Crítica sobre o filme "Vivendo e Aprendendo":

Edinho Pasquale
Vivendo e Aprendendo Por Edinho Pasquale
| Data: 10/12/2008
Existem filmes que “têm” quase tudo: uma boa idéia inicial - que origina o argumento e, logo, o roteiro; um elenco de atores bem diversos e competentes; e algumas ironias espalhadas aqui e ali no tempo em que o espectador está assistindo ao filme. Digo que têm quase tudo - e o têm entre aspas - porque estes filmes acabam se mostrando, minuto após minuto de projeção, como aquela piada sem graça que todos fazem um esforço para sorrir no final. Vivendo e Aprendendo é um filme assim. Em teoria ele “disseca” o lar de um intelectual e mostra as inusitadas relações entre os diferentes membros da família, além de revelar outros “problemáticos” de plantão. Seria um filme interressante se ele tivesse a perspicácia e a ironia ácida de alguns autores contemporâneos, como os irmãos Coen (Joel e Ethan) ou o diretor e roteirista Noah Baumbach - dos ótimos Margot e o Casamento e A Lula e a Baleia. O problema é que o roteirista e o diretor de Vivendo e Aprendendo, Mark Poirier e Noam Murro, respectivamente, não têm o talento dos outros. O que acaba transformando o filme apenas em um ensaio chato sobre esse povo pedante disfarçado de “smart people”.

Para mim é inevitável fazer um “trocadilho” com o nome do filme, mudando o “Smart” do original para um emblemático “Stupid”. Ok, há muito tempo eu já sei - e imagino que muitos de vocês, caros leitores, também - que alguns dos principais “gênios” da Humanidade e todos estes “super-letrados” da vida, mundo afora, são os mais “idiotas” em questões práticas como o convívio familiar ou social.

Está comprovado que os que tem um QI muito alto, no geral, tem problemas de relacionamento ou dificuldade em fazer o que pessoas comuns acham simples. Então, nesta premissa - que eu ouso dizer ser o princípio base do filme -, Smart People não é nada “de outro mundo”. Em outras palavras, ele não é nada original… E ok, talvez até o “Smart” aí seja, justamente, irônico. Ele perfeitamente pode ser modificado por Stupid em várias ocasiões.

Antes que alguém me atire pedras, quero dizer que não estou julgando os “superinteligentes” e nem colocando todo mundo no mesmo saco. Mas é fato que o filme trata basicamente dos problemas de relacionamento de pessoas com inteligência muito acima da média. E daí?, você pergunta lá pelas tantas. E daí que nada… o filme é uma boa desculpa para ver atores interessantes em cena e para tocar em questões curiosas e que estão nas entrelinhas, como a superficialidade das relações pós-modernas e a falta de comunicação entre as pessoas. Resgatando a letra de uma música escrita por Renato Russo: “(…) o mal do século é a solidão/ cada um de nós imersos em sua própria arrogância/ esperando por um pouco de atenção”.

No caso de Vivendo e Aprendendo, quase todos estão realmente imersos em sua própria arrogância esperando um pouco de atenção, de afeto, de “toque humano”. Do professor, escritor e intelectual Lawrence, passando por sua “cópia juvenil” Vanessa e pelo “filho-poeta-rebelde” James, até a médica Janet que, no fundo, não consegue aguentar relações mais “profundas” ou duradouras. No fundo, todos fogem do contato, do afeto… estão há milhas de distância de serem sábios - são apenas inteligentes. Ou seja: desenvolveram muito de suas capacidades intelectuais e nada da dita “inteligência emocional” ou de outras capacidades mais “humanas”.

