Crítica sobre o filme "Vida de Brian, A":

Jorge Saldanha
Vida de Brian, A Por Jorge Saldanha
| Data: 03/07/2009

Revendo MONTY PYTHON – A VIDA DE BRIAN, ainda podemos entender o porquê da polêmica causada pelo filme quando de sua estréia, no final dos anos 1970. A Igreja Católica condenou o filme, o que só colaborou para promovê-lo ainda mais (vide o caso recente de O CÓDIGO DA VINCI). A idéia original do grupo era, exatamente, fazer uma sátira da vida de Cristo, mas ao final, inteligentemente, os Pythons optaram por narrar a história de Brian, um atrapalhado judeu filho de uma prostituta, que nasceu na cocheira vizinha à de Jesus e passou o resto da vida sofrendo azaradas conseqüências da influência divina. Assim, no início, vemos o Messias (Kenneth Colley) pregando ao povo da Judéia, em uma representação séria. Mas aos poucos a câmera se afasta de Cristo, e quando ela passa a focar os espectadores – Brian e sua mãe entre eles - a gozação começa. De modo global, o filme é uma sátira mordaz à situação político-religiosa da região onde Cristo viveu, não poupando nem os romanos dominadores e nem os judeus subjugados, estes divididos em movimentos de resistência competindo entre si.

Se EM BUSCA DO CÃLICE SAGRADO, o primeiro filme da trupe, parodiava os filmes de capa-e-espada medievais, aqui o alvo são os antigos épicos religiosos de Hollywood como QUO VADIS? e BEN HUR. A este, aliás, há referências diretas, como o título do filme “esculpido†nos hilários créditos animados de Terry Gilliam, e cenas onde até mesmo o estilo da clássica trilha sonora de Miklos Rozsa é imitado. Há vários momentos antológicos, como o de Brian recitando suas parábolas a uma multidão que não está prestando a mínima atenção a ele; o Centurião ensinando como se escreve em latim, enquanto Brian picha as paredes com mensagens anti-romanas; aquele onde os Centuriões de Pilatos não conseguem segurar o riso ao ouvirem-no pronunciar o nome de seu “amigo†Biggus Dickus; e o impagável número musical no encerramento, onde os crucificados, felizes da vida, cantam a canção “Always Look on the Bright Side Of Lifeâ€. Isso sem falar numa sequência onde, do nada, Brian é abduzido por uma nave conduzida por dois ETs cartunescos, entrando em uma alucinante perseguição espacial (uma maneira de parodiar STAR WARS, que à época ainda fazia furor).

Dada a temática sensível (imagino o que aconteceria se, atualmente, alguém fizesse uma comédia sobre um contemporâneo de Maomé, por ex.) e a irreverência do filme, que não hesita em utilizar palavrões e nus frontais masculinos e femininos, ainda hoje A VIDA DE BRIAN é segregado por muitos. Uma pena, já que é uma das melhores comédias do período, com um ótimo nível de produção – as locações na Tunísia, perfeitamente capturadas por Terry Jones, deram a ele um visual semelhante ao dos clássicos épicos religiosos – e uma prova, em tempos de ESPARTALHÕES, de que é possível fazer humor satírico com inteligência.