Um conceito indiscutÃvel atualmente - mais do que em qualquer outra época da nossa trajetória humana - é de que toda ação provoca uma reação. Ou, em outras palavras, que cada gesto, cada atitude, cada ato provoca mudanças ao nosso redor que acabam transformando tudo - ou, pelo menos, muitas coisas. Pois
Controle Absoluto começa com essa idéia, de que uma decisão sobre o terrorismo pode levar não apenas a muitas mortes de civis mas, pior que isso, a um intricado plano de ataque mortÃfero no território teoricamente mais seguro do planeta: os Estados Unidos. E envolvendo civis aparentemente inocentes.
Adoro filmes que parecem uma coisa e se mostram outra completamente diferente. Inicialmente este
Controle Absoluto parecia um enredo de plano anti-terrorista e a devida represália dos “inimigos†dos Estados Unidos. Ledo engano. O filme é bem mais interessante do que isso.
(SPOILER – não leia esse parágrafo se você ainda não assistiu ao filme... passe para o seguinte). Quando o enredo passou de ser apenas um jogo de Estados Unidos versus Terroristas e passou a trazer para os dias atuais de paranóia a figura de um super-computador como o HAL 9000, do clássico
2001 - Uma Odisséia no Espaço de Stanley Kubrick, eu ganhei o meu dia. Achei fantástica essa “adaptação†realista daquela figura onipresente e onisciente tão conhecida para os dias atuais.
Controle Absoluto acaba transportando para o cinema também a paranóia de muita gente sobre a capacidade cada vez maior do controle social através de celulares, cartões de banco e computadores, para citar apenas os bens mais “rastreáveisâ€. No fundo, o filme é um prato cheio de idéias bastante exploradas em outros meios - filmes, livros, estudos cientÃficos e “teorias da conspiração†- que, misturadas, se transformam em um interessante enredo de ação e suspense.
Não é todos os dias - e, na verdade, algumas vezes não é nem uma vez por semestre - em que encontramos um filme de ação realmente inteligente. E, dizendo isso, não quero argumentar que ele seja complexo demais ou cheio de “discursosâ€, mas que ele tem boas idéias apresentadas de maneira convincente e, o melhor, sem estragar o ritmo dos filmes do gênero. Pois
Controle Absoluto consegue essa façanha. Mérito dos roteiristas John Glenn, Travis Wright, Hillary Seitz e Dan McDermott (este último o autor também da idéia original que gerou o posterior roteiro) e, principalmente, do diretor D.J. Caruso.
O filme acaba tendo um ritmo eletrizante e instigante. Por boa parte do tempo você realmente acredita que Jerry Shaw e Rachel Holloman estão sendo vÃtimas de um grupo de terroristas eficaz. Até um certo ponto, inclusive, temos dúvida se Shaw, especialmente, é o rapaz que diz ser - um “sem futuro†que trabalha em uma loja chamada Copy Cabana - vamos combinar que este nome é de rolar de rir. Ninguém pensou no trocadilho com Copacabana? Hilário!
A dúvida sobre Shaw não dura muito. Acho que, mais precisamente, dura até o envolvimento de Rachel Holloman no jogo de gato-e-rato. Afinal, ela realmente não tem nenhum perfil para ser terrorista. E daà entra em cena outra idéia ainda mais complicada: de que qualquer pessoa pode ser “acionada†de uma hora para a outra e obrigada a seguir ordens para salvar a própria pele - ou a de outras pessoas. Uma idéia um tanto exagerada, é verdade, mas que acaba sendo convincente no filme.
Mas o bacana mesmo é quando entra em cena o supercomputador Ãria. Desenhado para ser o “cérebro pensante†que controla todas as informações de civis disponÃveis eletronicamente, Ãria foi criado para ajudar o governo estadunidense em controlar a defesa em seu próprio território e auxiliar nas decisões de segurança nacional. Mas como ocorreu com o famoso HAL 9000, Ãria “sai dos trilhos†quando analisa os erros humanos e decide, por sua conta, tomar as rédeas da situação. Claro que não vamos exagerar… Ãria não tem a complexidade de HAL 9000 e nem
Controle Absoluto tem a filosofia de
2001 - Uma Odisséia no Espaço. Mas realmente é interessante ver uma adaptação daquela idéia para a vida “normal†e praticamente possÃvel desta fobia pela segurança dos Estados Unidos.
Vale um capÃtulo à parte algumas das várias referências do filme. Começando pelos “codinomes†utilizados no inÃcio de
Controle Absoluto: Valhalla, Thor e Loki. Todos com origem em lendas nórdicas. Valhalla, uma palavra menos conhecida do “trinômio de identidadesâ€, seria o lugar, na mitologia nórdica ou escandinava, onde os guerreiros vikings eram recebidos depois da morte. E os outros dois nomes… para os fãs de HQ’s eles são velhos conhecidos: Thor e Loki são os filhos de Odin, o “Deus supremo de Asgard†(o céu dos nórdicos). E mesmo Ãria… o nome não tem origem nórdica, mas musical. Ela se refere a uma composição escrita para um solista. Nada mais propÃcio nesta história, verdade?
