Crítica sobre o filme "Batman - O Cavaleiro das Trevas":

Jorge Saldanha
Batman - O Cavaleiro das Trevas Por Jorge Saldanha
| Data: 02/01/2009

Sendo fã de carteirinha de Batman, em 2005 fiquei empolgado com BATMAN BEGINS, e não fazia a mínima idéia de que o diretor/roteirista Christopher Nolan estava apenas preparando o terreno para este estupendo BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS, de longe a melhor adaptação de um herói dos quadrinhos já feita e, por méritos próprios, um excelente filme independentemente de gênero. Acertadamente Nolan, no filme anterior, optou por ignorar totalmente a cinessérie parida em 1989 por Tim Burton e assassinada em 1997 por Joel Schumacher, e recontou a história do Homem-Morcego desde o seu início, adotando um tom mais sério e realista e buscando elementos em algumas das melhores graphic novels do herói da DC Comics. Nesta seqüência o roteiro de Nolan, em parceria com seu irmão Jonathan e baseado em uma história de David S. Goyer, possui uma clara influência de "A Piada Mortal", escrita por Alan Moore, porém, como no filme anterior, traz elementos de outros quadrinhos de Batman - como o título, extraído da aclamada obra de Frank Miller.

Os pontos positivos de BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS são muitos, a começar pelo desempenho (desculpem a palavra) sobrenatural de Heath Ledger como o Coringa. Falecido logo após as filmagens, Ledger parece ter nascido para encarnar a versão definitiva do mais tradicional inimigo de Batman, e sua atuação cai como uma luva no perfil que o roteiro deu ao personagem. Suas piadas nunca foram tão sádicas e mortais como aqui, e a presença do ator na tela nos passa a perfeita sensação de estarmos vendo, à nossa frente, a pura essência do mal. Isso dá ao filme uma força fantástica, já que ele é centrado, basicamente, na influência dos atos do Coringa nos personagens centrais. Entre os quais, aliás, se inclui Maggie Gyllenhall, que substituiu Katie Holmes no papel da paixão de Bruce Wayne, Rachel Dawes.

Se no filme de 1989 podemos dizer que o Coringa de Jack Nicholson roubou a cena do Batman fracote de Michael Keaton, aqui o Homem-Morcego de Christian Bale é um oponente à altura. Com ou sem a máscara, nota-se que Bale está mais confiante e à vontade no papel. A cena dele com Ledger, quando Batman interroga o Coringa, na polícia, tem a eficácia de um soco no estômago (entre outras agressões). Outra grande presença é de Aaron Eckhart como Harvey Dent, que como qualquer fã do Morcego sabe, de um exemplo de virtude transforma-se em outro vilão enlouquecido, o Duas-Caras. Mas também aqui o roteiro aprofunda o personagem, fazendo dele não apenas um vilão sádico que, após o acidente que destrói metade do seu rosto, volta-se contra seus ex-aliados.

Contando com um elenco de coadjuvantes de luxo (os sempre excelentes Michael Caine, Morgan Freeman e, especialmente, Gary Oldman), que inclui vários rostos conhecidos do cinema e da TV, o filme possui quase duas horas e meia de duração, é intrincado, violento - é um Batman para adultos, apesar de não vermos o sangue espirrar, a violência, tanto física como psicológica, nos agride -, e possui bem mais do que a antológica interpretação de Ledger (cuja morte, aliás, deixou um problema para o terceiro filme). A direção de Nolan é fantasticamente precisa, e a árida trilha sonora, mais uma vez de Hans Zimmer e James Newton Howard, ajuda a tornar o ensaio sobre o heroísmo e virtude proposto por Nolan ainda mais sombrio. Se algumas situações são estendidas além do que deveriam, isto não chega a tornar BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS algo diferente do que é - uma excepcional, densa e psicológica aventura policial, que se encerra com um desde já clássico monólogo de Gordon ouvido enquanto Batman, ferido e foragido da Justiça, desaparece nas sombras.