Crtica sobre o filme "Dirty Harry Ultimate Collector´s Edition - BLU-RAY EUA":

Jorge Saldanha
Dirty Harry Ultimate Collector´s Edition - BLU-RAY EUA Por Jorge Saldanha
| Data: 22/05/2009

Clint Eastwood é, para dizer o mínimo, um ícone do cinema norte-americano. Desde a sua estréia fazendo pontas em filmes de monstros dos anos 1950, passando por sua revelação nos spaghetti westerns de Sergio Leone (como o inesquecível "Pistoleiro Sem Nome") e até chegar à consagração como diretor de prestígio, Eastwood sempre impressionou por seu carisma, talento como ator (sim, não confundi-lo com outros astros de ação canastrões que lhe sucederam) e presença física marcante. E para parte de seus fãs, o ator/diretor será principalmente lembrado por seu papel como Harry "O Sujo" Callahan, o policial linha dura de São Francisco que utiliza uma poderosa pistola Magnum calibre 44, protagonista de uma série de cinco filmes iniciada em 1971. A série DIRTY HARRY, apesar de ter perdido seu impacto ao longo dos anos, é um marco no gênero policial, tendo dado origem a vários filmes e programas de TV de temática semelhante, e alguns bordões do personagem, como "Do you feel lucky, punk?" ou "Go ahead, make my day", já fazem parte da cultura pop. De certa forma o último desempenho de Eastwood à frente das câmeras, no admirável GRAN TORINO (2008), é um tributo a este tipo de personagem que ele soube encarnar tão bem.

No primeiro filme, PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL (DIRTY HARRY), dirigido em 1971 por Don Siegel, somos apresentados a Harry, um policial conhecido por quebrar as regras e utilizar métodos violentos para prender os criminosos. Ao longo do filme descobrimos que ele é um sujeito inconformado com o sistema legal, que muitas vezes beneficia os criminosos. Seus parceiros via de regra são mortos ou feridos, e ele acaba se preocupando com a segurança do jovem mexicano que foi designado para trabalhar com ele. Segregado por seus superiores, as piores e mais difíceis missões vão para Harry, que ao final demonstra ser o único capaz de capturar o assassino psicopata e seqüestrador Scorpio (Andy Robinson). A cena em que ele captura Scorpio e o tortura, pisando em sua perna ferida, é forte e antológica. O filme gerou grande polêmica devido à violência, ao herói por muitos considerado fascista e, principalmente, por questionar a Justiça norte-americana.

Mas também fez muito sucesso, e Harry Callahan retornou em MAGNUM 44 (MAGNUM FORCE, 1973, direção de Ted Post). Desta vez, Dirty Harry vê-se face a face com um grupo de jovens policiais que, a exemplo do que ocorreu no Brasil nos anos 1960 (fato inclusive mencionado no filme), integram uma espécie de esquadrão da morte que começa a eliminar os chefões do crime que, graças a artifícios legais, sempre escapam da Justiça. O filme, roteirizado por John Millius e Michael Cimino, possui muitas cenas de violência, é inteligente ao fazer Harry confrontar colegas que são versões mais jovens dele mesmo, e surpreende ao colocá-lo em defesa do sistema que tanto critica. Outro mérito do filme foi revelar jovens atores como David Soul e o falecido Robert Urich, que protagonizaram respectivamente as populares séries de TV JUSTIÇA EM DOBRO (STARSKY & HUTCH) e VEGA$.

Em SEM MEDO DA MORTE (THE ENFORCER, 1976, direção de James Fargo), Harry retorna mais humanizado e um pouco mais bem-humorado, tendo que enfrentar um dos seus maiores desafios - uma parceira mulher (Tyne Daly). Além disso, deve resgatar o prefeito de São Francisco, que fora raptado e levado para a prisão abandonada de Alcatraz. Considero este um dos filmes mais fracos da série, e se não fosse por sua violência poderia ser confundido com uma produção televisiva. Além disso, o genial compositor Lalo Schifrin, autor das trilhas incidentais dos demais filmes, fez falta - neste, ele foi substituído por Jerry Fielding -, e a temática da emancipação feminina ficou completamente ultrapassada. Melhor é IMPACTO FULMINANTE (SUDDEN IMPACT, 1983, dirigido pelo próprio Eastwood), onde Harry, sempre em conflito com a chefia, investiga uma série de assassinatos cujas vítimas, todos homens, receberam disparos em seus órgãos genitais. Os crimes são cometidos por uma mulher (Sondra Locke, ex-Mrs. Eastwood) que, juntamente com a irmã, fora violentada anos antes pelas vítimas. Em sua investigação, Harry vai para uma pequena cidade no interior da Califórnia e lá conhece a criminosa, com quem acaba se envolvendo romanticamente. Este filme volta a discutir com mais ênfase as falhas do sistema legal e a Justiça feita com as próprias mãos.

Finalmente, DIRTY HARRY NA LISTA NEGRA (THE DEAD POOL, 1988, dirigido por Buddy Van Horn) é o último filme da série. Um assassino está eliminando celebridades cujos nomes estão numa lista feita por um famoso diretor de filmes de terror (Liam Neeson). O diretor surge como principal suspeito, e Harry, que agora tem um jovem chinês como parceiro, logo descobre que também faz parte da lista. Apesar de ser o filme mais convencional de toda a série, ele agrada por ter boas cenas de ação, inclusive uma divertida cena de perseguição automobilística que homenageia a antológica caçada automobilística de BULLIT (1968), mas com um detalhe: o carro perseguidor é um brinquedo explosivo guiado por controle remoto. Como curiosidade, vemos Jim Carrey em um de seus primeiros papéis, na pele da primeitra vítima - um astro do rock viciado em drogas.