Crítica sobre o filme "Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada":

Rubens Ewald Filho
Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/02/2009

Outro título confuso para uma comédia romântica, que já chega com certo atraso. Foi escrito e dirigido por Peter Hedges, que fez “Do Jeito que Ela é†e o roteiro de “Um Grande Garotoâ€, “O Mapa do Mundo“ e o livro original de ‘Gilbert Grape’. Ou seja, não é comédia rasgada, assumida, nem romance. Fica num meio termo, o que determinou seu fracasso.

Também ajuda a gostar do filme se você curtir o humorista Steve Carell, de “O Virgem de 40 anosâ€, “Agente 86†e da série de TV “The Officeâ€. Sua cara de pau e seu jeito discreto estão em pleno vigor nesta história, onde ele faz o papel de Dan Burns, um viúvo que tem uma coluna, que leva o título original do filme (‘Dan in Real Life’), na qual dá conselhos para a vida amorosa das pessoas.

Quando toda sua família se reúne na casa de campo, ele conhece, por acaso, uma moça francesa inteligente e charmosa (Juliette Binoche, num papel de poucas chances). Interessa-se por ela, mas logo descobre que ela é namorada de seu irmão (feito pelo desagradável Dan Cook). Preciso dizer algo mais? Já não está claro todo o resto da história, as confusões, os problemas quando ela se junta a eles, seguido por tudo que manda o manual de dramaturgia.

Pena que, diante de uma história tão previsível, fica difícil se envolver com algo mais do que as paisagens de Rhode Island, com algumas canções neutras da trilha musical, ou torcer pelo final.

Dá para ver, mas sem qualquer entusiasmo. (Rubens Ewald Filho na coluna Clásscios de 7 de novembro de 2008)

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Existem famílias e famílias. Existem as famílias pequenas, famílias grandes, famílias distantes e famílias com cara de famílias. Embora o tema inicial de Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada não seja a família em si, mas a transição da vida de um homem que quer reconstruir sua vida, a família é algo que chama tanto ou mais atenção que o próprio personagem principal. Dan (Steve Carell, sempre ótimo) é um colunista que dá conselhos aos pais em relação aos filhos. Pai de 3 meninas e viúvo, Dan tenta lidar com a situação de ser totalmente responsável por sua família, e ao viajar para passar um final de semana com sua família em Rhode Island, ele conhece Marie (Juliete Binoche, radiante mais uma vez) uma mulher que o encanta à primeira vista e que o entende perfeitamente. Tudo seria perfeito, com apenas um detalhe: no mesmo dia em que a conhece Dan descobre que Marie é namorada do seu irmão Mitch (Dane Cook). A partir daí tanto Dan quanto Marie passarão por uma mudança de sentimentos e situações pelo fato de “embora proibido†sentirem um sentimento um pelo outro. Pareceria uma comédia romântica normal, se não fosse pelo grande trunfo do filme: a maneira como a família de Dan é descrita no filme. Eles são unidos, verdadeiros e partilham laços fortes...algo que existe sim hoje em dia, mas é raro. Os pais de Dan, Nana (Dianne West) e Poppy (John Mahoney) são os típicos pais corujas que abraçam todo o mundo sem deixar de cultivarem seus valores. As próprias filhas de Dan, Jane (Alison Pill), Cara (Britany Robertson) e até mesmo a pequena Lilly (Marlene Lawston) sentem-se mais confortadas com toda a família reunida do que sozinhas com o pai (com exceção talvez de Lilly que quer agradar o pai de todo jeito), talvez pelo fato de Dan ser o único que, depois da morte da esposa, se sente deslocado naquela situação. Muitos pensariam que Dan está maluco, pelo fato de se isolar, se afastar para colocar a cabeça no lugar, mas na verdade vemos um personagem que não se encaixa em um determinado circulo de relações.

O diretor do filme, Peter Hedges é craque nesta área de conflitos de família, já que dirigiu e escreveu Do Jeito que Ela É além de ser o roteirista de Um grande Garoto - onde em todos estes filmes há a semelhança do fato dos personagens principais não se encaixarem de algum modo. E é isso que nos faz pensar em Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada. Vemos que Marie acha Dan muito divertido e engraçado, ela se “identifica†com ele. Mas do mesmo modo nenhum dos dois não quer magoar Mitch, pelo fato dele ser a “vitima†da situação...e além de tudo a família de Dan nota que há algo de errado com ele, tenta conversar com ele (em uma hilária cena onde todos se reúnem na lavanderia) sendo que sua mãe até o “joga†nos braços de sua antiga colega de escola, Ruth (Emily Blunt em uma pontinha muito simpática), o que cria claros sentimentos de ciúme em Marie (que depois se vinga dele, ao preparar panquecas para Dan queimadas no café da manhã)...e tudo isso cria uma historia muito gostosa, inteligente e suave de se ver. É leve? Sim...mas também é emocionante, já que nada no final das contas é mais importante do que a nossa família. Seja ela do jeito que for. (Viviana Ferreira)

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As características melodramáticas de Eu, meu irmão e nossa namorada (Dan in real life; 2007), produção norte-americana dirigida por Peter Hedges, conduzem a narrativa por caminhos piegas, cheios de tiradas moralistas e condutos sentimentais de filosofia de botequim. Trata-se do ridículo conduzido à simpatia do público pela educação cinematográfica imposta pela indústria americana; a fita de Hedges é tão vesga e dramaticamente desorientada quanto certos exemplares do cinema brasileiro mal costurados (Orquestra dos meninos, 2007, de Paulo Thiago, por exemplo), mas a percepção ótica de um produto americano edulcora tudo e engana o espectador médio.

A história é simplória. Steve Carell (um insuportável canastrão) vive um escritor viúvo, pai de três filhas adolescentes, que vai visitar sua família; lá chegando, ao ir a uma livraria, topa com uma mulher que o fascina de cara (interpretada pela grande atriz francesa Juliette Binoche); de volta à casa de seus parentes, dá com o inesperado, a mulher que o deslumbrou na livraria é a nova namorada de seu irmão mais novo. Longe de um retrato familiar mais agudo, Hedges hesita entre drama e comédia, desmanchando o bolo em sentenças primárias sobre o comportamento de suas personagens.

Desajeitado e sem rumo, Eu, meu irmão e nossa namorada se esvai em dissertações tão inócuas quanto aborrecidas. (Eron Fagundes)