O interessante também do filme é que ele acaba mexendo em vários elementos possÃveis. Vejamos: não seria a primeira vez que os Estados Unidos atacam um alvo sem ter certeza sobre possÃveis culpados. Também não seria algo inédito que, após um ataque equivocado, embaixadas e outros alvos civis norte-americanos fossem atacados como retaliação por homens-bomba ou por terroristas. Também se sabe que governos como o dos Estados Unidos gasta bilhões de dólares por ano para investir em sistemas de informação, tecnologia e monitoramente de dados. Há quem especule que um computador como o Ãria está quase em funcionamento. Ele ainda é ficção… ainda.
Finalmente assisti a um filme com Shia LaBeouf que eu gostei. Em
Controle Absoluto ele acaba “interpretando†um papel duplo: dos gêmeos Jerry e Ethan. Ok que, no final, Ethan praticamente não aparece na história. Mas apenas a interpretação dele de Jerry vale o dinheiro que lhe pagaram. Gostei também de Michelle Monaghan. Mas o curioso mesmo foi ver nomes como Billy Bob Thorton e Rosario Dawson em papéis coadjuvantes. Pois sim… Billy Bob Thorton interpreta o agente do FBI Thomas Morgan, enquanto Rosario Dawson interpreta Zoe Perez, do setor de Investigações Especiais da Força Aérea - da qual fazia parte Ethan Shaw.
As única “barrigadas†do filme, para mim, ocorrem depois que o “mistério†é desvendado. Ou seja: a operação um bocado desesperada de Zoe Perez e do Major William Bowman (Anthony Mackie). Aliás, eu diria que os ataques da dupla contra Ãria e a “defesa†dela são os únicos momentos praticamente “dispensáveis†do filme. O restante está bem costurado e acaba ficando interessante na história - exceto talvez o final dos “tiros para o arâ€, um tanto “antiquado†e previsÃvel demais. Aliás, alguém poderia me explicar porque nos filmes eles nunca atiram nas cabeças das pessoas?? Também achei um pouco ridÃcula a “facilidade†do acesso de Jerry até o local da apresentação dos músicos mirins… ok, não se pode pedir lógica todo o tempo em um filme de ação, mas eles estavam indo tão bem até ali…
No geral, o filme é muito bom e acima da média do gênero. Não por acaso um dos produtores de
Controle Absoluto é o “visionário†Steven Spielberg. Vale citar o trabalho mais que competente do diretor de fotografiaDariusz Wolski e do compositor Brian Tyler. Gostei também da edição correta de Jim Page.
Eagley Eye custou um bocado para os estúdios envolvidos na produção: a “bagatela†de US$ 80 milhões. Mas o filme mandou bem e conseguiu lucrar… apenas nos Estados Unidos ele faturou pouco mais de US$ 100 milhões. Somado a isto temos que somar o restante da bilheteria no mundo e, com certeza, o sucesso que o filme fará nas videolocadoras. Mas se o filme foi razoavelmente bem de bilheteria, não se pode dizer o mesmo a respeito da crÃtica… os usuários do site IMDb conferiram apenas a nota 6,8 para o filme, enquanto que os crÃticos que têm textos publicados no Rotten Tomatoes dedicaram 116 crÃticas negativas e apenas 43 positivas para a produção. Especialmente os crÃticos torceram o nariz para o filme. Controle Absoluto é uma co-produção da Alemanha com os Estados Unidos, mas foi todo filmado no segundo paÃs - com locações na Califórnia, em Chicago (Illinois) e na Flórida. Algo que não comentei antes: ainda que o “mote†principal de Controle Absoluto não seja esse, mas o filme acaba tratando um bocado do tema “famÃlia†na história, seja pelo personagem de Jerry Shaw, seja pelo de Rachel Holloman. Ambos lutam para preservar os seus laços familiares, ainda que tentem fazer isso preservando muito o seu espaço e “liberdadeâ€.
Curioso que as notas de produção do filme declaram que a idéia original de Controle Absoluto surgiu há vários anos na cabeça de Spielberg. O diretor, contudo, mesmo fascinado pela idéia de que a “tecnologia está em tudoâ€, não teve a coragem de produzir este filme antes porque achava que ele pareceria muito “ficção cientÃficaâ€. Acho que ele teria conseguido um efeito muito melhor se tivesse “adiantado†uma tendência. Agora, o filme parece quase previsÃvel demais. Curioso também que Spielberg tinha planejado filmar
Controle Absoluto mas que, ao se envolver no novo Indiana Jones, ele acabou entregando o projeto para o diretor do sucesso
Disturbia - filmado pela DreamWorks, estúdio do qual ele é sócio.
(Alessandra Ogeda – confira mais detalhes no blog CrÃtica (non)sense da 7Arte)