Crítica sobre o filme "Drácula de Bram Stoker":

Jorge Saldanha
Drácula de Bram Stoker Por Jorge Saldanha
| Data: 27/06/2009

O clássico livro de Bram Stoker, Drácula, foi publicado na Inglaterra em 1897, dando origem ao maior personagem da mitologia dos vampiros. Após passar pelo teatro, a obra recebeu inúmeras adaptações para o cinema e a TV, iniciadas pelo clássico do expressionismo alemão NOSFERATU (1922). As mais célebres continuam sendo as produzidas pela Universal nos anos 1930 e 1940, estreladas por Bela Lugosi, e as da produtora Hammer lançadas a partir do final dos anos 1950, com Christopher Lee no papel do sinistro Conde. Em 1979 a Universal lançou uma nova versão com Frank Langella no papel principal, atribuindo ao Conde uma sensualidade praticamente inexistente nas anteriores. Porém foi em 1992 que o livro recebeu sua mais caprichada e fiel adaptação cinematográfica, em um projeto que o afamado Francis Ford Coppola (trilogia O PODEROSO CHEFÃO, APOCALYPSE NOW) dirigiu para a Columbia. Para destacar que o filme se propunha a ser a mais fiel adaptação da clássica obra, ele foi batizado como DRÃCULA DE BRAM STOKER, porém muitos consideram que ele deveria se chamar, na verdade, “DRÃCULA DE FRANCIS FORD COPPOLAâ€. Mesmo que mantendo a base do livro de Stoker, o roteiro toma liberdades como a de, através de flashbacks, ligar Drácula à figura histórica de Vlad, O Empalador (coisa que Stoker nunca fez diretamente), e criar uma origem para o vampirismo do Conde - após blasfemar pela morte de sua amada, Drácula é castigado por Deus com a maldição do sangue.

Também, aprofundando a abordagem iniciada pelo DRÃCULA de 1979, o Conde de Coppola torna-se um sedutor, e a história de amor entre ele e Mina passa a ser o fio condutor de toda a trama. A característica mais marcante do filme é o seu estilo visual refinado e único: mesmo tendo à sua disposição elevados valores de produção e tecnologia avançada, Coppola optou por utilizar apenas técnicas de efeitos visuais tradicionais (ainda que aprimoradas ao longo de décadas) como efeitos de luz e fumaça, pinturas de fundo e retro-projeção. A maior exceção talvez sejam os excelentes efeitos de maquiagem, bem mais avançados que nas versões anteriores. O aspecto visual também é enriquecido pelos sofisticados desenho de produção e figurinos, e a construção de grandes cenários. A excelente trilha musical ficou a cargo do maestro polonês Wojciech Kilar, que realizou um dos melhores scores da década. Talvez o maior problema de DRÃCULA DE BRAM STOKER seja o de não se assumir como um legítimo filme de horror - o que, aliás, não seria mesmo a intenção de Coppola, que preferiu mostrar o personagem título quase sempre não como um vilão assustador, mas sim como uma criatura sofredora, amaldiçoada pelo vampirismo e pela perda de seu grande amor.

O longa alterna momentos onde o diretor habilmente consegue criar uma atmosfera ameaçadora e ao mesmo tempo sensual (como o primeiro encontro de Harker com as noivas de Drácula - sendo uma delas a deslumbrante Monica Bellucci em início de carreira), com outros onde os personagens, e a trama em si, parecem não saber direito para onde ir. Isto é ainda mais realçado pela dupla de norte-americanos Reeves e Ryder, claramente mal escalados para os seus papéis e incapazes de falarem com um sotaque britânico convincente. Hopkins, por sua vez, dá a seu Van Helsing um ar excêntrico, meio amalucado, inexistente no livro de Stoker. Em compensação Oldman, apesar de não possuir o tipo físico compatível com o de um Conde sedutor, e por vezes exagerar na atuação, revela-se um Drácula adequado à proposta do diretor, mesmo quando sob pesada maquiagem. Para mim Drácula sempre foi e será aquele vampiro impiedoso, calado, com o rosto pálido e os olhos vermelhos de Christopher Lee, mas é inegável que este DRÃCULA DE BRAM STOKER é a mais bem produzida adaptação do conhecido vampiro para as telas, possuindo méritos que a destacam das outras versões.