Crítica sobre o filme "Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban":

Wally Soares
Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban Por Wally Soares
| Data: 14/07/2009

Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, o terceiro – e melhor – filme da saga, marcou a primeira mudança de diretor. Com a saída de Chris Columbus, e a entrada de Alfonso Cuáron (mais conhecido pelo espanhol "E Sua Mãe Também", mas com o clássico infantil "A Princesinha" no currículo) a série elevou-se a um novo patamar. O filme já começa a mostrar seu diferencial desde o início. Nos mergulhando na obra ao passarmos pelos logos tridimensionais da Warner Bros. e do título do filme, Cuáron já começa avisando que sua direção será tudo – menos convencional. E ele cumpre esta promessa com perfeição. De início, é notável avisar que a maior mudança de Cuáron talvez seja no clima. O Prisioneiro de Azkaban é um filme muito mais sombrio e atmosférico que os anteriores, abraçando um clima que, realçado por uma bela fotografia cinzenta, nos revela que chegamos à um mundo que não é só magia e amizade, mas que contém ameaças contínuas. E a partir desta noção a obra começa a ser traçada. Com uma fluidez maravilhosa (é o segundo filme mais curto dos seis já lançados), o longa é sempre ágil, direto ao ponto, mas sem nunca correr. O olho para enquadramentos e nuances de Cuáron é enriquecedor.

A história desta vez também atinge um pique derradeiramente mais emocionante. Cheio de sentimento, Cuáron investe muito nos seus personagens, e dá destaque aos diálogos mais pessoais. A ação do filme só chega mesmo no último ato, mas é um clímax que investe mais na inventividade do que no explosivo. A desenvoltura em sí do cineasta em contar esta história fantástica é o que encanta neste filme. Com um especial fetiche por reflexos – água e principalmente espelhos – Cuáron assume sua câmera com ousadia. A transição de suas cenas são cortes suteis, grande parte das vezes fluidos ao passar pelos tais reflexos. E, quando isto não ocorre, a transição segue o clima sombrio ao finalizar tomadas com um negro consumindo a tela, apenas para ser aberto na tomada seguinte. Mágico. Cuáron também exibe um olho oportuno para minuciosidade, ao mostrar detalhes de um mundo mágico mais exemplificado. Ele simplesmente não perde a oportunidade de elevar seu trabalho o máximo possível. No clímax, por exemplo, chegamos à um segmento que meche com uma transição temporal. Na criativa direção, Cuáron passa por dentro do relógio da torre, encontrando os personagens depois. No final do segmento, ele volta com a câmera, agora no sentido contrário. E são estas nuances que fazem toda a diferença.

Os efeitos especiais, como não deveriam deixar de ser, são um dos destaques. Muito superiores aos mostrados anteriormente, os efeitos impressionam diversamente. A trilha sonora de John Williams também atinge um nível de primor inesperado. Uma cena em especial possui estes dois elementos em seus melhores ao trazer Harry voando em um "hipogrifo". É a síntese perfeita do mundo construído por Cuáron, ao atingir uma magia genuína. E é essa magia contundente que importa. Quando o filme termina, temos a certeza absoluta que viajamos à outro mundo, em um escapismo digno dos melhores filmes de fantasia que o cinema pôde oferecer. Cuáron entende o valor da magia, e realmente investe nela. O seu destaque à árvore que quase matou os personagens no segundo filme é delicioso. Para mostrar a transição das temporadas, Cuáron exibe tomadas da árvore em épocas diferentes. Fantástico. O elenco juvenil continua crescendo como atores, mas Daniel Radcliffe – no papel título – ainda deixa a desejar, ao ser exigido uma carga emocional maior. Das mudanças no elenco adulto, temos a saída de Richard Harris (que faleceu) e a entrada de Michael Gambon no papel que fora dele. Gambon compõe um personagem bem mais diferente, mas estranhamente tão satisfatório quanto. O destaque do elenco – além de Alan Rickman – é Emma Thompson (em excêntrica atuação). Temos ainda os ótimos Gary Oldman e David Thewlis para adicionarem à qualidade. No geral, este terceiro filme é em si um avanço. Bem mais liberal na adaptação – sem medo de cortar os excessos e decepcionar os fãs – a série atinge seu pique como uma obra cuja linguagem cinematográfica é o seu forte. E não tem como não apaixonar pela condução de Alfonso Cuáron, um hábil e maravilhoso cineasta.