Crítica sobre o filme "Profecia, A":

Jorge Saldanha
Profecia, A Por Jorge Saldanha
| Data: 19/02/2009

Na esteira de filmes que possuíam o demônio como tema, e cujos principais exemplares foram O BEBÊ DE ROSEMARY (1969) e O EXORCISTA (1973), em 1976 o diretor Richard Donner (SUPERMAN – O FILME, série MÃQUINA MORTÃFERA) estreou na tela grande com A PROFECIA (THE OMEN), filme de terror impactante que gerou duas sequências cinematográficas e uma refilmagem. Neste primeiro e superior filme somos apresentados a Damien Thorn (Harvey Stephens), um adorável garotinho que é, tão-somente, o Anti-Cristo, filho de um casal de embaixadores que vivem na Inglaterra (Gregory Peck e Lee Remick). O casal não sabe que, no dia do parto, o seu filho verdadeiro foi assassinado a fim de convencer Robert a trocá-lo por Damien que, conforme escrito na Bíblia, fora gerado no ventre de um chacal fêmea. Ao longo do filme a verdade será revelada a Thorn, em momentos de suspense muito bem conduzidos por Donner e filmados por Gilbert Taylor. As forças do mal começam a agir, providenciando mortes violentas àqueles que descobriram a verdade sobre o garoto. As cenas de violência, comparadas aos filmes de hoje, são poucas e discretas, mas a da decapitação do fotógrafo interpretado por David Warner tornou-se antológica.

Particularmente acho A PROFECIA realmente marcante não por suas cenas de terror ou suspense (que existem, mas não são particularmente assustadoras), mas por descrever sem concessões a progressiva destruição de uma família aparentemente perfeita e feliz. Neste sentido, um dos grandes acertos da produção foi a escalação dos ótimos Peck e Remick para interpretar o casal Thorn. Ambos atribuem a seus personagens o carinho e a sinceridade necessários para que passemos a efetivamente gostar deles – algo essencial para que a tragédia subsequente gere na platéia o impacto almejado por Donner. E este objetivo fica plenamente atingido nos momentos finais e chocantes do filme, quando Thorn está prestes a assassinar a criança que, desde o nascimento, amou como se fosse seu verdadeiro filho.

Outro grande mérito da produção é a trilha sonora original composta por Jerry Goldsmith (1929-2004), que lhe valeu seu único Oscar. É uma partitura brilhante onde se destaca a faixa de abertura, “Ave Sataniâ€, com o coral entoando cantos profanos em latim acompanhados pelos acordes opressivos e ameaçadores da orquestra - sem dúvida, um dos elementos inesquecíveis do filme. Apesar de à época ser considerado pela crítica um título menor em comparação com O BEBÊ DE ROSEMARY e O EXORCISTA, sempre preferi A PROFECIA a eles, e acredito piamente que a música de Goldsmith tem muito a ver com isso. O grande sucesso gerado trouxe, em 1978, a primeira continuação – DAMIEN: A PROFECIA II, onde a exemplo do filme anterior, há mortes antológicas, como a no lago congelado, e a do médico cortado em dois pelo cabo de um elevador. Novamente, Goldsmith compôs uma ótima trilha, porém esta continuação, apesar dos sustos e mortes, perdeu em impacto.

Finalmente, em 1981, A PROFECIA: CONFLITO FINAL, dirigido por Graham Baker, propôs-se a encerrar as aventuras do Anti-Cristo. Já adulto, Damien (Sam Neill) resolve estabelecer o domínio de Satã na Terra não pela religião, mas através da política e do domínio econômico. Essa linha é um dos elementos mais interessantes do filme, que de resto, é o mais fraco exemplar cinematográfico da série. De positivo, mais uma antológica trilha de Goldsmith (uma das mais líricas de sua carreira) e a revelação de Neill. A Fox lançou em Blu-ray no Brasil A PROFECIA e suas duas sequências, e felizmente “esqueceu†do ridículo telefilme A PROFECIA 4 – O DESPERTAR. O remake de 2006 já havia saído aqui em Blu-ray, mas não se iluda – vendo o original, fica impossível imaginar o que passou na cabeça dos executivos que resolveram refilmar, de forma medíocre e desnecessária, este clássico de 1976.