A exceção é Chuck que, para a desgraça do filme, é ao mesmo tempo o melhor e o pior personagem em cena. Explico: a interpretação de Thomas Haden Church realmente é muito boa, ao ponto de fazê-lo aparecer mais, muitas vezes, do que os outros nomes “requintados” do elenco. Mas o problema está em seu personagem, totalmente estereotipado - mais até do que os dos “intelectuais”. Ele acaba sendo o “trapalhão que veio trazer humanidade para a história” mas, cá entre nós, me irrita a idéia de que apenas os “burros” podem ser mais humanos.

Acho que um intelectual da vida pode equilibrar a energia que dedica para a ciência ou para alguma área do conhecimento e, ao mesmo tempo, desenvolver relações realmente adultas, complexas e profundas. Não acreditam que apenas os “simples de coração” podem realmente sentir e se envolver. (SPOILER - realmente não leia se não assistiu a Vivendo e Aprendendo). Ok, o final do filme tenta um pouco defender esta idéia, que é possível o equilíbrio ou, em outras palavras, que “os intelectuais também amam”… mas, francamente, eles não me convenceram. As relações continuaram me parecendo um bocado superficiais. Ainda assim, as pessoas pelo menos parecem ter aprendido algo com suas derrapadas, o que já é bastante em se tratando de “stupid people”.

Mas agora falemos dos acertos: gostei da parte em que os personagens são “apresentados” em sua complexidade, como por exemplo toda a carga de arrogância e, ao mesmo tempo, de fragilidade dos personagens principais - especialmente Lawrence. Eles simplesmente não sabem se comunicar o que, cada vez mais estou convencida, é o grande problema da maioria das personas atualmente. Realmente parece que estamos em uma Torre de Babel, ainda que, na maioria das vezes, falemos o mesmo idioma.

No geral, o filme é bem acabado - pelo menos nos quesitos trilha sonora (assinada pelo português Nuno Bettencourt) e direção de fotografia (um trabalho correto, ainda que nada iventivo, de Toby Irwin) - e tem boas interpretações, ainda que nenhuma, para mim, passe da média. Exceto, outra vez, Thomas Haden Church, que tem muito carisma e que rouba a cena cada vez que aparece. Destaque, na história, para dois momentos estrelados por ele e Ellen Page: a sequência da “marihuana” e a da “saída para comemorar e beber em um bar”. Muito bons!! No mais, o filme é arrastado e chato, com muito de “xaropice intelectualóide” e gente com problemas para se comunicar para cima e para baixo. Pouco inventivo, o roteiro de Mark Poirier realmente deixou a desejar.

Vivendo e Aprendendo marca a estréia no cinema do israelense Noam Murro. Ele sabe contar uma história, mas sem nenhuma “grande” sacada. Faz o feijão-com-arroz com as câmeras e dirige os atores de forma básica, sem conseguir nada além do mediano.

Falando em estréias, o filme também marca o início da carreira do roteirista Mark Poirier no cinema. Espera-se que o próximo projeto dele com o diretor Noam Murro, o filme Hateship, Friendship, Courtship, com Julianne Moore, seja melhor que este Smart People. As chances são boas, até porque a atriz entrou no projeto também como produtora - e ela tem bom gosto, pode dar umas “dicas” boas para a dupla.

Último filme lançado por Ellen Page este ano (e único, diga-se) - depois do sucesso dela em Juno -, Vivendo e Aprendendo conseguiu uma interpretação correta da garota, mas sem nenhum grande “insight”. Ela faz seu trabalho, melhor que a média das pessoas de sua geração, mas ainda assim não consegue realmente surpreender. Pelo menos não neste filme.

Curioso como Dennis Quaid ressurgiu em 2008. Este ano o ator estrelou nada menos que quatro filmes… uma marca muito melhor do que a dos últimos anos. Vejamos: em 2007 ele participou de apenas um filme - e apenas colocando a sua voz. Em 2006 e 2005 foi o mesmo, apenas um filme em cada ano. Apenas em 2004 que ele participou de quatro produções. No ano que vem ele está confirmado em duas produções - e outro em 2010. (Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog Crítica (non)sense da 7Arte)