Crítica sobre o filme "Coraline e o Mundo Secreto":

Wally Soares
Coraline e o Mundo Secreto Por Wally Soares
| Data: 01/07/2009
O gênero da animação vem evoluindo drasticamente ao longo dos últimos anos. Deixando para trás a era Disney, as animações chegaram a um patamar onde algumas dificilmente podem ser denominadas como apenas animações. Os limites que rondam este gênero começam, com o tempo, a desaparecer. O desenho animado não é mais só infantil e não está sendo usado apenas para contar fábulas e entreter crianças. Com a ajuda da Pixar e mentes ávidas pela evolução estética e narrativa do gênero como Robert Zemeckis (O Expresso Polar) e Tim Burton (A Noiva Cadáver), o gênero alça vôo e acha um lugar especial e harmonioso entre as crianças e os adultos, rompendo a linha tênue que os separavam. Algumas deixam de vez o caráter infantil e abraçam o teor adulto completamente, como os recentes Renaissance, A Lenda de Beowulf e Persépolis. A nova empreitada do gênero, Coraline e o Mundo Secreto equilibra-se entre esse tom adulto e uma abrangência infantil, abraçando uma história madura e sombria que é uma fábula tão encantadora quanto tantas outras da Disney, com o diferencial de ser, consideravelmente, muito mais dark.

Neste aspecto, Coraline e o Mundo Secreto assemelha-se muito a A Noiva Cadáver, cuja narrativa sombria e fábula bela sobre o amor visava atingir ambos adultos e crianças. E este nova animação dirigida por Henry Selick (Monkeybone – No Limite da Imaginação) utiliza do mesmo estilo criativo de animação usado por Burton, que é o stop-motion, usando bonecos de modelagem e realçando movimentos digitalmente. Não é território novo para Selick, que já havia feito o ótimo James e o Pêssego Gigante e o cultuado O Estranho Mundo de Jack. Em contraponto à fábula de Tim Burton, porém, o foco aqui não é o amor, mas as relações familiares. Mais especificamente, a entre pais e filhos. E é neste núcleo emocional que se encontra o motriz do filme. Sensível e oportuno, o roteiro imaginativo visa dialogar com ambos pais e crianças acerca das relações regidas entre ambos, seja a falta de comunicação ou o simples distanciamento. Isso traz um toque original e urgente à animação, que foca o desespero de uma garota incomum ao descobrir um mundo paralelo. Sua história traz a tona questões interessantíssimas acerca de valores morais, paternalismo e imaginação em si. O filme possui, portanto, uma mensagem muito boa, revestida por camadas e camadas de obscuridade. Mas enquanto o formato possa ser obscuro, o filme é sempre reluzente em suas implicações.

O filme possui uma desenvoltura notável ao compor a própria personagem principal unindo elementos que podem agradar tanto o público masculino quanto o feminino – e falo aqui da criançada. Coraline é uma menina atípica, rebelde e aventureira. Ela possui também uma oscilação de tom e humor que reflete muito do que se passa no próprio filme. Isso traz, diversamente, certa irregularidade ao trabalho. Mas ele nunca deixa de ser interessante, e nem por isso instigante. A questão é que se trata de um filme beneficiado claramente pela ousadia dos criadores de se distanciar do lugar comum e abraçar corajosamente aspirações sombrias. Mas enquanto o filme possa atingir piques de tensão e “medinhoâ€, ainda não deixa de ser suficientemente imaginativo e visualmente impressionante o bastante para fisgar a atenção de qualquer um, pequeno ou grande. A impressão do filme deixada na audiência é forte e substancial o bastante para enviar qualquer um para fora com o filme ainda preso a cabeça. E ele dificilmente desaparecerá de sua ótica e de sua mente tão cedo. Só por isso, Coraline e o Mundo Secreto já merece uma clara – e forte – recomendação. É bem comum, porém, que haja habituais divergências quanto ao efeito da sessão em crianças de idades e culturas diferentes. Não se trata de um filme que agradará a gregos e troianos. Mas é indubitável que o filme impressiona tanto na estética criativa e hipnotizante, quanto no seu conto macabro e, ainda assim, especialmente tocante. Então até os mais céticos correm o risco de serem envolvidos na aura magicamente peculiar e desconcertante do filme, que te assalta a atenção e te instiga de uma maneira magnífica adentro de um mundo especial e único. Isso não é, afinal das contas, uma das maiores virtudes da sétima arte? O filme pode, então, ter irregularidade e falhas, mas nunca deixa de envolver, hipnotizar e fascinar. (Wally Soares – confira o blog Cine Vita)

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Dirigido por Henry Sellick, do excelente “O estranho mundo de Jack†e visionário por ser o primeiro stop motion em 3-d da historia, alem de ser o filme de stop motion mais longo já feito, “Coraline e o mundo secreto†é encantador. Mas mais do que encantador ele é duro...é forte e tem uma história extremamente afiada, o que poderá assustar um pouco as crianças (mas dar-lhes uma lição) e confrontar os adultos...não é uma história das mais fáceis mas por isto mesmo que o filme merece todos os créditos possíveis...não só é tamanho o capricho com que foi feito, mas devido a mensagem marcante que deixa em todos os que o vêem.

Coraline Jones (e ela deixa bem claro que se chama CORAline e não CAROline) é uma jovem que se muda com os pais para uma casa sem muitos atrativos...entediada com o novo lar, e sem o carinho devido dos pais que trabalham demais e não tem tempo para ela, Coraline acaba descobrindo, no canto de sua nova sala, uma passagem para um mundo secreto, que a leva para uma versão alternativa (e aparentemente muito melhor) de sua vida...sua mãe é doce e cozinha para ela (enquanto a “dura realidade†é outra: quem cozinha é o pai de Coraline e muito mal por sinal), ela tem toda a atenção dos seus pais e seu quarto é muito mais divertido que o original: é colorido e os animais de estimação falam e se movimentam...ela então começa cada vez mais ir para este mundo secreto, onde é convidada para ficar nele para sempre, sob uma condição: tem que arrancar seus olhos e por botões no lugar.

Muito assustador para as crianças? Talvez, mas é aí que a grande lição do filme para crianças e adultos é dada: As aparências enganam, tudo que vem fácil pode ir mais fácil ainda e...sempre existem as segundas intenções onde muitas vezes, as pessoas agem de tal modo apenas para receberem algo em troca. Adicione um roteiro extremamente bem alinhado com uma trilha sonora magnífica do compositor francês indicado ao Oscar Bruno Coulais, com uma arte visual estupenda, e tem-se aí um dos melhores filmes de 2009, original, muitas vezes divertido mas extremamente inteligente, que cativa, marca e sobre tudo nos faz refletir sobre como o mundo secreto de Coraline é parecido com o nosso, e como temos que tomar cuidado com a problemática aparência x essência. Filme digno de ter-se para coleção. (Viviana Ferreira)