Quando um filme surge com a ambição de retratar o Holocausto, ou qualquer outra história que esteja ligado à ele, é preciso que as mentes por trás do projeto reconheçam a fragilidade do tema. Em
O Menino do Pijama Listrado, que é baseado em um romance de John Boyne, somos introduzidos à uma história sobre o Holocausto que é ainda mais frágil e difÃcil de se contar, ao envolver – nesta sombria realidade – crianças. O filme, como o brilhante
O Labirinto do Fauno, mostra um mundo caótico e violento pelos olhos de uma criança. Em outras palavras, pelo olhar da inocência. Mas, ao contrário do filme de Guillermo del Toro, este não se liga à fantasias, mas apenas à ingenuidade. O longa ganha uma força especial, portanto, ao mostrar algo que já conhecemos por um ponto de vista completamente novo e refrescante. A forma como o pequeno Bruno encara o que está havendo à sua volta é apenas uma constatação do cinismo e da infelicidade de ser adulto, e ter que lidar, diretamente, com o mundo frio ao nosso redor.
Em sÃntese,
O Menino do Pijama Listrado é um ode à inocência. A percepção inofensiva do garoto diante de assuntos pesados, seus questionamentos ingênuos e sua visão totalmente livre de preconceitos quanto à humanidade, vendo simplicidade e beleza nas coisas que nós como adultos muitas vezes não damos o valor suficiente. O filme do hábil Mark Herman segue então essa narrativa leve pela maior parte do tempo. Herman sabe que nós sabemos o que está havendo e, por isso, nunca mastiga a história, se limitando à graciosa simplicidade de nos enviar apenas as visões pueris de Bruno. E é um acerto. A fluidez do clima é essencial e nos envolvemos com o personagem e este mundo de uma forma muito natural. Talvez o único grande equÃvoco da produção seja a estranheza relacionada ao
casting do projeto. Não que os atores estejam incorretos – alias, todos satisfazem, especialmente uma excepcional Vera Farmiga – mas o sotaque britânico substituindo o alemão deixa uma cratera no clima do projeto difÃcil de se entreolhar. Tirando isso, porém, não há motivos para reclamações. O filme apresenta uma bela direção de arte, um figurino admirável e uma fotografia rica em virtudes. Além de uma trilha sonora irretocável de James Horner, numa composição clássica que começa lenta e opressiva e, conforme vamos nos envolvendo na história e nos situamos na dramaticidade e tragédia da mesma, atinge um nÃvel onipresente e comovente nos acordes que puxam nas linhas do coração.
Alias, o ato final do filme é um cujo efeito oscila entre o inesquecÃvel e o assombrador. Com implicações perturbadoras,
O Menino do Pijama Listrado pode começar como um drama leve e interessante acerca da percepção da inocência de um mundo culpado, mas logo se transforma num drama pesado e trágico, mostrando até que ponto a sociedade está estigmatizada diante do cinismo que abraça em prol da paz. É sem dúvida um filme que marca e consegue emocionar sem cair no sentimentalismo e na manipulação. De uma forma madura e bem estruturada, constrói seu conto e seus personagens e, ao atingir o clÃmax, provoca a audiência com um ato tão chocante em sua ingenuidade quanto comovente em sua honestidade. Alias, a cena final é especialmente bem editada e dirigida de uma forma muito eficiente, alternando os dois lados de um acontecimento com precisão, logo transformando o momento numa cena tensa e emblemática. Seguida então por uma imagem perturbadora que amolece até o coração mais frio.
O Menino do Pijama Listrado é, portanto, um filme imperdÃvel. De fortes implicações morais e despido de estereótipos, peca apenas nos detalhes acerca da verossimilhança e, talvez, pode provocar certo estranhamente diante do público que visa atingir. E isso me traz de volta ao dito sobre a fragilidade do tema ao mostrar crianças diante de um tema tão pesado quanto o Holocausto. Não é um filme censurado, e realmente não possui nada gráfico ou errôneo em sua mensagem. Mas é um filme que pode soar pesado para um público mais infantil. Ele não deixa, porém, de ser essencial e importante. Principalmente para os adultos, que talvez precisam testemunhar e sentir o que acontece quando a inocência se choca com a culpa, numa catarse emocional e trágica capaz de moldar percepções e reger sentimentos.
(Wally Soares – confira o blog Cine Vita) .
A guerra atingiu o coração de milhões de pessoas...magoou, matou, feriu, destruiu...mas de todos os mortos, mais do que qualquer um, foram as crianças, anjos inocentes que morreram por uma cegueira criada por Adolph Hitler. E aos olhos de 2 crianças, bem distintas mas com a mesma inocência, é que a guerra é retratada na excelente adaptação do best-seller de John Boyne
O menino do pijama listrado, que conta a historia de Bruno (Asa Butterfield, excelente) um menino que sai da sua casa para viver em um local chato e cinza, que na verdade é o local aonde sua famÃlia irá viver para ficar mais perto do campo de concentração, já que o pai de Bruno é um comandante nazista em ascensão.
No local onde moram, Bruno vive entediado, e não gosta do novo professor que tem (que na verdade quer ensinar tudo sobre a raça ariana), e, um dia, foge de sua “prisão†e se depara com uma cerca, e atrás da cerca um menino com um “pijama listradoâ€. É Shmuel (Jack Scanlon), um menino judeu de puro coração que não entende porque veste um pijama ou está dentro de uma cerca- um anjo, que paga por um mal que não cometeu. A amizade é inevitável: Bruno vem ver Shmuel, eles brincam de bola com a cerca os separando, Bruno traz comida para Shmuel...e a inocência, imperando acima de suas “diferentes raças†traz à tona a questão do preconceito, da grande problemática existente em relação aos judeus na 2ª guerra mundial, e, como a inocência pode passar por cima de tudo isso, mas também ser engolida por isso.
O filme em sua parte técnica é um primor: destacam-se a fotografia de Benoit Delhomme, e a trilha esplendorosa de James Horner, para mim, sua melhor trilha desde
Titanic. Em relação aos atores, todos vão muito bem: de David Thelis como o pai de Bruno, passando pelas crianças Asa Butterfield e Jack Scanlon, à uma atuação magnÃfica de Vera Farmiga, que interpreta a mãe de Bruno, e que vai definhando com a idéia de ter sua famÃlia transformada em nazistas, algo que ela não concorda. O diretor, Mark Herman de “Hope Springs†e “Little Voice†faz o seu melhor filme ao demonstrar a pureza de uma criança perante um mundo cruel. Ótimo filme, injustamente não lembrado nas premiações, digno não só de locação mas também de aquisição. Uma grande obra.
(Viviana Ferreira)