Crítica sobre o filme "Vidente, O":

Wally Soares
Vidente, O Por Wally Soares
| Data: 14/05/2009
Baseado em uma obra de Philip K. Dick (mestre literário da ficção-científica), O Vidente - dirigido pelo instável Lee Tamahori - comete o maior pecado que uma ficção-científica pode cometer: a falta de plausibilidade. Para uma ficção-científica funcionar, é necessário que seja estabelecido um mundo que funcione diante da premissa e que tenha situações que soam verossímeis diante do que é apresentado, independente do absurdo ao qual a idéia principal está religada. Neste caso, O Vidente está mais para O Impostor e O Pagamento do que para Blade Runner e Minority Report, adaptações anteriores de obras de Dick. O problema maior aqui é que o maior pecado possível de uma ficção-científica não é o maior problema do filme. Sim, a situação é tão grave assim.

As boas idéias estão todas lá. Conceitos interessantes, premissa instigante e aquela curiosidade diante do fantástico. Acontece que o roteiro escrito por pelo trio Gary Goldman, Jonathan Hensleigh e Paul Bernbaum esmiúça qualquer elemento que a história de Dick poderia ter de interessante. Primeiro ao construírem um personagem apático terrivelmente mal interpretado por Nicolas Cage (quando este estava no mais fundo do poço), recheado de expressões patéticas e uma condução errônea em todos os sentidos. A identificação com o herói, portanto, é inexistente. E isso é fundamental. Alias, é duvidoso atribuir ao personagem de Cage o título de “heróiâ€, já que o roteiro o concebe de forma tão superficial e burocrática que fica muito difícil engolir sua hesitação quando fica dividido entre ficar com a mulher que ama e salvar o mundo. Segundo que a trama do filme não envolve em momento algum, e isso é fatal.

Inclua-se a isso momento de ação horrorosamente genéricos, efeitos especiais meia-boca e uma história que vai do nada ao nada, e temos uma justificada tragédia. Às vezes O Vidente soa como um filme tolo feito de forma descompromissada e, se não levarmos-o tanto a sério, pode ser que tenhamos uma pequena diversão. Mas é difícil fazer isto quando todos na produção estão fazendo o exato oposto, ao conceber o filme como se este tivesse algo de bom a entregar. É bem triste, neste caso, ter que ver no meio de tanta bagunça uma atriz como Julianne Moore, que depois de tantas incríveis performances se deixou ser devorada por Hollywood e escolhas nada coerentes. E vê-la atuando ao lado da insossa Jessica Biel é ainda mais vergonhoso. Para Biel, digo, já que a moça não é a pareo para ninguém a não ser quando se trata de beleza.

Irritações a parte, O Vidente trata-se do tipo de filme repugnante que nunca deveria ter saído da gaveta, e pode ser apreciado apenas no completo descompromisso e para aqueles que realmente não são exigentes. Nada justificável, raso, banal e todo mal estruturado, a ação não convence, o gênero é condensado e os personagens mais aparentam ser feitos de madeira. É tudo oco, sem vida, e sem sentido. Os princípios de Dick perdidos diante de tamanha mediocridade. O filme é lamentável, um exercício fútil de gênero. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)