Crítica sobre o filme "007 Quantum of Solace":

Jorge Saldanha
007 Quantum of Solace Por Jorge Saldanha
| Data: 09/05/2009

Em 2006, 007 – CASSINO ROYALE fez um bem sucedido (em termos comerciais e artísticos) reboot da franquia mais longa do cinema, e desde então um novo filme com Daniel Craig como o lendário agente secreto inglês James Bond era mais do que aguardado. Os trabalhos no novo filme iniciaram já em 2007, e finalmente em novembro de 2008 007 – QUANTUM OF SOLACE chegou às telas de cinema. Dessa vez, no entanto, o filme não obteve a unanimidade de seu antecessor. Talvez o primeiro fator que causou estranheza (ou surpresa) foi o fato de que, pela primeira vez na história da série, um de seus filmes revelou ser a continuação direta do anterior. Os eventos de QUANTUM OF SOLACE iniciam apenas algumas horas depois do final de CASSINO ROYALE, e sua história é um prolongamento da trama daquele. Fãs e críticos não gostaram da curta duração do filme, que gasta bem menos tempo com os personagens (após a meticulosa "reconstrução" de Bond no longa anterior, aqui pouco ou nada é acrescentado à personalidade do herói), privilegiando as cenas de ação que, em sua maioria, foram concebidas dentro da estética truncada e frenética dos filmes de Jason Bourne. Também não ajudou o fato de a trama de QUANTUM OF SOLACE ter muitos pontos em comum com a de 007 – PERMISSÃO PARA MATAR (um dos mais criticados filmes da série), onde o agente secreto, após desertar do MI-6, parte em uma busca de vingança que o leva ao interior de um país latino.

De fato, QUANTUM OF SOLACE não é tão bom quanto CASSINO ROYALE. Mas se por um lado este não é um filme que vá ser lembrado com um dos melhores da franquia, por outro também não merece ser classificado como um dos piores, situando-se num confortável meio termo. Para melhor apreciá-lo, o espectador deve aceitar plenamente as mudanças implementadas na série, como a de mostrar um 007 ainda mais frio e cruel, sem o senso de humor irônico incorporado ao longo dos anos ao personagem. É um Bond nascido no século 21, para o bem ou para o mal, e se você aceitar isso terá bons momentos de diversão. A trama é mais realista, e como no filme anterior não há um vilão megalômano com planos de conquista. No entanto somos apresentados à organização criminosa Quantum, que provavelmente desempenhará nos próximos capítulos o papel que a Spectre teve nos filmes dos anos 1960. A Bond Girl Camille, também movida por uma vingança pessoal, une-se a Bond na luta contra o integrante da Quantum Dominic Greene - o problema é que a dupla, além dos vilões, terá também de enfrentar a CIA e o MI-6 de M (Judi Dench), que está à caça do desertor 007. O que talvez espante a muitos é que Bond, pela primeira vez, não vai para a cama com a Bond Girl - sua relação com Camille é quase paternal.

Apesar do roteiro um tanto conturbado, da fraca canção título interpretada por Jack White e Alicia Keyes e de uma das trilhas incidentais menos inspiradas de David Arnold, QUANTUM OF SOLACE é uma competente aventura de espionagem que amarra satisfatoriamente as pontas da trama deixadas soltas em CASSINO ROYALE, além de fazer algumas interessantes referências a cenas memoráveis de filmes anteriores. Daniel Craig, mais uma vez, demonstra ter sido uma ótima escolha para encarnar este novo Bond, e a russa Olga Kurylenko (de HITMAN e MAX PAYNE) pode não ser uma Eva Green (a Vesper de CASSINO ROYALE é uma das melhores Bond Girls de todos os tempos), mas consegue dar à sua personagem a credibilidade e motivação exigidas pela narrativa. O diretor Marc Forster (EM BUSCA DA TERRA DO NUNCA), não habituado ao gênero, sai-se bem em um filme mais comercial e direcionado à ação. Com tudo somado, o resultado garante que haverá novos filmes do agente inglês, mas apesar das mudanças na fórmula que os novos tempos exigiram, talvez seja melhor que os produtores voltem a colocar nela um pouco mais de Bond, tirando um tanto de Bourne. Um pouco de humor e irreverência não faz mal a ninguém.