Crítica sobre o filme "Harry Potter e a Ordem da Fênix":

Wally Soares
Harry Potter e a Ordem da Fênix Por Wally Soares
| Data: 14/07/2009

Quem já leu o livro de J.K. Rowling sabe - "Harry Potter e a Ordem da Fênix" é gigante. É curioso então, que sua adaptação cinematográfica seja a menor de todos os filmes. O que dá a entender claramente que o filme não agradará aos fãs mais exigentes. Mas o roteiro acaba sendo um dos fortes do filme, já que a adaptação condensa muito bem os excessos que existem no livro mais complexo (e fraco) de Rowling. Curiosamente também, Steve Kloves deixou de assinar o roteiro, que agora é do roteirista de "Contato" e "Peter Pan", Michael Rosenberg. É perceptível que alguns elementos do filme não foram deixados muito claro para os que não acompanharam a série literária, mas no geral, os temas trabalhados neste capítulo serão aprofundados no próximo. "A Ordem da Fênix" é, alias, uma ponte. Como uma obra particular, ele funciona graças à seu forte entretenimento, ótima tensão e análise interessante sobre o abuso de poder. Mas, em suma, é um filme ligação, e não possui mais relevância do que deveria.

Se "Prisioneiro de Azkaban" e "Cálice de Fogo" prenunciaram que o pior estava por vir, "Ordem da Fênix" é a consolidação destes presságios. Muito dark e, no geral, bem mais maduro que os anteriores, é uma obra com uma linguagem cinematográfica própria, um enredo interessante e personagens que se destacam. O novo diretor, David Yates (britânico cuja filmografia é de filmes televisivos) compreende em que estado está o mundo dos bruxos, e cria uma atmosfera que faça jus. Então o filme é cheio de pesar, raiva e lamento. São, na verdade, exatamente as emoções que parecem correr por Harry Potter, com raiva pelo estado atual das coisas e em trauma pela morte que presenciou no anterior. Então não tem como reclamar que "Ordem da Fênix" foi longe demais em seu lado obscuro. Até porque o longa tem sim momentos de descontração. Um em especial traz o trio de jovens dando gargalhadas ao se verem metidos em conflitos amorosos. Um momento necessário quando todo o resto parece prezar pelo pessimismo.

O filme é também extremamente ágil. A boa edição e a fluidez do roteiro fazem com que a duração de pouco mais de duas horas seja rápida e prazerosa. E, enquanto isso, podemos nos deliciar com a direção expressiva de Yates, enquadramentos admiráveis e uma noção certa de personagem e enredo. É aquele caso raro em que o cineasta entende o que está sendo pedido dele, e entrega um trabalho à altura. Possui suas falhas. Uma das quais me veio como especial decepção, relacionada aos cavalos alados (que são criaturas que podem ser vistas apenas por quem presenciou a morte). Em certo momento do filme, personagens são obrigados a voarem em cima destes cavalos, e Yates falha ao focar a magia que poderia existir em voar em cima de algo invisível. Uma pena. Trata-se, porém, de uma das poucas decepções. O foco aqui, na maior parte do tempo, é na imposição do Ministério da Magia na escola de Hogwarts, em um abuso de poder que traz consigo uma inquisidora diabólica, interpretada por Imelda Staunton com precisão impecável. Além dela, Ralph Fiennes surge vingando sua promessa no filme anterior, em uma personificação do mal extremamente rica. Ao seu lado, a histericamente divertida e malvada Helena Bonham Carter encara a assassina perfeita. Alan Rickman, por sua vez, tem momentos de sobra para deliciar com seu estado irônico de ser.

A parte técnica continua no padrão: a cada capítulo que passa, mais perfeita se torna. Construindo a densa atmosfera, a fotografia é especial. Mas é a cenografia, que construiu um cenário extraordinário do Ministério da Magia, que merece os méritos. Ela, e os efeitos especiais estrondosamente deliciosos. E, após a decepcionante música do quarto, este quinto traz um desconhecido – Nicholas Hooper – fazendo um belo trabalho que não fica muito longe do feito por John Williams no terceiro capítulo. É uma trilha sonora cheia de ritmo, beleza e tensão. Quando chegamos na batalha final, no intimidante cenário do Ministério, não tem como não perder o fôlego. Além de ser o embate mais emocionante de todos os filmes, marca o início de uma nova era na série: a preparação para a guerra. E, após uma batalha tão fantástica quanto a que houve entre Dumbledore e Voldemort, só podemos esperar que seja uma guerra das mais incríveis. O filme termina com mais uma morte trágica (bem mais, diga-se de passagem), e enviando Harry Potter para um espiral mais pessimista e lamurioso. Mas a interessantíssima conversa final entre ele e Dumbledore, além de sintetizar o embate entre o bem e o mal, dá nova esperança à Harry - e à própria audiência - finalizando o filme com uma esperança.