As relações de oposição e atração que se exercem entre o bonitinho apresentador David Frost e o sisudo ex-presidente americano Richard Nixon em Frost/Nixon (2008), ambicioso filme polÃtico dirigido por Ron Howard, podem facilmente ser comparadas com o que ocorre na trama do filme francês O último Miterrand (2005), de Robert Guédiguian, onde um jovem jornalista convive na mansão de últimos dias do polÃtico gaulês François Miterrand para compor a biografia autorizada do estadista. O relacionamento tenso e complicado da imprensa com os polÃticos é um tema sempre candente; geralmente os polÃticos (especialmente os executivos) detestam as caracterÃsticas abelhudas da imprensa e gostaria de responder como Nixon, tudo o que fazem é legal porque é feito pela nação, o ato de um chefe de Estado seria um ato da nação e portanto inquestionável.
O filme de Howard tem um material bastante interessante, semidocumental, rastreia os processos estéticos dos grandes filmes polÃticos dos anos 70, lembrando especialmente o documentário Corações e mentes (1974), e muito especialmente nas sequências de Frost/Nixon em que vemos imagens televisivas da guerra do Vietnã, mas é formalmente inconsistente e carece de profundidade em sua visão das coisas, por sinal muito mal explicadas ao longo da história (e neste filme não é diferente). Frank Langella na pele de Nixon tem uma interpretação excepcional. E Michael Sheen, se não é nenhum Langella, compõe com justeza o apresentador de televisão frÃvolo que é sua personagem. Se o filme falha, os atores ao menos brilham. (Eron Fagundes)
. Baseado na peça homônima baseada em fatos reais, muitos diziam (e ainda dizem) que Frost/Nixon poderia ser um fracasso. Por quê? Porque embora Ron Howard dirija bem ele é um diretor limitado, quadrado, que nunca avançou muito em seus longas, nunca tentando desafiar ou ser desafiado. Só que em Frost/Nixon, Howard não só faz a lição de casa como consegue uma proeza: ser denso ao extremo, brincando com os assuntos, jogando sempre... mas isto tudo claro é graças ao roteiro soberbo de Peter Morgan, que ao meu ver tem o roteiro do ano. O filme é baseado na peça de Peter, e tem outra grande qualidade: seus protagonistas são os mesmos da peça- Frank Langella, como Richard Nixon, e Michael Sheen, como David Frost. Enfim, o longa conta a história das entrevistas que David Frost fez com Richard Nixon alguns anos depois do escândalo que arruinaria a vida de Richard Nixon. O caso Watergate, que só pra entender foi quando no prédio Watergate cinco homens foram presos no dia 17 de junho de 1972 ao tentar colocar escutas nos escritórios do Comitê Nacional Democrata. O arrombamento, durante uma campanha eleitoral, foi investigado e levou aos membros de um grupo de apoio a Nixon - o Comitê para Reeleger o Presidente. Os invasores e dois cúmplices foram condenados em janeiro de 1973, e muitos, inclusive o juiz que os julgou, John Sirica, suspeitaram que havia uma conspiração que alcançava os altos escalões do poder. O caso acabou se transformando em um escândalo polÃtico amplo quando um dos arrombadores condenados escreveu para Sirica alegando ter havido uma grande operação de acobertamento do caso. Bem, depois desta explicação, houve toda aquela confusão, Nixon acabou renunciando e passando aquela vergonheira danada. No filme, a história parte deste ponto: dos acontecimentos no ano de 1972 até o inicio das entrevistas, onde posso dizer que David Frost penou muito nas mãos de Richard Nixon, até dar sua tacada de gênio e conseguir como resultado uma das mais importantes entrevistas já feitas na história dos Estado Unidos. E a história é uma verdadeira delÃcia. São diálogos bem formulados, bem interpretados, bem dirigidos. Michael Sheen mostra mais uma vez que é um ator realmente muito bom, enquanto Langella tem neste filme o papel de sua vida. Seu Nixon é uma verdadeira águia, mas também um homem caÃdo por sua derrota de caráter. E o elenco secundário também está impecável. Oliver Platt, Sam Rockwell e Mathew MacFadyen interpretam o trio que segurou as pontas de David Frost, pesquisando questões, organizando perguntas (e posso dizer que os 3 estão formidáveis), onde o destaque vai para Rockwell, que interpreta seu personagem com muita dignidade. Rebeca Hall faz Caroline Cushing, namorada de Frost, dando como sempre conta do recado, embora seu papel seja pequeno. Ao lado de Nixon, Kevin Bacon faz Jack Brennan, braço direito de Nixon, e Toby Jones faz Swift Lazar, conselheiro de Nixon. O elenco é fortÃssimo em seu total, e é isto que faz a diferença. Juntos todos os atores formam o quebra cabeça de forma tão perfeita que impossÃvel não se apaixonar por cada atuação. Posso dizer que, o que é curioso, é que Frost/Nixon, por ser tão desafiador, parece ser de Oliver Stone, enquanto W., de tão sutil que é, poderia passar fácil fácil por um filme de Ron Howard. Mas por ser esta força inatingÃvel, Frost/Nixon se consagra como um dos melhores filmes polÃticos dos últimos 30 anos. Também não posso esquecer de destacar a parte técnica, também impecável. A fotografia e a edição são maravilhosas, sendo que principalmente a edição de Daniel P. Hanley que foi indicada ao Oscar® de melhor edição (o editor já tem uma estatueta em casa por Apolo 13). E a trilha de Hans Zimmer? É gloriosa! Desafiadora, inteligente, e muito forte, com um tema em violoncelos que deixa qualquer um arrepiado. Mas como já divaguei anteriormente- é o roteiro de Peter Morgan quem brilha, incansavelmente, com sua beleza suprema. Peter é um ótimo roteirista, e vale destacar que em Frost/Nixon ele é a estrela maior. Um filme para ver com gosto e sair com um sorriso aberto. (Viviana Ferreira)