A trama de policiais corruptos, famÃlias metidas no mundo do crime e irmãos em impasse não é nada de novo. O enredo de
Força Policial é, de fato, já um clichê. E o filme dirigido por Gavin O’ Connor é – além de excessivamente longo – cheio de inconsistência, passagens previsÃveis, estereótipos já cansados e muitos elementos fora de lugar. O que evita que ele se torne um filme totalmente descartável é a segurança com a qual ele é dirigido por O’ Connor, que faz o possÃvel para condensar os defeitos do roteiro o máximo possÃvel. Além disso, o filme entrega um elenco consistente que consegue injetar intensidade e dramaticidade plausÃvel ao território manjado de policiais e ladrões, culpa e redenção e a desestruturação de uma famÃlia diante das implicações criminosas dos homens que a compõe. E, neste aspecto, o filme ganha uma autenticidade ao trazer a tona os conflitos morais dos personagens de forma que convença. E, não só isso, mas consiga ecoar através dos desequilÃbrios narrativos da fita, que é recomendável.
O filme inicia-se com uma longa cena de créditos num jogo de futebol americano sendo jogado por times do departamento de polÃcia – um deles de Nova York e que serão o foco do filme. No jogo, os familiares estão lá na arquibancada. É uma tentativa bem realizada de já denotar um tom para o filme, mesmo que não seja em nada original. Os policiais em embate e os familiares como testemunhas. Alegoria competente ao que ocorre pelo resto do filme. Depois disso, já somos introduzidos ao conflito e seguimos uma cena primorosa em forma de plano-sequência. Seguindo um dos personagens até a cena do crime, a direção é nervosa, a fotografia realista e a longa tomada é admirável. Os grandes elogios, portanto, param por aqui. O resto do filme não passa do correto e aceitável.
Os personagens são interessantes e na maior parte das vezes a trama consegue envolver, o problema é quando ela começa a se arrastar, grande parte graças à banalidade da história, que luta para encontrar uma personalidade e uma ressonância maior. As restrições da abordagem muito convencional também podem atrapalhar em momentos que pedem um nervosismo tão intenso quanto aquele demonstrado no plano-sequência. E é com essa falta de urgência e constante passagem por elementos batidos que o filme vai perdendo sua força e, se não fossem pelas boas atuações e os personagens, o interesse estaria completamente perdido. Além de uma decente atuação de Colin Farrell (
Na Mira do Chefe), o destaque é o desempenho do sempre inspirado e talentoso Edward Norton (
O IncrÃvel Hulk), que injeta uma humanidade essencial ao personagem, o tornando a peça central da trama e no foco dramático do filme. Jon Voight (
24 Horas – A Redenção) surge de uma forma bem pretensiosa, mas não compromete. Já Noah Emmerich (
Pecados Ãntimos) está muito bem como o irmão que luta com seus demônios interiores e exteriores, lidando com a culpa e o câncer de sua esposa.
A trama previsÃvel foi roteirizada pelo já “expert†do gênero, Joe Carnahan, que escreveu e dirigiu filmes como
A Última Cartada e
Narc, sendo o foco deste último o mundo criminal. O’ Connor co-escreveu. O texto alça vôo quando foca nas intimidades morais dos personagens, mas perde o fôlego ao se ligar demais nas engrenagens corruptas da polÃcia sempre cansativas. Como um filme do gênero, também era de se esperar mais cenas de ação, mas quando tem, ao menos são bem realizadas. Apesar de possuir certa cena no clÃmax que beira o ridÃculo pela condução desastrosa e por ser muito implausÃvel, numa luta patética dentro de um bar. Mas a parte técnica não decepciona, incluindo boa edição e uma trilha sonora exemplar de Mark Isham. Elementos primordiais para deixar o ritmo do filme vivo mesmo quando a trama parece morta. Na sua totalidade, é um filme cheio dos equÃvocos, mas suas virtudes não devem ser totalmente ignoradas e elas garantem uma sessão digna, ao menos que seja abordada sem maiores compromissos. Afinal de contas, não é exatamente Scorsese.
(Wally Soares – confira o blog Cine Vita) .
Este filme traz uma revelação inédita sobre a policia nova-iorquina, ou de qualquer parte do mundo. Uma novidade tão grande quanto a de que Papai Noel não existe: que há muitos policiais corruptos e que os honestos não são a norma, mas a exceção. E que isso, como já vimos em dezenas de filmes e séries de TV (inclusive “The Shield“, que era basicamente sobre isso), acontece mesmo nas melhores famÃlias. Por isso é muito difÃcil suportar este filme, que é outro que vai direto para os piores do ano, inclusive por sua excessiva metragem, narrativa aborrecida e entediante, e principalmente pela sua fotografia escura (que, por vezes, impede o espectador de ver qualquer coisa, inclusive cenas de violência).
Nem mesmo o elenco famoso se sai bem, numa história que já era banal antes do cinema ser inventado. O Patriarca (John Voight), que controla a famÃlia de policiais, com o mais velho (o melhor do elenco, Noah Emmerich), que é chefe, tem problemas com a mulher morrendo de câncer (a talentosa inglesa Jennifer Ehle), e que faz vistas grossas quando seus subordinados começam a roubar e que tais. Mas a crise é deflagrada quando há um tiroteio, e quatro colegas morrem nas mãos de traficante, com o qual os corruptos estão fazendo negócios. Outro problema é Jimmy Eagan o genro da famÃlia Tierney (Colin Farrell, outra vez de bad boy) que, depois de 15 minutos, já ficamos sabendo que é bandido sem maiores escrúpulos, matando e roubando sem pudor, e comandando os colegas que são igualmente implacáveis.
O patriarca tem, porém, a má idéia de obrigar outro filho, Ray (o discutÃvel Edward Norton, que nunca me convenceu, e tem participação menor), a participar da Investigação do caso, na Corregedoria (ele antes já tinha mentido para proteger os colegas - o que é a norma - o que o fez perder a mulher, que se divorciou). Evidentemente é uma bomba relógio preste a explodir, mas tudo é tão redundante que o filme vai ficando mais violento, mais irritante, mais escuro. O diretor Gavin O´Connor fez coisas como Livre para Amar (“Tumbleweeds†- 1999), o esportivo Milagre (“Miracle†- 2004), com Kurt Russell, sobre hóquei. Mas aqui fez um filme totalmente dispensável, até repulsivo. (Rubens Ewald Filho na coluna Clássicos de 20 de janeiro de 2009)