Por Jorge Saldanha
| Data: 25/04/2009
Na cultuada série de TV ARQUIVO X, que durou nove temporadas, seu criador e também roteirista e diretor eventual Chris Carter soube mesclar com perfeição, pelo menos durante os cinco primeiros anos, elementos de ficção cientÃfica, sobrenatural e suspense, todos embalados em teorias conspiratórias governamentais de grande apelo junto ao público. Dez anos antes deste segundo filme, a série chegara aos cinemas com ARQUIVO X: O FILME, focado no arco principal da série (a conspiração envolvendo os preparativos de uma invasão alienÃgena da Terra) e que foi uma ponte entre a quinta e a sexta temporadas. O longa fez um sucesso apenas mediano, e uma das razões para isso é que parte do público que não acompanhava a série na TV simplesmente não entendeu direito sua trama.
Por muitos anos se falou num segundo filme, porém um litÃgio judicial entre Chris Carter e a Fox adiou o projeto, que finalmente chegou à s telas em 2008. Como seria de se prever, o novo filme trouxe uma história totalmente autônoma para atrair espectadores casuais, que faz apenas referências breves e secundárias a elementos da série de TV. No entanto, é incompreensÃvel que um projeto há tantos anos acalentado pelos fãs e pelos próprios realizadores, sendo que muitos já haviam perdido a esperança de que um dia ele se tornasse realidade, tenha se revelado um filme fraco, onde pouca coisa funciona. Para começar, o enredo de Chris Carter e de outro veterano da série, Frank Spotnitz, ao mostrar Scully legalmente trabalhando como médica, esquece que, ao final da série, não apenas Mulder mas também ela fugira do FBI. Além disso, o script é uma salada de frutas que se baseia em duas tramas que nunca se combinam – a obsessão de Scully em curar um garoto com o uso de células tronco (uma tentativa de Scully tentar se redimir pela perda do bebê William) e a obstinação de Mulder em ajudar o FBI a localizar a agente desaparecida (a tentativa de Mulder se redimir pela abdução e morte de sua irmã), num caso que envolve um padre pedófilo (Billy Connolly), um casal de homossexuais e as experiências de um cientista maluco russo com transplantes de órgãos e cabeças!
Alguns dos melhores episódios da série tinham elementos bizarros, porém tão bem executados que se tornaram clássicos. Aqui, no entanto, foi tudo mal costurado e realizado, a ponto de termos apenas um tedioso episódio de quase duas horas de duração que poderia muito bem caber nos 45 minutos padrão do programa. A escalação do elenco também não ajudou. Não vou nem perder tempo falando do péssimo rapper Xzibit, mas Amanda Peet, como a agente que busca auxÃlio de Mulder (que, de procurado pelo FBI rapidamente é perdoado e aceita trabalhar no caso, sem maiores explicações fora o já batido mote “Eu Quero Acreditar†do personagem), está totalmente deslocada no filme. Idem o via de regra ótimo Billy Connolly, com um visual desgrenhado que em nada ajuda a seu personagem. Quanto a Duchovny e Anderson, nem mesmo a tensão sexual entre seus personagens, que por muito tempo ajudou a impulsionar a série, existe aqui. Nada é declarado, mas fica bem claro pelas cenas de intimidade que Mulder e Scully já há anos vivem maritalmente. Porém, momentos que há alguns anos fariam os fãs vibrarem, como o casal se beijando ou abraçado na cama, agora apenas provocam bocejos. O filme apenas lembra um pouco os bons tempos da série quando surge em cena o sempre bem-vindo Mitch Pileggi como Walter Skinner, ex-chefe do casal de agentes. Porém isso acontece quase no final, tarde demais para salvar o filme de ser uma experiência frustrante – que também inclui uma enigmática tentativa de fazer humor com o presidente Bush e uma trilha sonora de Mark Snow que simplesmente perdeu as caracterÃsticas únicas que possuÃa na série.
Dificilmente alguém teve paciência de ficar no cinema até ao final dos créditos, mas em DVD é mais fácil de se conferir a bizarrice final do filme – uma cena onde Mulder e Scully, em trajes de banho e a bordo de um bote a remo, trocaram o ambiente gélido do filme pelo sol e pelo mar e, aparentemente, estão indo rumo à tão almejada felicidade – com direito a acenos de despedida para a câmera. Infelizmente, pelo que se viu no filme, ambos e a própria franquia ARQUIVO X embarcaram isso sim num final melancólico e totalmente dispensável, que nos privará de assistirmos à invasão alienÃgena prevista na série para 2012.