Crítica sobre o filme "Jornada nas Estrelas: A Série Clássica Remasterizada - Primeira Temporada":

Jorge Saldanha
Jornada nas Estrelas: A Série Clássica Remasterizada - Primeira Temporada Por Jorge Saldanha
| Data: 27/04/2009
"Espaço, a Fronteira Final. Estas são as viagens da nave estelar Enterprise, em sua missão de 5 anos..." Por três temporadas a partir de 1966, a narração de William Shatner introduzia as aventuras semanais da nave da Federação dos Planetas Unidos Enterprise, na série concebida por Gene Roddenberry que, de lá para cá, deu origem a onze filmes para o cinema - o mais recente, dirigido por J.J. Abrams e que mostra o início das aventuras da tripulação comandada por James Kirk, estréia dia 8 de maio - e mais quatro séries de TV derivadas (sem contar a SÉRIE ANIMADA). Apesar de nunca ter sido considerada um sucesso na época de sua exibição, e mesmo com orçamentos baixos, JORNADA NAS ESTRELAS foi um marco para a televisão, um verdadeiro clássico que, mesmo depois de seu cancelamento, através das reprises, continuou conquistando uma legião de fãs ao redor do mundo e influenciando outras produções do gênero.

No Brasil JORNADA NAS ESTRELAS: A SÉRIE CLÃSSICA foi a mais exibida e, dentre todas as produções da franquia, continua sendo a mais popular. Revendo agora a primeira temporada remasterizada em alta definição e com novos efeitos CGI, as razões de tal perenidade são evidentes: em que pese o baixo orçamento dos episódios, refletido em cenários, figurinos e maquiagens de segunda, a série extrai sua força basicamente da empatia e sintonia do trio de personagens principais, e de ótimos roteiros criados por escritores como David Gerrold, Harlan Ellison e Dorothy (D. C.) Fontana. Dando uma rápida passada nos 28 episódios iniciais da série, encontramos não algumas, mas várias pérolas: entre elas "O Ardil Carbomite", "A Coleção" (o único episódio em duas partes da série, no qual foi aproveitado praticamente todo o primeiro episódio piloto, "The Cage", estrelado por Jeffrey Hunter e nunca exibido na íntegra), "O Equilíbrio do Terror" (surgem os Romulanos!), "Semente do Espaço" (Khan!) e aquele que é considerado o melhor episódio da série, o ganhador do Prêmio Hugo "A Cidade à Beira da Eternidade" (nos EUA da época da Depressão Kirk apaixona-se por uma pacifista e, ao salvá-la da morte, muda o futuro da Terra). Além da série abordar, sob o manto da ficção científica, assuntos que eram raros na TV à época de sua produção, como a política o intervencionista, a liberação feminina e o racismo, ela também trouxe um conceito original e otimista para o futuro, que ainda hoje possui um grande apelo.

Sendo a franquia mais rentável da Paramount, e em que pesem os resultados irregulares das últimas produções para TV e cinema, seria natural que o estúdio voltasse a nela investir. O primeiro passo foi, em comemoração aos 40 anos da SÉRIE CLÃSSICA, o lançamento do projeto de remasterização em alta definição das aventuras do Capitão Kirk e sua tripulação, nele incluída a substituição dos efeitos visuais originais por novos, feitos em computação gráfica. As quatro décadas de idade do material haviam deixado marcas nas tomadas de efeitos, onde notam-se sujeiras, arranhões e recortes, em muitos casos inerentes aos negativos originais, e se esse problema já era claramente perceptível em resolução standard, em alta definição ele revelou ser simplesmente catastrófico. Muitos fãs criticaram a Paramount, acusando-a de fazer na série o mesmo que George Lucas fez com a trilogia original de STAR WARS, no entanto vejo aqui um diferencial básico de abordagem: as cenas refeitas buscaram respeitar a planificação, tempo (tanto que a duração de cada episódio permaneceu a mesma) e, muitas vezes, até o mesmo ângulo de câmera (porém não mais estática) das originais. Em cenas combinando efeitos e cenas com atores, até mesmo a granulação da película original foi simulada. Enfim, a preocupação foi corrigir os defeitos de realização e melhorar as sequências, do modo menos intrusivo possível e sem alterar o sentido da trama. Como resultado a Enterprise, outra naves (algumas que eram apenas citadas na versão original agora aparecem na tela), os planetas e paisagens estão muito mais detalhados, animados e bonitos.

Provavelmente, com o lançamento do novo filme, muitos jovens espectadores casuais terão sua atenção atraída para a franquia e, se gostarem do que virem, terão interesse em experimentar suas origens. E para eles, este verdadeiro banho de loja que a Paramount deu na SÉRIE CLÃSSICA é mais do que recomendado.