Crtica sobre o filme "Trovão Tropical ":

Jorge Saldanha
Trovão Tropical Por Jorge Saldanha
| Data: 05/12/2008

Parece que, após um período de vacas magras, as comédias de Hollywood andam dando sinais de revitalização. E entre os exemplares recentes do gênero, SUPERBAD – É HOJE (que já resenhei) e TROVÃO TROPICAL são dos melhores que vi. Esta última, é de longe para mim o filme mais engraçado de 2008, inclusive conseguindo a façanha de renovar um estilo que já se esgotara há tempos – o da sátira de filmes e gêneros, iniciada pelos irmãos Zucker nos anos 1970 e que mais recentemente sobrevivia na franquia TODO MUNDO EM PÂNICO e em bombas do tipo ESPARTALHÕES. Em sua segunda investida como diretor, o comediante Ben Stiller decidiu “homenagear” os filmes da Guerra do Vietnã – principalmente APOCALYPSE NOW e PLATOON -, porém inovando com um roteiro que coloca um filme dentro do filme. Assim, a maior parte das risadas se originam nos percalços da produção do fictício drama de guerra TROVÃO TROPICAL e das trapalhadas dos seus excêntricos astros.

Merece destaque o alto nível da produção, que demonstra que hoje Stiller é um sujeito muito bem relacionado em Hollywood. Ele conseguiu para seu filme um orçamento que permitiu criar seqüências à altura de um filme guerra sério. Porém o maior trunfo de Stiller foi reunir um brilhante e improvável elenco, onde além do próprio Stiller interpretando um astro de filmes de ação, se destacam Jack Black como um ator junkie de comédias escatológicas, o rapper Brandon T. Jackson como... um rapper que virou ator, e Tom Cruise, hilariamente irreconhecível como o desbocado e ganancioso produtor judeu do filme. Adicionalmente, temos pequenas participações de gente como Danny McBride, Matthew McConaughey, Jason Bateman, Sean Penn e Bill Hader (entre tantos outros nomes do cinema). Mas acima de todos está o excelente Robert Downey Jr., como o loiro ator australiano Kirk Lazarus que, ao interpretar um papel, acaba se tornando o personagem – tanto que, para TROVÃO TROPICAL, escureceu cirurgicamente a pele para interpretar um sargento negro. Como Lazarus, Downey simplesmente dá um show, e sua interpretação cheia de clichês e estereótipos, engraçadíssima, lhe valeu a indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator coadjuvante.

Com esse elenco afinado o filme, além de estereótipos raciais, usa e abusa de outras situações politicamente incorretas, criando situações hilárias envolvendo doentes mentais e deficientes físicos, tudo combinado com um linguajar repleto de palavrões e uma violência que, de tão exagerada, chega a ser engraçada. Claro, mesmo que você aceite esta proposta de humor não espere rir do início ao fim do filme, mas o fato é que TROVÃO TROPICAL tem o mérito de conseguir ser, ao mesmo tempo, uma farsa ultrajante, uma sátira a Hollywood e uma realização coesa. (Jorge Saldanha)