Crítica sobre o filme "Harry Potter e o Cálice de Fogo":

Wally Soares
Harry Potter e o Cálice de Fogo Por Wally Soares
| Data: 14/07/2009

Depois da reinvenção deliciosa de Alfonso Cuáron, a saga de Harry Potter continua neste quarto capítulo, com mais uma transição na cadeira do diretor. Agora, é o britânico Mike Newell (Quatro Casamentos e um Funeral) quem assume o comando do espetáculo. E este quarto filme é mesmo um espetáculo. Com um senso de aventura exemplificado e uma história com magnitude bem mais impressionante, o quarto filme faz jus ao livro ao encantar com o clima de escapismo bastante aguçado. E o entretenimento glorioso é o forte do filme. Até a meia hora inicial, porém, O Cálice de Fogo é um filme difícil de se envolver completamente. Iniciando-se abruptamente e assumindo uma narrativa muito corrida, sente-se que o roteirista teve um trabalho difícil ao economizar tempo. O quarto livro é um dos maiores e, desta vez, acontece muita coisa antes de Harry voltar pra escola. Em especial, o Campeonato Mundial de Quadribol, que é dominado pelos comensais da morte – seguidores do Lorde Voldemort. Vários cortes são feitos e o sentimento é mesmo de correria e pressa. Então, por mais mágico e divertido que os momentos iniciais podem se revelar, é impossível não denotar a eles um desconforto.

Mas depois da meia hora inicial o filme ganha um fôlego que mantém até a última cena, agora com uma fluidez mais adequada. Alias, é impressionante como as duas horas e meia do filme não incomodam em momento algum. O Cálice de Fogo está em constante clímax. Ao trazer o Torneio Tribruxo em cena, o filme mantém sua aventura de início ao fim – algo que nos anteriores só surgia de fato no ato final. Newell administra bem este clima aventuroso, e aproveita um baile para já começar a colocar os personagens – agora com 14 anos – com os hormônios à solta. Alias, algo bastante admirável nesta série é a dedicação que os roteiristas empregam aos personagens. Eles nunca ficam em segundo plano para efeitos especiais e ação estilizada. E o estilo da película é incrível. A obra traz ao menos quatro cenas de ação simplesmente sensacionais.

O filme funciona também como a resposta aos prenúncios sombrios lançados no anterior. Apesar de não transparecer este lado mais sombrio durante sua metragem – que parece se concentrar mesmo no êxtase do Torneio – o clímax do filme é a consolidação de que as coisas neste mundo estão consideravelmente mais perigosas, marcando ainda a primeira morte de um personagem importante (algo que se tornaria regular nos filmes adiante). O desfecho do filme, por sinal, é o primeiro que termina oficialmente em nota de lamento. Que os pequenos já fiquem avisados – o mundo de Harry Potter está crescendo. Este filme, alias, recebeu a censura de PG-13 nos Estados Unidos (no Brasil, foi 10 anos) – enquanto os outros receberam classificações livres. De lutas com dragões, imersões em um mundo aquático misterioso, um labirinto maléfico e um encontro no cemitério sinistro, o filme denota um amadurecimento como obra de fantasia. Os patamares são outros.

Os aspectos técnicos continuam a impressionar. Os efeitos, alias, precisam estar melhores do que nunca – dadas as exigências da histórias – e certamente estão. Os cenários, por sua vez, tratam de ser o destaque. Grandiosa, detalhada e extraordinária, a cenografia é mesmo fantástica em todas composições. Talvez a única decepção "técnica" seja a trilha sonora. Marcando a saída de John Williams da série, o compositor Patrick Doyle tem seus acertos, mas falha ao criar uma música inteiramente consistente. Simplesmente não é memorável. O elenco continua a evoluir. Apesar do inconstante Daniel Radcliffe (que precisa amadurecer muito como ator), o resto nunca falha em agradar, apesar de Gambon exagerar um pouco na personificação desta vez. Os destaques agora são de Brendan Gleeson (que encara um dos mais excêntricos dos personagens) e Miranda Richardson, engraçadíssima. Não esquecendo, obviamente, de Alan Rickman. Em suma, o elenco é um dos aspectos da série que dificilmente decepcionam. Enfim, O Cálice de Fogo é a obra de maior "entretenimento" de todos os já lançados, com Mike Newell achando um foco e o compondo satisfatoriamente bem – mesmo que esteja bem longe do que Cuáron realizou no capítulo anterior. A tenso e divertido, e por ora, é mais do que o suficiente.