Crítica sobre o filme "Watchmen: Contos do Cargueiro Negro ":

Wally Soares
Watchmen: Contos do Cargueiro Negro Por Wally Soares
| Data: 27/04/2009
Denso e meticuloso como é o mundo criado por Alan Moore na consagrada HQ "Watchmen", que dali pôde ser extraído duas histórias valiosamente interessantes. O curta em animação "Contos do Cargueiro Negro" é a atração principal. Com quase 30 minutos de duração, o curta é de uma morbidez cortante. Escuro, depravado e completamente sem vida, a história é das mais pessimistas e narra uma história completamente ancorada na alegoria de desistência humana e fragilidade psicológica da mesma. O conto de um capitão do oceano que é deixado a sós no mar após o assassinato de seus companheiros e a destruição de seu navio pelos temidos piratas do Cargueiro Negro é algo que só pode ter saído de uma mente realmente temerosa. Roteirizado pelo diretor de "Watchmen – O Filme" e de "300", Zack Snyder, o "conto" do Cargueiro Negro (sim, singular, não plural) é de fato uma história dentro da história. Algo extraído do mundo detalhado e fenomenal construído por Moore em sua HQ. Todos sabem que "Watchmen – O Filme" (e a gibi) trata-se substancialmente de um mundo obscuro e sinistro, onde os humanos vivem sob clima de ameaça constante e estão prestes a aniquilarem a si mesmos. Tendo como testemunhas um grupo de vigilantes mascarados que presenciam a queda após serem depostos. O curta carrega uma aura ainda mais dark. Seu personagem principal é depravado e começa a se debilitar dentro de sua insanidade e desespero. E isso é muito bem pontuado pela direção, que exagera nos visuais surreais como se capturasse o que houvesse passando dentro da cabeça do próprio homem selvagem. O destino do "capitão" é ainda mais sinistro pelas suas implicações humanas. Ver onde o desespero, a angústia, a insanidade e, principalmente, o ódio o leva é algo que leva à reflexão. Essa acidez que rege o conto é eficiente, e o curta deixa uma impressão. Violento, sujo e depravado como seu personagem, sua mensagem é a de que o ódio destrói a alma. E ele envia tal mensagem com pompa e muito barulho.

Lançado especialmente para uma edição em DVD especial, "Contos do Cargueiro Negro" vem acompanhado de uma espécie de "extra" que se torna em teoria um complemento realmente especial para "Watchmen – O Filme". E, enquanto o curta em animação possa funcionar para quem desconhece o mundo de Watchmen (HQ ou filme), o mesmo não se pode ser dito por "Sob o Capuz", um falso-documentário que depende completamente do filme (ou da HQ). O também curta-metragem é uma adaptação de uma série jornalística que aparecia ao fim de todos os volumes lançados da HQ de Watchmen, e é uma série ficcional que serve para aumentar o mundo regido em Watchmen para algo real, pop e tridimensional. Em "Sob o Capuz", um ex-Watchmen denominado "O Coruja" conta sua história como vigilante mascarado. No curta, somos apresentados a isso como uma entrevista. O Coruja sendo entrevistado e narrando sobre o que envolvia o grupo de vigilantes. Seus anseios, temores, inspirações e como o mundo funcionava. Também possui entrevistas adicionais com outra ex-Watchmen, a "Espectral", ou Carla Gugino. É um curta interessante e até bem informativo para quem (como eu) gostou do filme (ou da HQ) e é fascinado por esta realidade alternativa. Não vai funcionar para mais ninguém.

É difícil, alias, ver este DVD realmente agradando alguém por possuir, tecnicamente, apenas um curta em animação de menos de 30 minutos se não incluirmos o "extra" "Sob o Capuz". É fato que Snyder e companhia poderiam ter ido além e realizado mais curtas e concluido assim que o título fizesse jus e fosse não apenas "conto", mas "contos" do Cargueiro Negro. Expandisse a imaginação e criasse outros episódios acerca do tema. Não abandonando sua essência, vale dizer. Fica aí o pesar. Mas quem não se incomodar – e gostar especialmente do mundo dos Watchmen – fica aí a dica. É difícil, portanto, avaliar toda a experiência. Mas o saldo é sem dúvida positivo. Só deveriam ter feito uma edição mais completa – e menos exclusiva para fãs. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)