Crítica sobre o filme "Hotel Bom Pra Cachorro":

Wally Soares
Hotel Bom Pra Cachorro Por Wally Soares
| Data: 03/07/2009
O terceiro filme "pra cachorro" lançado no período de um ano, depois do ótimo Amor pra Cachorro e o bobo Perdido pra Cachorro, este mais uma vez concretiza a péssima qualidade das traduções brasileiras, que insistem em utilizar termos batidos e populares que chegam a irritar. Pois bem, este "Um Hotel Bom pra Cachorro" talvez seja o que mais mereça sua tola tradução. Um típico filme que faria sucesso e viraria clássico na sessão da tarde, é uma fita previsível de início ao fim e com todos os clichês e estereótipos que poderíamos esperar do tipo de filme. Mas fica difícil repreender um filme totalmente quando este alcança um resultado tão sóbrio para o seu público alvo. Apesar de desnecessariamente longo, Um Hotel Bom pra Cachorro agradará às crianças com sua história fofa e boba, e também cativará adoradores caninos de plantão. Ele possui charmes o suficiente para isso. É uma pena então que tudo se sujeita à ser exaustivamente reciclado. Nada aqui soa refrescante, novo ou genuíno. É totalmente descartável e pueril.

Dirigido pelo estreante Thor Freudenthal, que imprime um visual cativante e digno, este acerta no tom do filme, que foca como paralelo a situação adotiva de seus protagonistas e os próprios cachorros sem casa e sem dono. Este aspecto é o que talvez seja o charme do filme, e alguns momentos mais "emocionais" conseguem esquivar da pieguice. Mas não é sempre que Freudenthal se contém, e na maior parte das vezes a comédia se restringe demais ao lugar comum ao traçar os problemas emocionais de seus personagens. O grande falho, porém, é o roteiro extremamente furado escrito à três mãos baseado em um livro de Lois Duncan (o novelista de Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado), publicado nos anos 70. O livro deve ser uma boa leitura, mas os aspectos literários são condensados pela visão excessivamente burocrática do script quanto às situações e aos personagens em si. São poucos os momentos que soam livres e autênticos. Tão poucos que dificulta a conexão do projeto com o público de idade mais adulta, que simplesmente não irão engolir grande parte dos absurdos e das inverossimilhanças do filme.

O que acontece aqui é um desequilíbrio infortúnio que pode ocorrer num projeto que oscila numa trama que diverge entre contato humano e contato animal. E o filme muitas vezes pode se deixar levar pelo charme dos divertidos cachorros e o efeito que terão na audiência. Na verdade, o filme pertence à eles. Apaixonados por cachorros irão identificar pela diversidade de cães e a mensagem do filme, que remete brevemente à Amor pra Cachorro, mas sem a densidade do mesmo. Os cachorros fazem o charme rolar e são a alma do projeto (e o fato de não falarem é ainda mais recompensador). Os personagens humanos acabam ficando em segundo plano, mesmo quando Freudenthal investe emocionalmente, eles acabam não correspondendo pela fragilidade com a qual foram construídos, e os atores não fazem mais do que o banal. O destaque mesmo vai para as participações de Lisa Kudrow e Don Cheadle. O problema maior aqui, porém, não é a identificação da audiência com os personagens e os conflitos – pois isso pode, sim, ocorrer – mas as diversas derrapadas de um roteiro que deixa muitas pontas soltas e insiste em vagar por caminhos ora enfadonhos, ora desastrosos. E então todo aquele peso emocional que o filme teria é esmiuçado por um script irresponsável.

Em síntese, Um Hotel Bom pra Cachorro é um conto de fadas urbano que poderia ter atingido o singelo mas estacionou vários níveis abaixo, se contentando em ser mero divertimento fácil e esquecível. Mas a incapacidade do filme de ser algo maior ainda não inibe o efeito agradável que pode causar no seu público alvo. E o filme é, de fato, inofensivo. Mas me mata que algo tão promissor em suas entrelinhas pode ter derrapado tanto ao ponto de se neutralizar, se tornando "mais um filme na prateleira". Então, é sim um típico longa sessão da tarde destinado a ser clássico, mas não apostaria tanto em sua resistência, graças às suas infelizes limitações. Mas isso é tudo bobagem, né? Se você for um dos que acreditam nisso, embarque na aventura que pode ser proveitosa. Caso contrário, a distância é advertida.