Crítica sobre o filme "Quatro Amigas e um Jeans Viajante 2":

Wally Soares
Quatro Amigas e um Jeans Viajante 2 Por Wally Soares
| Data: 24/02/2009
É reconfortante poder assistir um filme acerca da adolescência que, para variar, soe adulto e realmente tenha algo a dizer - e melhor ainda - se prende a autênticas emoções e vivências humanas, transmitindo não só valores, mas um divertimento genuíno. É nesta definição que - como seu ainda superior antecessor - este admirável Quatro Amigas e um Jeans Viajante 2 se encaixa, fazendo jus à suas personagens e não perdendo o foco ao continuar seguindo as experiências destas quatro garotas como aventuras essenciais. Se o primeiro filme dialogava acerca do amadurecimento, este é sobre como encontrar a si mesmo. E, mesmo que possa se perder em vezes e cair no óbvio em outras, é de certa forma admirável o que a roteirista Elizabeth Chandler (a mesma do primeiro) almeja na difícil tarefa de adaptar não apenas um livro, mas três. Em outras palavras, transformando três anos (ou nesse caso, verões) em apenas um. É inevitável, por isso, sentir alguma irregularidade, e o sentimento não é tão fresco quanto foi da primeira vez, mas os valores se mantiveram, e o coração no lugar certo, unido às boas intenções, acabam te conquistando, principalmente quando se pode ser contagiado pelo bom humor e o elenco recompensador.

O elenco surge como um dos fortes do filme, cujo ritmo ou mesmo autenticidade é diversamente levantado pela habilidade dos atores. As quatro atrizes principais todas parecem amadurecer e, mais uma vez, o destaque é de America Ferrera (Sob a Mesma Lua), uma jovem atriz cujo brilho nos olhos é incontestável. Mas Amber Tamblyn (O Grito 2) surpreende e não fica para trás, sua personagem é a mais interessante. Blake Lively (Aprovados) e Alexis Bledel (Sin City - A Cidade do Pecado) seguem, ambas igualmente convincentes. O mais interessante é podermos deliciar com alguns coadjuvantes bem dignos e em papéis ótimos, como Blythe Danner (Um Beijo a Mais), Shohreh Aghdashloo (Jesus - A História do Nascimento) e Kyle MacLachlan (Toque de Rosa), todos com papéis pequenos, mas suficientemente interessantes, conseguindo arrancar deles atuações pequenas, mas expressivas. Todos aqui contribuem muito para o funcionamento e o delineamento do filme, exaltando o senso de realismo e deixando diálogos e cenas outrora deslocados plausíveis.

Afinal, o filme pode tocar em conflitos muito reais (e sempre urgentes), ter personagens com as quais nos identificamos e simpatizamos formidavelmente e transmitir lições e valores certeiros, mas em muitas vezes é perceptível uma oscilação de clima descomprometido a um densamente mais sério, dependendo do momento soando até em vezes superficial. É um erro, felizmente, cometido poucas vezes e, no geral, o filme tem o encantamento e a dignidade para conquistar e envolver confortavelmente a audiência nas histórias contundentes destas garotas, cujas estradas se revelam muito essenciais e cujo fim é construído com uma competência ótima pelo roteiro, conduzido ainda de maneira leve e viva por Sanaa Hamri (em seu segundo filme), uma cineasta que, apesar dos pecados, compreende a natureza e o sentimento da história e sabe que, mesmo que seja um drama com conflitos psicológicos e emocionais em vezes sérios, é preciso sempre uma boa dose de humor, um clima descompromissado e aquele sentimento único de divertimento que se assemelha tanto ao das personagens em si nos respectivos momentos.

Recomendável então, é alertado que, primeiramente, é obrigatório ter visto o original. Parte da força deste filme é o sentimento que temos ao vermos as garotas com as quais tanto nos apaixonamos no capítulo anterior passando por novos testes e desafios. E claro, vale a pena ver a obra original, que é sim superior. É tavmbém digno alertar que, apesar do resultado final bom, do elenco muito competente, do belo visual e do clima sempre admirável, trata-se de um filme imperfeito, com rodeios, clichês e ocasionais momentos de previsibilidade. Ótimo então é vermos que tais defeitos são contornados com elegância por uma equipe simplesmente comprometida em contar a história de amizade dessas meninas, e o poder que esta história pode exercer é formidável. Basta se abrir e aceitá-la. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)