Crítica sobre o filme "Onde Está a Liberdade?":

Eron Duarte Fagundes
Onde Está a Liberdade? Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 20/02/2009
Segundo a barbeiro Salvatore Lajacono, personagem central de Onde está a liberdade? (Dov’è la libertá...?; 1953), um dos filmes menos referidos do italiano Roberto Rossellini, o espaço da liberdade está dentro da prisão, na solidão de sua cama da cela, e não nos largos espaços do convívio com a hipocrisia social. Onde está a liberdade? foi rodado quase ao mesmo tempo que Viagem à Itália (1953), mas o registro efetuado por Rossellini em Onde está a liberdade? é outro, a criação da comédia popular italiana de que seriam herdeiros gente como Dino Risi ou Luigi Comencini; é bem verdade que certos travessos toques cômicos há em De crápula a herói (1959), mas Onde está a liberdade? , especialmente confrontado com os abismos de Viagem à Itália, baixa a guarda metafísica do cineasta e busca uma comunicação mais simplória com aquele espectador que quer do cinema somente o divertimento.

É claro que Onde está a liberdade? não se desvia das intenções humanistas do realizador e em momento algum escorrega para a alienação. Interpretado pelo popular comediante italiano Totò, Onde está a liberdade? se estrutura como um drama de tribunal e não como uma narrativa penitenciária. Passa-se enquanto o protagonista está no tribunal sendo julgado por sua esquisitice de querer voltar para a prisão mesmo depois de ter sido solto pela lei; nos seus depoimentos, o réu conta seu crime que o levou inicialmente à prisão, a vida no cárcere, a soltura, a trapaça com que se infiltrou de volta na cela e agora relata seus esforços para ser condenado e preso e revela seu pensamento de que do lado de fora ser tem menos liberdade do que na prisão.

Onde está a liberdade? está de qualquer forma longe de ser um dos grandes filmes de Rossellini, mas se insere com muita coerência em sua obra. O frescor natural — encenar quase como se respira — pode ser topado neste pequeno belo filme do gênio italiano. (Eron Fagundes)