Crítica sobre o filme "007 Contra o Satânico Dr. No":

Jorge Saldanha
007 Contra o Satânico Dr. No Por Jorge Saldanha
| Data: 22/02/2009

O filme que iniciou a saga de James Bond não esconde ser a produção mais modesta da série, alguns pontos da trama são hoje simplórios e as cenas de luta são, para os padrões de hoje, toscamente coreografadas, mas ainda assim é indispensável para os fãs. E isso por uma razão – apesar dos livros escritos por seu criador, Ian Fleming, e de uma adaptação para a TV americana nos anos 1950 do primeiro deles, CASSINO ROYALE, foi com o filme 007 CONTRA O SATÂNICO DR. NO que efetivamente a lenda do agente secreto inglês começou. A partir daqui ele passou a ter um rosto – o do escocês Sean Connery, então praticamente desconhecido, mas cuja escolha acabou provando ser a mais acertada. Tanto que, até hoje, ele é considerado pela maioria dos fãs como o melhor 007 entre os seis atores que já interpretaram o personagem. Foi através de DR. NO que James Bond passou a ter repercussão mundial, com uma ótima aceitação pelo público, protagonizando a mais longa franquia cinematográfica da história, que até este momento já originou 22 filmes.

Além de definir as principais características do mais famoso agente do MI6 - corajoso, engenhoso, irônico, sedutor, bon-vivant, duro na queda e um frio assassino - DR. NO criou a base da fórmula que seria seguida à risca em suas seqüências: uma trama com muita intriga e suspense, locações exóticas, as “Bond Girls†com nomes de duplo sentido (a imagem de Ursula Andress saindo do mar em um sumário biquíni tornou-se um ícone da cultura pop) e um vilão com planos megalomaníacos de dominação. Temos também a introdução de personagens recorrentes, como seu chefe M (Bernard Lee), a secretária Moneypenny (Lois Maxwell) e o agente da CIA Felix Leiter (neste primeiro filme vivido por Jack Lord, que se tornaria famoso anos depois ao estrelar a série HAVAà 5-0). Após a famosa “Gun Barrel Sequence†(vemos Bond como se do interior do cano de uma arma, ele se vira na nossa direção, atira e uma cortina de sangue cobre a imagem) chegam os créditos de abertura animados de Maurice Binder acompanhados pelo lendário "James Bond Theme" de Monty Norman, com o arranjo de John Barry que o celebrizou.

No entanto outros elementos da fórmula ainda não apareceram em DR. NO, como a sequência de ação antes dos créditos iniciais (introduzida em MOSCOU CONTRA 007, o filme seguinte), a canção de créditos iniciais (que viria em 007 CONTRA GOLDFINGER, o terceiro da série), o mestre das engenhocas Q (aqui é o armeiro do MI6, Major Boothroyd, que fornece a Bond sua pistola Walther PPK) e o carro de Bond, sendo o mais célebre o Aston Martin (que também surgiria em GOLDFINGER). A própria trama difere um pouco dos outros filmes, já que se trata, basicamente, de uma investigação com um pano de fundo tropical, sem as frenéticas cenas de ação que futuramente caracterizariam a franquia (exceto pela fuga e a grande explosão da base do Dr. No ao final). Mas em compensação traz um roteiro forte, a direção estilizada de Terence Young e os divertidos flertes entre Bond e a descerebrada Honey Ryder (Andress). Mas o que importa mesmo é que, quase 50 anos e 21 longas depois, por seus próprios méritos DR. NO ainda é um filme divertido e essencial.