Crítica sobre o filme "Corrida Contra o Destino":

Jorge Saldanha
Corrida Contra o Destino Por Jorge Saldanha
| Data: 16/04/2009
CORRIDA CONTRA O DESTINO, dirigido por Richard C. Sarafian em 1971, é um clássico road movie dos anos 1970 com todas as características do gênero: trilha sonora com muito rock, um carrão envenenado, um anti-herói que ganha a simpatia popular em sua viagem e, ao final, “se ferraâ€. Sua inspiração básica é o primeiro grande road movie Americano, SEM DESTINO (1969), porém aqui temos um rebelde solitário no volante de um dos grandes muscle cars da época – um Dodge Challenger 1970. Assim, não é de admirar que a grande ênfase do filme - que indiscutivelmente deixou um legado no gênero – seja as perseguições motorizadas, porém com um tempero de algo muito em voga na época - a rebeldia e contestação ao “Sistemaâ€. Assim, podem ser considerados descendentes diretos de CORRIDA CONTRA O DESTINO produções como LOUCA ESCAPADA (1974, de Steven Spielberg) e FUGA ALUCINADA (1974, com o mesmo Peter Fonda de SEM DESTINO) e até mesmo a série de TV OS GATÕES (1979, que virou filme em 2005). Em 1997 foi lançada uma esquecível refilmagem para a TV estrelada por Viggo Mortensen, com uma história completamente diferente.

Muitos elementos do filme hoje estão datados, como a mensagem “paz, amor e drogas†(esta perfeitamente representada pela motoqueira nua interpretada pela desconhecida Gilda Texter, que numa pausa no meio do deserto oferece a Kowalsky sexo e pílulas), a representação caricatural do casal de assaltantes gays a quem o protagonista dá carona, e até mesmo a determinação de Kowalsky em, a partir de certo ponto, quebrar todas as regras (dica: ele é um veterano do Vietnã...). No entanto, tais elementos colaboram para dar ao filme um sabor único, típico de sua época, e hoje ao revê-lo me senti transportado de volta ao velho e abafado cinema onde assisti CORRIDA CONTRA O DESTINO pela primeira vez, há trinta e tantos anos. À época o filme mostrou cenas de perseguição bem mais sensacionais do que as vistas em BULLIT (1968) e OPERAÇÃO FRANÇA (1971), que sublinhadas por um acompanhamento musical mesclando country e rhythm & blues, sem dúvida ainda hoje fazem valer a pena embarcar nessa viagem. A interpretação do elenco é quase minimalista, a começar pelo próprio Barry Newman, destacando-se apenas Cleavon Little no papel de Super Soul, que via rádio dedica conselhos e músicas ao fugitivo das estradas (qualquer semelhança do personagem com a DJ sem rosto de WARRIORS – OS SELVAGENS DA NOITE, de Walter Hill, NÃO É mera coincidência).

A trilha musical de CORRIDA CONTRA O DESTINO foi produzida pelo veterano compositor e músico Jimmy Bowen, que além de incluir canções de músicos country e rhythm & blues como Bobby Doyle, Doug Dillard Expedition, Delaney & Bonny & Friends, Mountain e Kim Carnes, compôs e interpretou com seu grupo The J. B. Pickers algumas faixas instrumentais, com destaque para “Freedom of Expressionâ€, muito conhecida aqui no Brasil por ser utilizada como tema do programa jornalístico GLOBO REPÓRTER, da Rede Globo. No filme esta música vibrante, quase um jazz rock, é ouvida durante uma veloz perseguição ao Challenger de Kowalsky.