Crítica sobre o filme "Harry Potter e a Pedra Filosofal":

Wally Soares
Harry Potter e a Pedra Filosofal Por Wally Soares
| Data: 14/07/2009

Quando J.K. Rowling começou a escrever sobre um mundo fantasioso em um guardanapo, provavelmente não imaginava o quanto suas idéias e aquele pequeno papel caminharia. Pois após os quatro primeiros livros (que se transformaram em grandes best-sellers), ela teve seu mundo transcrito para as telas. Nas mãos de Chris Columbus (o diretor bastante convencional de filmes como (Esqueceram de Mim), a primeira obra da autora encontrou no cineasta uma passagem segura, correta e eficiente. Extremamente fiel ao livro em quase todos os aspectos possíveis, Columbus mostrou imenso respeito pelo material, e almejou fazer um filme que se libertou dos limites literários. Ainda assim, a fidelidade excessiva trouxe também seus problemas. Imensamente longo, redondo e com diversos momentos desnecessários, é o claro exemplo de um exercício em cinema indubitavelmente admirável, mas não de todo polido. Para os fãs, o filme de Columbus foi um trinfo. Capturando o clima mágico e infantil, introduziu personagens e um novo mundo de formas detalhadas e claras, já envolvendo os espectadores que, oito anos depois – crescendo com as adaptações cinematográficas – seriam as peças chaves para o sucesso comercial da saga.

Como cinema, Harry Potter e a Pedra Filosofal tem seus limites. E pode custar chamar a atenção do público mais velho. Ainda assim, Columbus – por mais piegas e fraco que possa se revelar em momentos – possui um dom natural para estética e para clima. Fazendo jus ao mundo que retrata, a obra é cheia de magia e sentimento, personagens vibrantes, efeitos especiais cheios de textura e uma trama que instiga ao colocar a inocência em confronto com o mal – aqui revelado em menor grau, claro. Em suma, grande parte do valor do filme vem do material original. Mas Columbus – erros e tudo – merece ser elogiado por ter conseguido se esquivar do burocrático. Com um olho certo para definir seus personagens e construindo uma narrativa bastante clara – abrindo a porta de entendimento para idades diversas – o filme atinge um patamar altamente recomendável como entretenimento absoluto.

Entretenimento este que não seria nada sem os belos atributos técnicos. Os efeitos tem suas falhas – mais perceptíveis agora, oito anos depois – mas nunca deixam de ter textura e magia, nunca recorrendo ao gratuito. As peças de cenário são belíssimas, o figurino impecável e a fotografia, bastante admirável. Uma estética totalmente preparada para mergulhar a audiência neste mundo da forma mais palpável possível. Isso, porém, só se oficializa mesmo com a trilha memorável de John Williams que, além de atribuir ao filme o inesquecível e oportuno tema, ainda confere à ele uma música revestida por classicismo. São atributos como estes que fazem uma diferença ao compor Harry Potter e a Pedra Filosofal como uma obra completa.

O elenco britânico da película é também um achado. Os atores mirins demonstram um desconforto plausível, mas parecem ter encaixado bem nos papéis. São os veteranos que deixam a impressão. Liderados por um quieto e intrigante Richard Harris, que é a personificação perfeita de seu personagem, o elenco encontra o destaque mesmo é em Alan Rickman, que confere ao seu sinistro personagem uma secura genial, com tons de sarcasmo hilariantes. Robbie Coltrane, Richard Griffiths, John Hurt e, em especial, Maggie Smith, estão ótimos. A segurança e seriedade que seus talentos carregam à obra compensam em dobro as derrapadas da direção convencional de Columbus. É válido lembrar, porém, que o Harry Potter de A Pedra Filosofal – de 11 anos de idade – não é o mesmo de hoje. Levando em conta o que retrata e o público que visa atingir, a obra faz jus: é infantil, terno, bobinho, mas irresistivelmente divertido. Um escapismo genuíno enriquecido graças à uma obra original recheada de criatividade e instigação. A espera pelo segundo é inevitável.