Crítica sobre o filme "Control":

Eron Duarte Fagundes
Control Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 21/01/2009

O suicídio é um tema incômodo para aqueles que têm certeza de que viver vale a pena. O diretor inglês Anton Corbjin, ao rodar Control (Control; 2007) a partir do livro da viúva do vocalista da banda inglesa rock Joy Division, Ian Curtis, optou por colar sua linguagem cinematográfica ao estado ardentemente suicida de seu protagonista; Control capta os ímpetos suicidas de um ser humano em estado estético. Não é uma cinebiografia propriamente, mas a explosão de um espírito de rebeldia que reinou no cenário britânico no fim dos  anos 70: Ian Curtis, cantor-poeta-roqueiro, sofria de epilepsia e suicidou-se em 18 de maio de 1980; casa-se com a inocente Debbie, com quem vem a ter uma filha, mas logo se envolve  com Annick, uma funcionária da embaixada belga que se faz passar por jornalista francesa e acaba misturando-se à banda da Ian para namorá-lo; entre os dois amores, Ian vai acentuando sua demência nata, o que verdadeiramente ele reqüesta ao aproximar-se de Debbie e Annick e hesitar entre elas é o contato com o abismo de certos artistas, a figura mesmo da morte.

Corbjin filma em tons monocromáticos que puxam para o preto-e-branco mas não o preto-e-branco clássico, chapado. Há nuanças fotográficas em Control. E o cineasta vai juntando referências que abrem o íntimo criativo de Ian. Há alusões a David Bowie e Andy Warhol, seres visionários do visual provocativo, ambos criaturas ligadas ao cinema. Em determinado momento Ian cita versos do poeta inglês William Wordsworth (1770-1850), justamente os mais famosos, onde está a sentença de que o menino é o pai do homem. E o cinema aparece mais diretamente em duas seqüências referenciais: quando Ian descreve uma cena de Apocalypse now (1979), do norte-americano Francis Ford Coppola, em que o ator Marlon Brando recita o texto de Joseph Conrad sobre a coração e a consciência. E uma outra em que Ian está diante da televisão e o filme exibido é Stroszek (1977), a cena em que leiloam a propriedade do protagonista do alemão Werner Herzog; Stroszek, uma das tantas almas-limite de Herzog, é um bom signo  lingüístico para o retrato de Ian elaborado por Anton. Todas estas articulações citatórias não são erudição gratuita, pois o que querem é caracterizar um espírito narrativo; igualmente se distanciam da pirotecnia godardiana de Em Paris (2006), do francês Chrtistophe Honoré, pois em Control as citações parecem verdadeiramente estar a serviço dos desenhos de personagens, são uma espécie de incrustação psicológica.

Filme que acompanha e perturba o espectador, Control às vezes mostra que este mundo não é um bom lugar para se viver. Mas, pode raciocinar o observador, vale a pena estar nele nem que seja pelos breves momentos do prazer do cinema, do prazer de um filme como Control. (Eron Fagundes)