Crítica sobre o filme "Poderoso Chefão, O - A Trilogia (BLU-RAY)":

Jorge Saldanha
Poderoso Chefão, O - A Trilogia (BLU-RAY) Por Jorge Saldanha
| Data: 30/01/2009

Em qualquer conversa que trate sobre a história do cinema norte-americano, é impossível não citar a obra máxima do diretor Francis Ford Coppola, a saga O PODEROSO CHEFÃO. Baseada no best seller de Mario Puzo, ela mostra a trajetória da família de Don Vito Corleone, chefão da Máfia levado às telas magistralmente por Marlon Brando (quando velho) e Robert DeNiro (quando jovem). Após a morte de Vito, a liderança da família e seus negócios passa para o caçula Michael, papel que consagrou o astro Al Pacino. Mas o excelente elenco é apenas a face mais visível de uma produção esmerada que conquistou as platéias e a crítica com suas tramas enfatizando lealdade e traição, paixões, crimes e violência em tons épicos.

O filme original de 1972, em uma época onde as produções européias eram as queridinhas da crítica, mostrou o quão sofisticada, poderosa e elegante podia ser uma realização de Hollywood - elevada à categoria de arte maior, graças ao trabalho de um cineasta diferenciado como Coppola, dotado de uma sensibilidade fílmica ímpar. E, fato raro, em 1974 Coppola conseguiu fazer de O PODEROSO CHEFÃO 2 um filme tão bom (para muitos ainda melhor) como o original. Ambos conquistaram merecidamente o Oscar de Melhor Filme, porém nem precisariam do reconhecimento da Academia para ser o que são – dois filmes essenciais dos anos 1970.

Claro que os elogios não foram unânimes – Coppola recebeu críticas por glamurizar a violência e a corrupção, mostrando os Corleones sob um ponto de vista simpático, apesar de todo o saldo de crimes por eles provocados. Mas ao enaltecer os triunfos, tragédias e ambições da “famigliaâ€, que possui um código moral muito claro, Coppola pura e simplesmente fez arte dissociada da dicotomia Bem x Mal. Por outro lado, a par de seu escopo grandioso e violento, a saga não deixa de ser um melodrama familiar como tantos que nos são trazidos pela literatura, cinema e televisão. Mas por sorte seu artesão foi Coppola, que soube como ninguém usar melodrama, gângsteres e Máfia para conquistar as platéias e a crítica de todo o mundo, montando o painel de uma América em transição – e assim como nas telas mostrava história, ele a fazia fora delas.

Por muito tempo os dois filmes foram considerados a versão definitiva da saga, até que em 1990 Coppola lançou O PODEROSO CHEFÃO 3. Sem dúvida, o segmento mais fraco da trilogia, graças a algumas decisões questionáveis do realizador – como a escolha da filha Sofia, muito limitada como atriz, para um papel de grande relevância; ou ainda colocar o clímax da trama em uma longa seqüência de ópera. Ainda assim o longa conseguiu a façanha de ganhar mais um Oscar de Melhor Filme, e ao seu final, fechando o ciclo dos Corleone com o destino do patriarca Michael, é impossível que o espectador não reverencie, comovido, a obra que o próprio Coppola classifica como um grande filme em três atos.