Crítica sobre o filme "Orquestra dos Meninos":

Eron Duarte Fagundes
Orquestra dos Meninos Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 03/04/2009

A parte mais emocionante de Orquestra dos meninos (2008), filme brasileiro dirigido por Paulo Thiago, são aqueles trechos finais em que, ao lado dos créditos, surgem as imagens documentais das criaturas reais que serviram de base para as personagens interpretadas por atores no filme de Thiago. A inspiração documentária da linguagem utilizada pelo cineasta em Orquestra dos meninos se concentra na tela desde o início, com a opção pelos toques de desglamurização visual e pela natureza singela daquelas vidas perdidas no agreste nordestino; mas logo a direção pesada e vesga de Thiago desmantela a naturalidade documental e cria embaraçosos artifícios de encenação, que começam pelo desajeitado dos astros televisivos (Priscilla Fantin e Murilo Rosa) contracenando com amadores e se sedimentam numa narrativa opaca e rígida como um teatrinho de colegiais —Orquestra dos meninos, apesar da longa experiência de Thiago, é o amadorismo cinematográfico em seu pior sentido.

Entre outras coisas, a realização vem alinhar-se numa corrente em voga no atual cinema brasileiro, voltada para o miserabilismo, mas bastante longe duma abordagem rigorosa e profunda. A criação de estímulos musicais para agregar garotos carentes poderia aproximar Orquestra dos meninos, ambientado no interior do Nordeste, de Maré, nossa história de amor (2007), de Lúcia Murat, ambientado em favelas cariocas; mas, apesar de seus problemas, o trabalho de Lúcia conta com uma mão cinematográfica mais hábil e envolvente.

Diante das honestas intenções de Paulo Thiago, o espectador gostaria mesmo é que a história do músico nordestino Mozart Vieira fosse retratado por um documentarista (Eduardo Coutinho, talvez). (Eron Fagundes)