Com Judd Apatow na produção e Seth Rogen roteirizando e atuando, os dois “irmãos†continuam suas cruzadas na reinvenção deliciosa da comédia americana. As duas mentes criativas que tomaram Hollywood de assalto nos últimos anos, pulverizando clichês com idéias novas e transformando o mau gosto em afeição genuÃna – ao passo que constroem mais afundo o subgênero do “bromance†(comédia que foca o relacionamento fraterno de dois amigos) – fizeram de “Segurando as Pontas†um exercÃcio cômico dos mais bem sucedidos. Não só isso, mas uma paródia deliciosa daqueles filmes antigos do Supercine cujas tramas beiravam o absurdo na ação descerebrada. Neste aspecto, o filme se assemelha em gênero à “Chumbo Grossoâ€, comédia britânica sensacional que uniu ação com comédia numa trajetória satÃrica genial. Mas “Segurando as Pontas†encontra identidade própria e um estilo irreverente no clima fresco, no sentimento genuÃno de improvisação e nas sacadas cômicas diversamente geniais.
O filme de inÃcio ao fim soa autêntico. Nem todas as piadas podem funcionar e a duração é excessiva para o que propõe, mas em nenhum momento desacreditamos nos personagens, nos seus diálogos e em suas situações, por mais toscamente absurdas que possam parecer no fim das contas. O destaque na primeira metade é, portanto, o roteiro – cujos diálogos são ótimos – e dos atores, que caÃram como luvas em seus respectivos papéis. Além do inspirado Seth Rogen, fazendo o maconheiro que sempre fez, mas o elevando a uma naturalidade ótima, James Franco surpreende na sua fantástica atuação de um traficante de drogas hilariantemente fora de si. Ainda sobra lugar para Danny McBride, tÃpico coadjuvante nestes filmes, se realçar no melhor papel que já conseguiu, numa ponta muito engraçada e improvisada com muito bom gosto (ou mal, neste caso). A questão é que os momentos cercando as loucuras e as viagens alucinantes destes três são os melhores, como um perfeito se passado numa floresta, além da briga engraçadÃssima entre os três em certo momento.
“Segurando as Pontas†é também muito sem vergonha – e isso se torna apenas mais uma virtude. Sem restrições, manda tiros para todos os lados e acerta no alvo quase sempre. A premissa reunindo os maconheiros foi bem bolada e a vertiginosa fuga dos personagens é gostosa de assistir, principalmente quando somos brindados com cenas como a da fuga de carro, sem dúvida a melhor do filme. Quem tem o coração fraco precisará de algum apoio, já que o enfarte é um risco ao testemunharmos a trágica e engraçadÃssima cena. E muitas outras se seguem. O diretor pode não ousar além da irreverência, mas imprime uma agilidade e uma energia excelente ao filme, transformando tudo em entretenimento quase que obrigatório. A metade final é prova deste seu talento.
O filme é por isso altamente recomendável. É uma comédia com ação, humor esperto, história original, personagens inspirados e escolhas louváveis, fatores certeiros para moldar um clima sempre descontraÃdo e divertido. Não só isso, mas tem no elenco um motriz especial, com energia de sobra nas atuações muito engraçadas (mais uma vez, é inevitável não lembrar novamente de James Franco e sua construção perfeita – ele realmente ficou engraçado!). O filme em si é uma grande surpresa, levando em conta a pouca quantidade de comédias eficientes como esta na atualidade. Mas não poderÃamos ter duvidado de Apatow, que tem uma mão muito boa como produtor, ou mesmo no diretor, David Gordon Green, que realizou o nervoso e denso “Contra Correnteâ€. Se estes mesmos espertos homens continuarem com suas cruzadas, provavelmente poderemos esperar por uma revitalização definitiva do gênero – que já começou. Então apertem os cintos, que o piloto sumiu e, no lugar dele, Judd Apatow está no comando.
(Wally Soares – confira o blog Cine Vita)