Crítica sobre o filme "REC":

Rubens Ewald Filho
REC Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/02/2009

Este é melhor filme de terror que eu vi nos últimos tempos. Uma produção espanhola, que os americanos já se apressaram em refilmar igualzinho, como Quarantine (2008) que, por sinal, já estreou por lá. Provoca sustos legítimos e não faz concessões e, principalmente, não recorre a tortura ou coisa que o valha. Conta uma história de uma forma surpreendente e assustadora, mesmo que seja obviamente inspirado em A Bruxa de Blair (1999), ou mesmo Cloverfield (2008), usando a mesma técnica. Ou seja, há uma câmera de vídeo digital, que vai gravando tudo, em tempo real; ou seja, só vemos aquilo que ela gravou.

É sobre uma jovem repórter, de um programa noturno chamado Enquanto Você Dorme, que está fazendo uma reportagem sobre o cotidiano dos bombeiros. E, como diz um deles, é uma roleta, pode não acontecer nada, ou pode ter algum acontecimento emocionante. No caso, uma chamada de urgência, para socorrer uma velha, que está presa em seu quarto. Só que, chegando lá, as coisas não são bem assim: a velha está meio louca e ataca o zelador, mordendo-o. Aos poucos, vai-se descobrindo que há algo muito errado, tanto que chega a polícia e cerca o lugar, impedindo todos de saírem (no caso, policial, bombeiro, a repórter e seu câmera, que continua a gravar tudo, mas sem o vermos direito; tudo de forma convincente). Estão em uma forma de quarentena, até descobrirem direito o que está sucedendo.

Tem gente que reclama que a câmera se mexe demais (coisa que não me incomoda), e outros têm dor de cabeça. É preciso gostar do gênero para se deixar envolver. Curto, direto, com alguns momentos muito fortes (mas sem exageros, como os filmes de terror recentes), o filme é obrigatório para quem curte o gênero. O título, obviamente, se refere à tecla de gravação da câmera.

O diretor Jaume Balagueró fez antes A Sétima Vitima (Darkness - 2002), e o parceiro Paco Plaza também tem experiência no gênero, tendo dirigido vários filmes. Experimente! (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 15 de dezembro de 2008)

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Em [Rec] (2007), filme espanhol dirigido por Jaume Balagueró e Paco Plaza, lá pelas tantas é o próprio narrador cinematográfico que é assassinado em cena, vítima de seres das sombras cujas identidades nunca são, evidentemente, aclaradas; o narrador em [Rec] é formado pela soma da repórter em cena mais a câmara subjetiva, o narrador a certo momento é o próprio ato de filmar, obscurecido aqui e ali por uma ação agressiva contra a câmara (que vem de dentro da imagem: a polícia ou personagens contaminados pelo mal) que interrompe a imagem e mergulha o filme em suas trevas. Os realizadores fazem um filme que experimenta com a linguagem, mas ao mesmo tempo é puro e descabido comércio; os maneirismos formais e temáticos do filme se evidenciam e tornam muitas vezes inconsistentes os propósitos narrativos. Mas [Rec] é bastante melhor e mais sinuoso que o americano A bruxa de Blair (1999), de Daniel Myrick e Eduardo Sanchez, para referir um filme que igualmente se propunha como um falso documentário que conduz a um gênero inusitado, o documentário de horror (a fantasia descabelada dentro dum real simulado), neste sentido este tipo de realização topa ecos longínquos em Canibal Holocausto (1980), do italiano Ruggero Deodato.

Apesar de suas possíveis falhas e uma incômoda inutilidade de suas seqüências-choque, [Rec] é um divertimento que pode ser visto sem susto. Quer dizer, talvez alguns sustos, dependendo da epiderme do espectador. (Eron Fagundes)