Crítica sobre o filme "Procedimento Operacioal Padrão":

Eron Duarte Fagundes
Procedimento Operacioal Padrão Por Eron Duarte Fagundes
| Data: 22/04/2009

Há pouco as fontes internacionais atribuíram a Barack Obama, o presidente norte-americano recentemente eleito para comandar a nação a partir de janeiro de 2009, uma declaração segundo a qual fecharia a controvertida prisão da baía de Guantánamo, em Cuba, para resgatar o prestígio moral dos Estados Unidos da América. Por aí se vê que a forma bárbara com que o governo de George Bush reagiu às invasões bárbaras dos árabes, criando constrangedores guetos de humilhação e extermínio para lidar com muçulmanos de maneira geral, parece não interessar a Obama, antes pelo contrário: é um pouco uma questão de imagem antes de ser uma necessária questão de bondade. O documentário Procedimento Operacional Padrão (Standard Operating Procedure; 2008), dirigido por Errol Morris com um rigor jornalístico que se constrói todavia com uma força ficcional que não deixa de impressionar, se refere bem a isto: o que acabou atrapalhando a boa consciência americana foram as imagens, as fotografias em que os próprios algozes se deliciavam vendo os sofrimentos de suas vítimas; estas fotografias vazaram para o mundo e o que transparece ao longo deste cruzamento de imagens que é o filme, é a densidade erótica da dor humana que se provoca no semelhante. No fundo, a civilização é bárbara; e as melhores civilizações (?) o comprovam, a Alemanha que erigiu o nazismo e os Estados Unidos que inventou o pandemônio presidiário de Abu Ghraid, no Iraque (é este pandemônio de sangue e degradação que surge nas fotografias vistas no documentário sublinhadas por incomodados e incômodos depoimentos de policiais americanos que participaram daquela “atividade terrorista†institucionalizada por um Estado dito de direito e que após a refrega fecha os olhos para os subalternos e protege os graúdos, editando cuidadosamente as fotografias).

Certas situações e imagens deste documentário de Morris foram vistos em outro documentário que tratava do assunto, Um táxi para a escuridão (2007), de Alex Gibney, o caso básico dum taxista afegão que é preso como terrorista e “sumido†numa prisão americana no Iraque para terroristas árabes; mas Procedimento Operacional Padrão vai ainda mais longe em sua desolação na maneira como enfoca o delírio animalesco do ser humano mesmo no seio da civilização. Desde o título, que procura estabelecer distinções entre certas ações perversas, o ato criminoso (direto) ou uma situação operacional “compreensível†para o caso (haveria um crime indireto aí?), Procedimento Operacional Padrão usa de sarcasmo para demolir os mitos da boa democracia americana. (Eron Fagundes)