Crítica sobre o filme "Marley & Eu":

Wally Soares
Marley & Eu Por Wally Soares
| Data: 18/05/2009

Baseado em um best-seller, Marley & Eu foi escrito por John Grogan como suas memórias narrando a criação de sua família que, além de sua mulher e filhos, contava com a desastrada mas ilustre presença de Marley, o pior cão do mundo que secretamente se transformaria no melhor. A trajetória da família é contagiante, e a sensibilidade com a qual Marley & Eu é dirigido torna-se irresistível. Tecnicamente, a história é bem previsível e passa por caminhos já percorridos incontáveis vezes. O diferencial aqui é que o texto dos roteiristas Scott Frank (O Vigia) e Don Roos (Finais Felizes) tentam ao máximo se esquivarem de clichês, e a direção focada de David Frankel (O Diabo Veste Prada) conserva um tom maduro e um clima de afeição indispensável para a ligação entre a audiência e os personagens do filme, que se tornam tridimensionais e cujas experiência de vida nos atingem em cheio.

Então, desde sua singela cena inicial, com o casal recém-casado claramente apaixonados percorrendo a neve, até seu fim absolutamente comovente, Marley & Eu te pega de um jeito inesperado. Ele começa como uma simples comédia romântica e logo vai tomando ares surpreendentes, nos levando para uma carga emocional pesadíssima ao seu último ato, engrandecendo o drama do filme à algo autêntico e realmente muito belo. Não tendo lido o livro consagrado de Grogan, não sei como a experiência será para os fãs da obra, e nem se o filme é, de fato, fiel. Mas é perceptível que foi tudo feito com cuidado e, principalmente, paixão. Frankel sabe o que tem em mãos e os roteiristas não dispensam questões relevantes acerca do relacionamento entre John e Jennifer, que passa por altos e baixos durante um casamento recheado de tons e momentos distintos. O triunfo, porém, é mostrar todos os problemas, a felicidade, a risada e as tristezas da família ao lado do cachorro, inserindo assim uma significância necessária à história que anseiam contar. O filme possui, por isso, tamanha humanidade e sensibilidade que esmiúça qualquer sentimento de "previsibilidade" possivelmente extraído do roteiro, ou mesmo da direção convencional, que não ousa. Mas tanto Frankel quanto os roteiristas fazem um trabalho digno ao tornar a história de família dos Grogan como uma experiência de vida importante e contagiante, válida para reflexão e digna para comoção. Por isso, não se assuste se seus olhos te pegarem de surpresa ao fim. A emoção te pega de uma forma nada esperada, e apenas eleva Marley & Eu à um patamar claramente mais consistente e admirável do que de um filme convencional do gênero. O que lhe da sua força é seu senso irremediável de emoção e sentimento, e personagens puros e conquistadores cujas vidas nos tocam por serem como as de qualquer outros.

É válido ressaltar também que a dupla de protagonistas não faz mal. Owen Wilson (Meu Nome é Taylor, Drillbit Taylor) deixa de apoiar completamente na veia cômica para ressaltar ares mais dramáticos, e não compromete. Mas quem merece os elogios mesmo é Jennifer Aniston (Separados pelo Casamento) que, adorável, te conquista completamente com uma atuação sincera. A dupla constrói uma bela química que se revela essencial. Os coadjuvantes ilustres Alan Arkin (Agente 86) e Kathleen Turner (As Virgens Suicidas) apenas deixam tudo mais interessante. Juntando-se então um elenco competente, atributos técnicos relevantes e uma história das mais tocantes, e temos um filme realmente eficiente. Marley & Eu pode ter elementos reprováveis, seguindo fórmulas e caindo em clichês, mas o que tem a oferecer de virtuoso pesa muito mais do que tem de falho. E por isso ele te conquista, ao narrar uma bela história com qualidades incontestáveis. Ele se eleva, portanto, do mero sub-gênero de cachorros desastrados. Porque Marley é muito mais que isso. E da mesma forma que ele muda os Grogans, ele meche com a audiência.