Crítica sobre o filme "Sim Senhor":

Wally Soares
Sim Senhor Por Wally Soares
| Data: 20/05/2009
Partindo de uma idéia divertida e um tanto singular, Sim Senhor tem o que muitas das comédias do Jim Carrey tiveram para oferecer: ao submeter o personagem em situações cômicas diante de uma premissa absurda, constrói uma trama que o levará à auto-descoberta e para uma habitual lição de moralidade ao fim. Em outras palavras, se a idéia é de certa forma refrescante, é também apenas uma porta para um caminho já conhecido e incansavelmente percorrido. Mas existe uma explicação bem fundamentada para a existência contínua desta porta e o fato de nos vermos sempre caminhando pela estrada que parte dela: a jornada é – acima de todos os tropeços – boa. Sim Senhor é sim muito burocrático, mas têm, em seus cem minutos, humor o suficiente para divertir, entreter e te mandar para fora completamente satisfeito.

Então, prepara-se para ter, ao fim, aquela “descobertaâ€, a lição básica e um personagem em epifania, como ocorreu também com os igualmente divertidos Todo Poderoso, O Mentiroso e Eu, Eu Mesmo e Irene. Até esse momento inevitável (mas bem contestável) chegar, podemos tirar o melhor que o filme têm a oferecer e, dirigido com espirituosidade por Peyton Reed (Separados pelo Casamento), Sim Senhor ganha diversos momentos que, ainda que quase nunca autênticos, conferem certo clima genuíno para o tom cômico e satisfaz a audiência com situações em sua maioria bastante criativas e divertidas. A proeza de tal efeito é, obviamente, lançada aos ares pelo especial talento e timing cômico essencial de Jim Carrey que, bem eclético e tentando sempre se descobrir em outros gêneros, não esquece que é, antes de tudo, um comediante de alto escalão. Então, ainda que seja óbvia sua excelência dramática como a demonstrada com muita preciosidade no magnífico Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, faz bem ao saber que Carrey não esquece das raízes. Afinal, Sim Senhor não seria metade do que é sem Carrey por trás das acrobacias cômicas.

Carrey carrega a maior parte com caras e bocas que são sua especialidade. É um artifício que pode cansar, mas Carrey pode exagerar no momento mas nunca na extensão. Alias, ele constrói aqui um sujeito bastante simpático e, apesar das inconsistências óbvias e exageros catárticos que o roteiro o submete, uma figura bem real. Portanto, é interessante quando seu personagem finalmente decide questionar os ideais que vinha seguindo, num momento que é uma crítica à qualquer meio manipulativo de “auto-ajuda†ao concretizar o meio como uma verdade não inteiramente absoluta. Afinal, o “sim!†pode o libertar, mas sem a razão a perca do controle é inevitável. O que muitos dos seguidores de obras como O Segredo esquecem é justamente isso: da razão. Então, apesar deste momento caracterizar o fim da maior parte das risadas e o início da previsibilidade mórbida, marca ao menos pontos pela sua significância.

Mas o que mantém Sim Senhor sempre ágil, leve e solto é sua energia. O roteiro não apresenta qualquer consistência, e é muito irreal e implausível na maior parte das vezes, mas o exagero está a favor da comédia e o diretor sabe inserir um dinamismo que, apesar de nem sempre funcionar, quebra em momentos o formato convencional adquirido pela obra. As situações, porém, são sempre muito divertidas, as piadas dificilmente decepcionam e Carrey nunca deixa de implantar um sorriso em nossos rostos, nem mesmo quanto a insossa Zooey Deschanel está lá para tirar. Alias, se Chanel é chique, sofisticado e valioso, Deschanel é exatamente o oposto, como bem sugere seu nome. O resto do elenco coadjuvante não encontra destaques, a não ser por um inspirado Rhys Darby, mas cujo papel é bem limitado. Enfim, Sim Senhor pode ter suas muitas falhas, seu exagero gritante e sua previsibilidade, mas é incontestavelmente divertido. Faz rir. E uma comédia que atinge tal efeito está cada vez mais rara. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)