILM e da Digital Domain simplesmente fantásticos, são de um foto-realismo que até então nunca fora visto. E no quesito visual, outro grande trunfo da produção (pelo menos para a rapaziada) é a deslumbrante Megan Fox, a prova viva de que a natureza nunca será superada pela tecnologia...
É indiscutÃvel que o filme é dirigido ao público jovem, por isso os diálogos são leves, há várias piadas e a violência excessiva é evitada - porém ele não insulta a inteligência dos mais velhos, que também poderão curtir mais este embate do Bem contra o Mal tendo como campo de batalha a Terra: de um lado Autobots, do outro Decepticons, e no meio do fogo cruzado Sam e seu Camaro amarelo (que na verdade é o Autobot Bumblebee), Mikaela e o governo americano, que há décadas mantinha em animação suspensa o maligno Megatron, que viera ao nosso planeta em busca da All Spark, a fonte de energia que dera origem à raça cibernética. A trama simples é plenamente compensada por uma realização exuberante - as transformações são perfeitas, os combates dos robôs gigantes contra o exército e entre eles mesmos são épicos, e no final o filme deixa uma bela mensagem de otimismo tÃpica de Spielberg, cujo dedo é claramente notado na produção, seja na caracterização dos personagens, seja nas cenas de Sam com sua famÃlia. Aliás, foi graças à sua atuação como Sam em TRANSFORMERS que o ótimo Shia LaBeouf ganhou o papel de Indiana Jones no novo (e dececionante) filme do arqueólogo aventureiro. Além de Shia e Megan, outros destaques do elenco são o veterano John Voight, como o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, e o sempre ótimo John Turturro, no papel de um agente de uma organização parecida com a dos Homens de Preto. Também não podem ser esquecidos Peter Cullen, egresso da série animada, fazendo a voz de Optimus Prime, e Hugo Weaving (o agente Smith da trilogia MATRIX) dublando Megatron. No mais, só resta dizer que TRANSFORMERS em alta definição é um espetáculo a ser conferido, e que de lambuja ainda é embalado por uma das melhores trilhas sonoras da geração Media Ventures, composta por Steve Jablonsky.