Crítica sobre o filme "Fatal":

Eron Duarte Fagundes
Fatal Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 13/03/2009
O que me levou de imediato a ver esse filme foi a atriz Penélope Cruz. Mas também por curiosidade em saber do que seria mostrado por conta do título original: “Elegyâ€. Pois o nacional - Fatal -, não condizia nem pelo biotipo da atriz, nem pelo olhar triste dela no cartaz do filme. E confesso que fui olhar no dicionário, o significado de “Elegy†- Poema lírico, cujo tom é quase sempre terno e triste.

Um outro fator, me motivou também. Em ter na Direção uma mulher. Ela é Isabel Coixet. Ela também dirige A Vida Secreta das Palavras. Quem ainda não viu, não deixem de assistir. E até por conta desse outro, eu confesso que esperei mais de “Elegyâ€. Teria escolhido mal a atriz principal? Não sei dizer. O certo é que a Penélope, a mim, não deixou a personagem ficar memorável. Como deixou com a sua Raimunda, em Volver. Talvez se tivesse enxugado mais o roteiro. Claro que também ver Ben Kingsley, assim como Dennis Hopper, não deixa de ser um belo convite.

Assim feito, comecei a ver o filme. E… E lá veio a história do cara bem mais velho, David (Ben Kingsley), querendo transar com alguém mais jovem, Consuelo (Penélope Cruz). Não vejo preconceito nisso, até porque é algo tão corriqueiro no mundo real. Como também nem dá para ser o Tiozinho, já que ela já era uma mulher feita, de maior idade. Naquela caça… Ele, um cara cheio de escrúpulos, por ela ser uma das suas alunas. Agora, não sendo ela uma garotinha… Nem muito menos tinha pose de mulher fatal… Beleza, sim! Mesmo sendo nada ético, não dava para ver que todo o cuidado dele, não era por temer um processo de assédio sexual. Até porque era, ou seria, evidente para ela o interesse dele. Então, fora das cercanias da faculdade, não teria porque não paquerá-la, e com mais impulsividade.

Com o desenrolar do filme, vamos conhecendo a sua personalidade. Um cara bem metódico. Que não sabia se interagir muito bem. Mesmo em sala de aula, não despertava muito interesse dos alunos. A própria Consuelo parecia mais olhá-lo como um homem. David, embora fascinado pelo estudos da sexualidade, e dela sem os moralismos… não era um cara arrojado. Consuelo, para ele, era como um objeto de arte a ser admirado. Mas que queria tocar… Esperou até que o Curso terminasse. Ai sim, jogou seu charme. David também, tinha problemas de relacionamento com seu filho (Peter Sarsgaard). Paralelo a isso, mantinha um relacionamento com uma mulher muito mais madura (Patricia Clarkson). Uma relação livre, mas estável. Para não dizer, cômoda. Já que não havia cobranças. O que só ocorreu depois. Dela com ele. E dele com Consuelo. Mas nem isso o fez refletir. Fiquei pensando no porque da trama mostrar também os conflitos com duas pessoas maduras; e que mantinham um relacionamento aberto. Tinham muito mais vivências. Deveriam mostrar-se mais livres. Mais desapegados. Mas não foi o que fizeram. E nem foi Consuelo que mostrou a David como deveria agir. Foi George (Dennis Hopper), seu grande e único amigo. Aliás, o filme só não cai num marasmo, por conta das cenas com ele. De querer que logo apareçam outras.

O relacionamento entre Consuelo e David começa morno, mas depois, a paixão começa a desmoronar o castelo. Ciúmes, o devora, e a sufoca. Consuelo não gostou nada do monitoramento dele. Ela não era um quadro a ser vigiado. Tinha sede de vida. De liberdade. E nem eles esperavam muito dessa relação. Ela até pergunta a ele se ele a colocara no futuro dele. Adivinhem o que ele responde! Então, a partir dai… Desconfiança, ciúmes, cobranças… Tudo isso não mantém nenhuma relação de modo saudável.

Assim como, se o objeto amado fora escolhido pela beleza plástica, o que aconteceria se um dia, por uma fatalidade do destino, deixasse de sê-lo? Como ficaria a relação? A paixão de antes, cataria os caquinhos e manteria acesa a admiração de antes? Ou, mais que a piedade, em sentir que finalmente teria a posse definitiva? Ou o amor então se faria presente? Mas fora preciso vir à tona após um momento trágico? E para a mulher… Para quem gosta do rumo que a Diretora dá aos seus filmes, onde o crescente se dá do meio para o fim, ficará a desejar. Como falei no início, faltou algo mais para o filme ser considerado bom. A história se perdeu. Não me deixou com vontade de rever. (Valéria Miguez – confira mais detalhes no blog Cinema é a Minha Praia)

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Philip Roth é um dos mais estimados escritores norte-americanos da atualidade e ultimamente o cinema o visitou em duas oportunidades. Roth é feliz na literatura (embora trate sempre de certas melancolias desesperançadas), mas não parece nada feliz no cinema. Fatal (Elegy; 2008), produção norte-americana dirigida pela espanhola Isabel Coixet, parte da novela O animal agonizante, roteirizada por Nicholas Meyer, o mesmo de Revelações (2003), de Robert Benton, nascido de outra obra de Roth.

Não li O animal agonizante e, portanto, não poderei descer à mesma minuciosa análise comparativa que fiz há alguns anos debruçando-me sobre Revelações tendo diante de mim os conceitos que a leitura do livro de Roth me inspirara. Mas é fácil perceber que Fatal buscou na ficção de Roth os elementos mais superficiais e fáceis para um bem comportado espetáculo cinematográfico; pode ter desprezado alguns contrastes essenciais da narrativa de Roth, como já fizera Benton, para facilitar o sentido de cinema mais comercial; mas essencialmente o que se vê em cena são simplificações e estereótipos que, mesmo não tendo lido O animal agonizante e por mais concessiva que de repente Roth possa ter sido, o espectador vê que estão em Fatal pelas necessidades melodramáticas de sua realizadora.

Sem o controle emocional exibido em A vida secreta das palavras (2005) e aproximando-se bastante dos golpes rasteiros de Minha vida sem mim (2003), Fatal exibe novamente o gosto da cineasta pelo sentimentalismo mórbido. É bem verdade que há em Fatal uma afeição pela sofisticação intelectual que o distancia do grosseiro hollywoodiano de Revelações; uma trilha sonora inundada de gente como Bach, Beethoven, Satie, Vivaldi; elegância intimista de movimentos de câmara; a utilização de certas tiradas cerebrais do texto de Roth; mas nada serve para dar consistência ao descaracterizado melodrama que ruma para um final tão convencional quanto medíocre. (Eron Fagundes)